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"Virou uma palhaçada!": americanos se rebelam contra a obrigação de deixar gorjetas

Nos Estados Unidos, o sistema de gorjetas é geralmente um quebra-cabeças para os turistas e uma obrigação nos restaurantes. Mas, diante da alta inflação e do aumento de preços, cada vez mais os americanos se questionam no momento de deixar o "tip", um hábito que vem pesando no bolso da população.

Uma garçonete atende dois clientes no restaurante Zazie, em São Francisco, no oeste dos Estados Unidos, em 27 de agosto de 2014.
Uma garçonete atende dois clientes no restaurante Zazie, em São Francisco, no oeste dos Estados Unidos, em 27 de agosto de 2014. ASSOCIATED PRESS - Michael Macor
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Com informações de Loubna Anaki, correspondente da RFI em Nova York, e da AFP

Entre os clientes de restaurantes e os garçons, a prática não é questionada: para os americanos é normal deixar entre 15% e 20% do valor total em gorjeta após uma refeição. O salário de quem trabalha neste setor é basicamente pago desta forma. No entanto, nos últimos tempos, o costume de dar um "tip" vem sendo adotado em locais inesperados, como floriculturas, mercearias e até em máquinas eletrônicas.

"Você tem que deixar gorjeta em qualquer lugar: seja no açougue, ou se você compra um café ou pega um bagel para levar, por tudo!", reclama Sam Morgan, em entrevista à RFI. "Está virando uma palhaçada! Por exemplo, se vou me depilar, tenho que deixar entre US$ 20 e US$ 30 de gorjeta. É inacreditável", reitera. 

A opinião de Sam não é uma exceção. Os americanos dão sinais de cansaço perante a tradição. Diante dos preços cada vez mais altos e uma inflação galopante, especialistas alertam para a generalização de uma prática abusiva, em um momento em que a população não sabe mais onde é preciso deixar essa espécie de gratificação e o valor dela. 

"Se estamos em um restaurante, é claro que vou dar gorjeta. Mas quando compramos algo para levar, por exemplo, é estranho", testemunha outra americana. 

Gorjetas em máquinas eletrônicas

O questionamento aumentou desde a pandemia de Covid-19, quando vários estabelecimentos e lojas se equiparam de máquinas eletrônicas para evitar o contato direto com o cliente. O problema é que os aparelhos propõem automaticamente a opção da gorjeta, qualquer que seja o serviço. 

"Em qualquer lugar que conte com um sistema de pagamento eletrônico, você se sente obrigado a deixar o 'tip'. Acho esse sistema muito agressivo", reclama um homem. 

Segundo Dipayan Biswas, professor de marketing da Universidade da Flórida do Sul, o sistema tem o objetivo de fazer o cliente se sentir culpado. Nas máquinas, por exemplo, é preciso clicar na opção "não deixar gorjeta". "Isso deixa as pessoas envergonhadas, elas se sentem mal", afima.

A estratégia funciona com muitas pessoas. A advogada americana Hannah Koban admite "dar muito mais gorjeta do que antes". Segundo ela, a sugestão de deixar uma gratificação pelo serviço "pressiona" o cliente a contribuir às vezes com um valor que ultrapassa até 30% do total. Isso faz com que Koban esteja sempre procurando informações na internet sobre o momento e o valor apropriado do "tip".

Salário justo aos garçons e garçonetes 

Mesmo se sentindo cansados de uma tradição que julgam cada vez mais abusiva, os americanos dizem compreender as dificuldades de garçons e garçonetes, cujos salários dependem em grande parte das gorjetas. Muitos defendem a necessidade de reformar o sistema. 

Em algumas cidades, mudanças começam a ser realizadas. A capital Washington, por exemplo, impõe desde novembro do ano passado o pagamento de um salário mínimo aos profissionais pagos com o "tip". 

Mas Saru Jayarama, presidente da associação One Fair Wage, acredita que é preciso fazer mais e defende uma remuneração justa a garçons e garçonetes. "Se estamos cansados de ter que deixar gorjeta em todos os lugares, vamos nos unir ao movimento contra os salários baixos", convoca. 

Desde a recrudescência da pandemia de Covid-19, os restaurantes vivem uma "verdadeira revolução", garante Jayarama, lembrando das "demissões em massa" de profissionais do setor. Ao mesmo tempo, vários outros tipos de estabelecimentos tentam impor a cultura do "tip" para se beneficiar do acesso a uma mão de obra gratuita, lamenta. 

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