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Linha Direta

Autópsia revela que o procurador argentino Alberto Nisman cometeu suicídio

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A autópsia revelou que o procurador federal argentino Alberto Nisman, 51, encontrado morto no domingo (18) em seu apartamento com um tiro na cabeça, cometeu suicídio. Mas, fora o governo e a base oficialista, ninguém acredita nessa hipótese. A morte, considerada política, levantou uma série de suspeitas. 

Milhares de pessoas desceram às ruas da capital argentina, com cartazes onde se lê "Eu sou Nisman, vão nos matar também?", em protesto contra o governo.
Milhares de pessoas desceram às ruas da capital argentina, com cartazes onde se lê "Eu sou Nisman, vão nos matar também?", em protesto contra o governo. REUTERS/Enrique Marcarian
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Nisman havia denunciado a presidente Cristina Kirchner e o seu ministro das Relações Exteriores, Hécto Timerman, por um suposto pacto com terroristas iranianos para encobrir o maior atentado da América Latina: o ataque à Associação Mutual Israelita Argentina, que, em 1994, deixou 85 mortos e mais de 300 feridos. O procurador foi encontrado morto um dia antes de apresentar detalhes e provas da sua denúncia contra a presidente na Câmara de Deputados.

A morte do procurador provocou comoção política e uma série de protestos populares na Argentina.Ao longo de toda a noite, os argentinos foram às ruas com cartazes "Eu sou Nisman", em alusão ao "Eu sou Charlie".

Possível indução ao suicídio

A promotora Viviana Fein divulgou que a autópsia é conclusiva: foi suicídio. Mas ela avisou que vai investigar se houve algum tipo de indução ao suicídio por meio de ameaças. Segundo os resultados do exame, não houve participação de outra pessoa no disparo - na parte lateral direita da cabeça _ e os dedos da mão do promotor estavam enrijecidos numa indicação de que ele mesmo disparou a arma.

O corpo foi encontrado na banheira junto com a arma calibre 22. A promotora disse ainda que, no apartamento, havia muito material com provas da denúncia que ele apresentaria no Congresso. Ela também deu algumas informações que levantaram suspeitas, como o fato de que o secretário de Segurança do governo, Sergio Berni, homem de confiança de Cristina Kirchner, já estava no apartamento quando a promotora chegou. E o juiz que vai investigar o caso também é um homem ligado ao governo.

Muitos acreditam em assassinato

Apesar da constatação de suicídio, muitos acreditam em assassinato ou em suicídio induzido por alguma ameaça. Uma hipótese é de que o governo estaria envolvido. Outra suposição seria a participação de alguém ligado ao Irã, já que o promotor acusava o governo argentino de "fabricar a inocência do Irã" no atentado. A terceira hipótese estaria ligada ao Serviço de Inteligência argentino, interessado em que o promotor não revelasse nenhum segredo.

De qualquer forma, a morte é considerada política, provocada pelo governo ou provocada para ser contra o governo. Enquanto não for esclarecida, e talvez nunca seja, o governo de Cristina Kirchner perde em legitimidade moral no campo internacional. O promotor Alberto Nisman sabia que corria risco de vida e tinha denunciado um aumento nas ameaças de morte.

Protestos em todo o país

Os protestos acontecem em todo o país. Mais do que de indignação, o clima é de consternação. Além da histórica Praça de Maio, em Buenos Aires, outros locais ficaram lotados de manifestantes. Nas esquinas das principais avenidas de Buenos Aires, nas janelas de diversos edifícios, nas praças de centenas de cidades do país e em frente à residência oficial de Olivos, onde Cristina Kirchner descansava, milhares de pessoas batiam panelas em protesto e erguiam cartazes "Eu sou Nisman".

Entre os manifestantes, existe a sensação de que o governo está relacionado com essa morte. Ninguém acredita em suicídio. No máximo, em suicídio induzido.

Reação de Cristina Kirchner

Cristina Kirchner usa e abusa da rede nacional de rádio e TV, mas, desta vez, usou um canal pouco usual para a sua defesa: uma carta publicada em seu perfil no Facebook. O texto é imenso e gira em torno dela e de como ela se relaciona com atentados. No que se refere ao promotor morto, Cristina Kirchner só o questiona, levanta suspeitas de uma conspiração dele com o grupo de comunicação "Clarín" contra o governo e dá a entender que acredita na hipótese de suicídio. Na carta, Cristina pergunta: "O que levou uma pessoa a tomar a terrível decisão de acabar com a sua vida?".

Já o presidente da delegação de Associações Judaicas Argentinas, Julio Schlosser, disse que a morte do promotor foi como uma nova bomba terrorista que explodiu e fez uma nova vítima do mesmo atentado de 20 anos atrás.As associações judaicas argentinas pediram para a Justiça resguardar as provas colhidas pelo promotor ao longo de anos de investigações.

Segundo essas investigações, o acordo entre a Argentina e o Irã incluía as exportações de produtos agro-pecuários argentinos em troca de petróleo iraniano para aliviar o déficit energético da Argentina. Mas, para que fosse possível um acordo comercial, a Argentina retiraria o pedido de captura internacional dos iranianos, emitido pela Interpol, e desvincularia totalmente o Irã das acusações.

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