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EUA: Destituição de presidente da Câmara dos Representantes escancara guerra entre republicanos

O republicano Kevin McCarthy, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, foi destituído nesta terça-feira (3) por congressistas do seu próprio partido, em uma votação histórica no Congresso pelo ineditismo da manobra política. McCarthy foi acusado de ajudar os adversários democratas.

O republicano Kevin McCarthy não perdeu o sorriso, apesar da manobra de trumpistas linha-dura que manobraram para sua destituição do cargo de presidente da Câmara de Representantes dos EUA.
O republicano Kevin McCarthy não perdeu o sorriso, apesar da manobra de trumpistas linha-dura que manobraram para sua destituição do cargo de presidente da Câmara de Representantes dos EUA. © Jonathan Ernst / Reuters
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Pela primeira vez em 234 anos de história, a Câmara apoiou uma resolução "para a vacância do cargo de presidente da Casa", por 216 votos a 210, preparando o terreno para uma disputa sem precedentes para substituir seu porta-voz, um ano antes da eleição presidencial americana.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, expressou o desejo de que a Câmara eleja rapidamente um novo líder, "porque os desafios urgentes que nossa nação enfrenta não irão esperar", declarou a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.

McCarthy, um ex-empresário de 58 anos, havia aborrecido os conservadores no último fim de semana, ao aprovar uma medida temporária bipartidária, apoiada pela Casa Branca, para evitar a paralisação dos serviços federais.

O conservador da Flórida Matt Gaetz, que pressionou pelo voto de destituição de McCarthy, apostou que conseguiria derrubar o presidente da Câmara com o apoio de alguns poucos republicanos, ajudados pela relutância dos democratas em salvar o presidente da Casa, que abriu recentemente uma investigação de impeachment altamente politizada contra o presidente Joe Biden.

Por algum tempo, McCarthy pensou que conseguiria salvar sua cabeça, esperando que os cálculos políticos prevalecessem e que ele conseguiria fazer com que os democratas o apoiassem, mesmo que apenas por pouco, em troca de concessões.

"Cabe ao Partido Republicano pôr fim à guerra civil republicana na Câmara", disse o líder democrata Hakeem Jeffries em uma carta, após uma longa reunião com sua bancada na terça-feira. "Há inúmeras razões para deixar os republicanos lidarem com seus próprios problemas. Deixe-os chafurdar na lama de sua incompetência e de sua incapacidade de governar", disse a implacável deputada progressista Pramila Jayapal.

Os republicanos foram alertados de que poderiam mergulhar o partido "no caos". Entretanto, Gaetz, que reclamou reiteradamente do fracasso de McCarthy em honrar os acordos feitos com deputados de extrema direita pró-Trump, replicou: "O caos é o presidente McCarthy. Caos é alguém em cuja palavra não podemos confiar."

'Vou continuar lutando'

Apesar da destituição, McCarthy apareceu com um sorriso diante da imprensa no final do dia "para dizer a verdade" e expressar orgulho pelo trabalho que realizou desde janeiro nesse cargo cobiçado. A conversa, excepcionalmente longa, teve ares de terapia, "uma forma de liberação", relatou o correspondente da RFI em Washington, Guillaume Naudin.

McCarthy não escondeu uma certa dose de ressentimento contra aqueles que o forçaram a entregar o martelo de presidente da Câmara. "Precisamos de 218 votos. Infelizmente, 4% dos membros do nosso grupo podem se unir a todos os democratas e ditar quem pode ser o presidente republicano da Câmara. Não acho que essa regra seja boa para a instituição, mas aparentemente sou o único. Acho que posso continuar lutando, talvez de outra forma. Não vou me candidatar a presidente da Câmara novamente. Deixarei que o grupo escolha outra pessoa."

Desde sua eleição arrancada a fórceps em janeiro, McCarthy era pressionado pela ala trumpista radical do partido, composta por um pequeno grupo de deputados. McCarthy acusou Gaetz de semear o caos para arrecadar dinheiro de seus apoiadores para a campanha eleitoral.

"Todos nós conhecemos Matt Gaetz. Isso não tem nada a ver com suas acusações. Tudo o que ele quer é atenção. Já estamos recebendo e-mails pedindo doações para ele por causa disso", disse o parlamentar destituído, reportou o correspondente da RFI em Miami, David Thomson.

Meses na corda bamba

O presidente da Câmara dos Representantes é o segundo na linha de sucessão da Presidência americana. Assim como muitos congressistas, McCarthy criticou Donald Trump após os distúrbios no Capitólio em 2021, mas logo recuou e viajou à Flórida para fazer as pazes com o magnata, garantindo um apoio crucial para suas ambições como presidente da Câmara.

Quando ele conseguiu o que queria, enfrentou uma realidade desconfortável: seu controle do poder ficou à mercê dos republicanos linha-dura.

McCarthy teve uma briga em maio com o presidente Joe Biden sobre o aumento do teto da dívida do país. Conseguiu um acordo de última hora para evitar o default e, embora tenha considerado a negociação como uma vitória dos conservadores, precisou enfrentar a ala radical, que o criticou por ter feito muitas concessões em matéria de gastos públicos.

Os conservadores se incomodaram com o que viram como um revés de McCarthy, que havia prometido o fim da legislação provisória acordada às pressas com o apoio do partido da oposição e um retorno ao orçamento por meio do processo da comissão.

O embate interno acontece dois dias depois de a Câmara dos Representantes e o Senado terem aprovado, por maioria bipartidária em ambos os casos, uma medida para evitar um custoso "shutdown" do governo, ao prolongarem o financiamento federal até meados de novembro.

Desconfiança

O compromisso limitado de McCarthy com os democratas voltou a irritar a extrema direita na semana passada, quando ele usou os votos do partido rival para evitar a paralisação do governo. Liderando as críticas estava o congressista Matt Gaetz, um adversário antigo.

"Kevin McCarthy caiu hoje porque ninguém confia nele", declarou Gaetz após a votação. "McCarthy fez várias promessas contraditórias. Quando todas foram cumpridas, perdeu."

Como exemplo das divergências entre os republicanos, os representantes conservadores se revezaram no plenário para defender e criticar McCarthy, uma demonstração pública das disputas internas que provocou a reação de Donald Trump.

"Por que os republicanos passam o tempo todo discutindo entre si? Por que não lutam contra os democratas radicais de esquerda que destroem o nosso país?", questionou o magnata em sua plataforma, Truth Social.

Com informações da AFP

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