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“Me expulsaram por falar dos casos de pedofilia”, diz padre que denunciou Igreja Católica na Bolívia

A Bolívia investiga casos de pedofilia na Igreja Católica, depois de revelações de abusos sexuais cometidos por um padre espanhol e acobertados pelo clero. A RFI conversou com Pedro Lima, um ex-religioso que sofreu represálias, por revelar os crimes, de dois superiores da Companhia de Jesus, um deles ligado à direção da ordem no Vaticano.

A Igreja Católica da Bolívia está sendo investigada após denúncias de casos de pedofilia. Imagem de ilustração.
A Igreja Católica da Bolívia está sendo investigada após denúncias de casos de pedofilia. Imagem de ilustração. AFP/Archivos
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Pedro Lima, que vive atualmente no Paraguai, está na Bolívia para testemunhar nas investigações do Ministério Público boliviano sobre os crimes cometidos por religiosos católicos.

Ele foi jesuíta entre 1992 e 2001. Passou como noviço e professor em várias cidades (Oruro, Cochabamba e Sucre). Em todas elas, conta que foi testemunha dos abusos. Lima, que testemunhou perante o Ministério Público na segunda-feira (22), acusou três jesuítas de encobrir os supostos abusos que presenciou no final dos anos 1990, em Sucre, capital constitucional do país, quando era professor da ordem.

"O problema é que eu falei sobre os casos. Eles me disseram que a roupa suja se lava em casa (...) A resposta foi que me expulsaram", disse à RFI.

Pedro Lima denuncia Marcos Recolons, na época um alto funcionário da ordem na Bolívia, que poucos anos depois ascenderia ao topo da ordem no Vaticano. “Recolons me ligou para dizer que a Companhia de Jesus estava me sancionando e cortando meu financiamento [dos estudos] porque eu ficava falando sobre os casos de pedofilia. Foi uma forma de me silenciar”, afirma.

“Sabemos que ainda existem casos muito graves, que a opinião pública desconhece, mas vamos nos manifestar para que também possam ser conhecidos”, diz Lima.

Lima revela estes casos, 22 anos depois, motivado pelo escândalo de pedofilia que abalou a Bolívia esta semana.

O Vaticano enviou à Bolívia um dos principais investigadores de crimes sexuais da instituição, Monsenhor Jordi Bertomeu, para apurar as denúncias de pedofilia.

O papa Francisco respondeu ao pedido do presidente Luis Arce, que enviou uma carta ao sumo pontífice pedindo uma revisão dos antecedentes de todos os religiosos estrangeiros que entraram em seu país.

A Conferência Episcopal Boliviana afirmou que a visita de Bertomeu não está diretamente relacionada com as recentes denúncias, mas que foi planejada anteriormente para analisar “os avanços no campo da cultura de prevenção” promovidos pelo Vaticano. No entanto, atualmente, o especialista se concentra em investigações relacionadas ao tema.

Bertolomeu chegou na Bolívia vindo do Paraguai, onde investigava acusações semelhantes contra autoridades da Igreja local. O especialista já havia comandado, em 2018, uma investigação sobre abusos cometidos por padres contra menores no Chile.

Escândalo

O jesuíta espanhol Alfonso Pedrajas, conhecido como “Pica”, falecido em 2009, está na origem do escândalo. Um diário do padre contendo confissões de abusos de crianças foi publicado após sua morte. As autoridades bolivianas investigam se outros funcionários da Igreja Católica no país também estão envolvidos.

O sobrinho de Pedrajas encontrou, no computador do tio, um diário de 300 páginas no qual ele confessava ter abusado sexualmente de dezenas de menores na década de 1970.

Segundo os textos privados, acessados ​​pelo jornal espanhol El País, Pedrajas teria abusado de cerca de 85 menores em internatos católicos na Bolívia, nas décadas de 1970 e 1980.

Uma das confissões mais chocantes registradas no diário diz respeito ao fato de Pedrajas ter escrito que havia falado com seus superiores sobre o que havia feito, mas eles nada fizeram a respeito.

Depois que a informação foi divulgada pelo jornal espanhol em abril passado, surgiram denúncias de ex-alunos sobre outros casos de abuso sexual em escolas dirigidas por religiosos na Bolívia, incluindo jesuítas, mas também dominicanos, franciscanos e outras ordens da Igreja Católica.

Nos últimos anos, diversos países da Europa e da América denunciaram milhares de abusos sexuais cometidos por padres, bispos ou outros membros do clero católico.

Em muitos dos casos, os investigadores indicaram que se tratava de crimes recorrentes, acobertados por anos.

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