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Peru usa castanha-do-brasil para ajudar na preservação da Floresta Amazônica

O Peru é o terceiro maior produtor mundial de castanha-do-brasil, atrás da Bolívia e do Brasil. Nos últimos anos, projetos de conservação, em parceria com os produtores na Amazônia, têm surgido para combater o desmatamento. Uma ideia ambiciosa que requer enfrentar vários desafios.

Os frutos das castanheiras podem ter até 30 castanhas.
Os frutos das castanheiras podem ter até 30 castanhas. © RFI / Juliette Chaignon
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Com a correspondente da RFI no Peru, Juliette Chaignon

Os frutos da castanha-do-brasil contêm até trinta castanhas, que, antes de serem consumidas, são secas e depois descascadas à mão para remover a fina casca que as envolve.

Todo ano, entre dezembro e março, os produtores de castanha-do-brasil, como Florencia, percorrem áreas de floresta, com machado na mão e botas de borracha nos pés. No caminho, é impossível não notar as castanheiras: as árvores podem chegar até 50 metros de altura. O tronco espesso de algumas castanheiras lembra que são antigas, com centenas de anos. Explorar essa madeira é ilegal no Peru.

"Vamos nos afastar da árvore, as cascas de castanha caem de muito alto e pode ser perigoso", avisa Florencia, ajustando o capacete amarelo na cabeça. Dentro dos frutos, recolhidos do chão, estão entre 20 e 30 castanhas. "Para abrir as cascas, sempre nos sentamos no chão", diz Florencia, tomando cuidado para não cruzar o caminho das formigas "bala de fuzil", conhecidas por picadas dolorosas.

Com alguns golpes de machado, a casca se abre e libera as castanhas, das quais ainda é necessário remover uma fina casca. "Essas castanheiras são naturais, são árvores selvagens. Uma bênção de Deus. Aqui, não há árvores que plantamos", explica Florencia, produtora de castanhas desde os anos 2000 na região de Madre de Dios, perto das fronteiras boliviana e brasileira.

"Créditos de carbono" contra o desmatamento

Para resistir, as castanheiras precisam de um ecossistema saudável, sem desmatamento ou queimadas agrícolas. Derrubar árvores ao redor de uma castanheira a expõe, por exemplo, de maneira ampliada ao vento e afeta a produção.

Desde os anos 2000, vários projetos de combate ao desmatamento foram implementados em colaboração com castañeros (o nome espanhol para os produtores de castanha-do-brasil). Um dos mais importantes é o da empresa Bosque Amazônicos (BAM) em parceria com a Feprocamd, que reúne hoje 700 produtores de castanha na região de Madre de Dios. A colaboração rendeu frutos cerca de dez anos após a assinatura do contrato.

Desde 2020, a venda de créditos de compensação de carbono pela empresa permite remunerar os castañeros. A BAM repassa hoje 50% da venda dos créditos de carbono à federação, totalizando US$ 10 milhões desde o início do programa.

Dessa forma, Florencia recebe milhares de euros por ano em troca da preservação de sua área. "Pelo menos, não trabalho cortando madeira", assegura a produtora, que sempre teve que complementar sua renda, já que a castanha oferece apenas uma colheita por ano.

A BAM afirma proteger 500 mil hectares do desmatamento na região de Madre de Dios, sujeita ao tráfico de madeira e à mineração ilegal. Números superestimados, de acordo com várias fontes que apontam falhas no controle e na regulamentação de tal extensão.

Uma economia dependente das exportações

A castanha é uma cultura mais sustentável do que outras por natureza, afirma Miguel Samayoa, presidente de uma associação de 50 produtores de castanha orgânica. "Os produtores com idades entre 50 e 80 anos têm realmente a cultura da conservação. O problema é a nova geração. Hoje, muita madeira está saindo das concessões de castanha porque há um mercado do outro lado e a venda gera um lucro imediato", lamenta.

A gestão das áreas depende da economia. Segundo o Ministério da Agricultura peruano, quase 20% da população obtém renda direta ou indiretamente da castanha. Apesar do aumento geral no preço da castanha desde os anos 2000, o valor permanece instável e ligado à demanda de países estrangeiros.

No ano passado, o Peru exportou 5.500 toneladas da fruta no valor de US$ 40 milhões. Um volume em alta, impulsionado pela recente demanda sul-coreana, mas um valor total em baixa. Para Miguel Samayoa, a castanha peruana precisa de um marketing mais ofensivo para impulsionar a demanda.

Associação colaborativa

Como muitos produtos agrícolas, as castanhas passam pelas mãos de intermediários antes de chegar às prateleiras. Para contornar isso, uma associação, Ascartt, criada em 2001, reúne os produtores de castanha da reserva de Tambopata. "É a única associação na região que realiza a colheita, embala, armazena e comercializa o produto", explica Judith Waiwa, administradora da associação.

Na fábrica, as castanhas são secas, descascadas à mão e depois exportadas em sacos de 80 kg ou em pacotes de 250 gramas ou 1 kg. A Ascartt também trabalha na valorização dos produtos derivados da castanha.

Com a empresa local Shiwi, são criadas novas linhas de produtos: lascas de castanha com ervas finas, pepitas de castanha, sempre na intenção de diversificar as receitas. Mas os produtores agora enfrentam um novo desafio: as mudanças climáticas, que já está reduzindo os rendimentos das castanheiras.

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