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Padres pedófilos da Espanha foram enviados para a Bolívia, onde continuaram a abusar de menores

A primeira associação nacional de vítimas de pedofilia da Igreja Católica na Bolívia acaba de ser criada. Sob o nome de Comunidade Boliviana de Sobreviventes de Abuso Sexual Eclesial, a organização pretende se estabelecer como um espaço seguro onde as vítimas possam compartilhar suas histórias para seguir em frente com suas vidas e, ao mesmo tempo, acabar com a impunidade. Já são 500 pessoas afetadas que falam pela primeira vez após décadas de silêncio.

Membros de organizações de defesa dos direitos da criança protestam contra casos de pedofilia cometidos por padres católicos nas últimas décadas em Cochabamba, Bolívia, em 25 de maio de 2023. O país está chocado com revelações na imprensa sobre abusos cometidos desde a década de 70 pelo falecido padre jesuíta espanhol Alfonso Pedrajas contra mais de 80 menores.
Membros de organizações de defesa dos direitos da criança protestam contra casos de pedofilia cometidos por padres católicos nas últimas décadas em Cochabamba, Bolívia, em 25 de maio de 2023. O país está chocado com revelações na imprensa sobre abusos cometidos desde a década de 70 pelo falecido padre jesuíta espanhol Alfonso Pedrajas contra mais de 80 menores. AFP - FERNANDO CARTAGENA
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Natalia Olivares, da RFI

A cada dia mais vítimas são acrescentadas à lista de pessoas abusadas ​​sexualmente no país por padres católicos.

“A Comunidade Boliviana de Sobreviventes de Abuso Sexual Eclesial nasceu da necessidade de organização. No início de maio o jornal El País trouxe à luz o diário de um pedófilo. Com isso, toda uma série de abusos sexuais de um padre no internato Juan 23 veio à tona. Os jesuítas abriam habilmente canais de escuta para capturar as vítimas. Muitos foram cooptados pelo trabalho. Durante todo este tempo, os jesuítas estavam habituados a resolver as coisas por debaixo da mesa”, explica à RFI o presidente da associação, Wilder Flores.

O padre espanhol Alfonso Pedrajas confessou ter abusado de cerca de 85 menores entre as décadas de 1960 e 2000. O jesuíta morreu e nunca teve de responder à Igreja Católica ou à Justiça. Mas, depois do escândalo revelado pelo jornal El País, a Bolívia iniciou uma investigação.

“O segundo agressor, Francesc Peris, foi processado criminalmente na Espanha e levado para a Bolívia, onde foi nomeado diretor do internato onde cometeu mais crimes. Depois, outro caso que temos muito grave, é o do padre Luis Tó. Ele foi condenado criminalmente por estuprar uma menina de oito anos na Espanha. E mesmo assim foi mandado para cá, o levaram para Alto de La Paz. Ele foi colocado como responsável pela formação catequista das crianças, dos noviços, como responsável pela moral e pela ética sexual”, explica Flores sobre as pelo menos quatro décadas de abusos sexuais reconhecidos e encobertos pela Igreja.

“Quando tudo isso aconteceu conosco éramos crianças de 12, 13, 14, 15, até 16 anos no máximo. Então, para quem você vai contar? Quem vai acreditar em você quando você pensa que é o único? Estávamos sob sua responsabilidade absoluta. Eles substituíam a figura paterna, a autoridade paterna. Eles exerciam todo o poder sobre nós. Então, como denunciar? Quem acreditaria em nós? Foi muito complicado”, lembra Wilder Flores à RFI.

Mais de 200 mil menores podem ter sido vítimas de violência sexual por parte de religiosos na Espanha, segundo uma estimativa publicada em outubro por uma comissão independente de inquérito sobre a pedocriminalidade na Igreja Católica.

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