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Crise entre Quito e Cidade do México: diplomatas mexicanos deixam o Equador

A equipe diplomática mexicana sediada em Quito deixou o Equador neste domingo (7), dois dias após o ataque policial à embaixada mexicana que provocou condenação internacional e o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. Os diplomatas e membros de suas famílias embarcaram em um voo comercial depois de serem acompanhados ao aeroporto pelos embaixadores da Alemanha, Panamá, Cuba e Honduras, de acordo com o ministério.

A polícia equatoriana mostra o ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas sendo escoltado por membros do Grupo Especial de Ação Penitenciária (GEAP) durante sua chegada à prisão de segurança máxima La Roca, em Guayaquil, em 6 de abril.
A polícia equatoriana mostra o ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas sendo escoltado por membros do Grupo Especial de Ação Penitenciária (GEAP) durante sua chegada à prisão de segurança máxima La Roca, em Guayaquil, em 6 de abril. AFP - HANDOUT
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"Nossa equipe diplomática está deixando tudo para trás no Equador e voltando para casa de cabeça erguida (...) após o ataque à nossa embaixada", escreveu a ministra das Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, na rede social X (antigo Twitter) neste domingo (7).

A incursão sem precedentes da polícia equatoriana na embaixada mexicana em Quito para prender o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas, que havia se refugiado lá acusado de corrupção, provocou uma enxurrada de críticas desde sexta-feira.

Imediatamente após o ocorrido, o México anunciou que estava cortando relações diplomáticas com o Equador, seguido pela Nicarágua.

A invasão foi condenada pelos governos de esquerda da América Latina, do Brasil à Venezuela, incluindo o Chile e até mesmo a Argentina do presidente ultraliberal Javier Milei, bem como pela Organização dos Estados Americanos, a União Europeia e a Espanha.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ficou "alarmado" e disse que qualquer violação dos fóruns diplomáticos compromete "a busca de relações internacionais normais", de acordo com seu porta-voz.

Os Estados Unidos - que condenaram "qualquer violação da Convenção de Viena" - incentivaram o México e o Equador a "resolver suas diferenças de acordo com as normas internacionais". Essa convenção de 1961 estipula que as embaixadas e os consulados "são invioláveis".

A presidente de Honduras, Xiomara Castro, que ocupa a presidência temporária da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), convocou uma reunião de emergência na segunda-feira.   

"Fora do comum"

Numerosos países e organismos internacionais, como a ONU e a OEA, criticaram duramente o Equador após o ataque policial à Embaixada do México em Quito para deter o ex-vice-presidente Jorge Glas. O Equador respondeu que a operação era necessária ante o risco de fuga de Glas, refugiado desde dezembro e requerido pela justiça equatoriana por "corrupção".

O presidente mexicano Andres Manuel Lopez Obrador denunciou uma "violação flagrante do direito internacional e da soberania do México" e disse que pretendia levar o caso à Corte Internacional de Justiça.

Glas, 54, foi transferido no sábado para uma prisão de alta segurança em Guayaquil (sudoeste do Equador), de acordo com fontes do governo.

Imagens publicadas na mídia local mostraram o chefe da missão diplomática mexicana, Roberto Canseco, gritando "isso é um ultraje" enquanto corria atrás dos veículos que saíam da embaixada. Houve uma debandada, durante a qual Canseco caiu no chão.

"Isso é totalmente fora do comum, estou muito preocupado que eles possam matar Jorge Glas", disse Canseco a uma estação de televisão local, ainda tremendo.  

"Ilegal"

Na sexta-feira, o México concedeu asilo a Jorge Glas, que está refugiado em sua embaixada em Quito desde 17 de dezembro e é alvo de um mandado de prisão por suposta corrupção.

Quito descreveu essa decisão como "ilegal", denunciando um "abuso das imunidades e privilégios" concedidos à embaixada e interferência em seus assuntos internos. "Jorge Glas é objeto de uma sentença executória e de um mandado de prisão emitido pelas autoridades competentes", comentou o Ministério das Comunicações do Equador.

A concessão de asilo a Glas ocorreu um dia depois que o Equador decidiu expulsar a embaixadora mexicana em Quito, Raquel Serur, após críticas do presidente mexicano à condução das eleições presidenciais de 2023 no Equador.

Na quarta-feira, ele acusou as autoridades equatorianas de explorar o assassinato do candidato da oposição Fernando Villavicencio em 9 de agosto de 2023 para favorecer a eleição do liberal Daniel Noboa, em detrimento da candidata de esquerda Luisa González.

Fernando Villavicencio foi morto a tiros após um comício de campanha no norte de Quito, alguns dias antes da eleição, em 20 de agosto.

O governo equatoriano, que está lutando contra as gangues criminosas que competem nas rotas do tráfico de drogas, considerou suas observações ofensivas.

Jorge Glas, vice-presidente entre 2013 e 2017 do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), é acusado de desviar fundos públicos destinados à reconstrução de cidades costeiras após um terremoto em 2016.

Ele já havia sido condenado em 2017 a seis anos de prisão por corrupção em um grande escândalo envolvendo a gigante brasileira da construção Odebrecht. Ele foi libertado em novembro passado.

(Com AFP)

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