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Brasil-Mundo

“Tive que me reinventar por causa da pandemia”, diz dono de restaurante brasileiro em Miami

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As medidas sanitárias adotadas pelas autoridades americanas provocaram o fechamento e a reabertura parcial de vários restaurantes em Miami, o que levou muitos empresários a buscar soluções para manter seus negócios funcionando. O paraibano Jaciel Santos se adaptou à crise com criatividade e aproveitou o período para repensar sua atividade e melhorar a gestão de seu restaurante. 

O paraibano Jaciel Santos se adaptou à crise com criatividade e aproveitou o período para repensar sua atividade e melhorar a gestão de seu restaurante.
O paraibano Jaciel Santos se adaptou à crise com criatividade e aproveitou o período para repensar sua atividade e melhorar a gestão de seu restaurante. © Elcio Ramalho/RFI
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Em março, quando foi decretado o lockdown no estado da Flórida, sua churrascaria de Miami, que recebia em média 180 pessoas por dia, foi obrigada a suspender as atividades. “Tive que honrar meus compromissos mesmo com o restaurante fechado. Tivemos que nos reinventar. Comecei a trabalhar com delivery, o que não fazia antes”, lembra o empresário.

A reabertura no mês de maio foi temporária, porque no mês seguinte os restaurantes foram novamente obrigados a fechar as portas, mas autorizados a atender os clientes na parte externa.  “Colocamos mesas lá fora e passamos a servir rodízio de carnes na calçada”, conta.

Apesar dos esforços, teve que cortar custos e reduziu o número de funcionários de 25 para oito. A pandemia também atrapalhou os planos de abrir uma loja de produtos brasileiros, que foi acomodada provisoriamente numa sala do primeiro andar do restaurante.

“Eu nunca penso em desistir, mas tive que me reinventar. Essa pandemia veio par mostrar que é preciso se reinventar, perceber o que estava fazendo de errado e consertar. É um período de reflexão, de parar, repensar a perspectiva do negócio. Estou percebendo que de agosto, setembro e outubro estamos em uma ascendente e isso é alentador”, comenta. 

De lavador de pratos a dono de restaurante

Adaptação e resiliência não faltaram para Jaciel desde quando chegou aos Estados Unidos, há 19 anos. Ele veio direto de João Pessoa para Miami, onde chegou com apenas US$ 30 no bolso e com a intenção de ficar 10 dias caso não conseguisse trabalho. Mas já no segundo dia encontrou emprego de lavador de pratos em um restaurante brasileiro e resolveu ficar no país, mesmo em situação irregular. Foram dois anos trabalhando também de madrugada na limpeza de outro restaurante para conseguir se sustentar e guardar dinheiro. 

“Durante dois anos lavava panelas, pratos e depois fui promovido para lavar louça em uma máquina, fiquei todo feliz”, lembra. “Depois aprendei a preparar saladas, pratos quentes, e me tornei chefe de cozinha, mas sempre com a intenção de abrir meu próprio negócio”, conta.

Em 2010, no encontro com um amigo de São Paulo, ele o convenceu a investir na sua ideia. “Já tinha um logo para meu restaurante, o mapa do Brasil em forma de carne. Se eu tenho um logo, vou ter o restaurante”.

Foram quase dois anos de reformas para abrir o sonhado restaurante de dois andares em uma área que estava meio abandonada no centro do condado de Miami Dade. A inauguração em 2013, com quase 160 pessoas, mostrou que podia contar com o apoio da comunidade brasileira e latino-americana.

“Cheguei com 30 dólares no bolso, sem saber o que comer e dormindo dois meses no chão. Eu percebi que se eu trabalhasse forte, guardasse meu dinheiro, poderia vencer.  Enquanto as pessoas iam para a praia, eu ia para livrarias ler as histórias de Warren Buffet, Henry Ford. Eu queria saber o que esses caras fizeram para ter sucesso. Eles eram meus mentores. Não existe uma fórmula de sucesso, mas se seguir esses passos, existe uma grande possibilidade de você se destacar”, filosofa.

“Hoje somos o número 1 de steak houses em Miami e o quarto lugar de quase 4 mil restaurantes”, diz orgulhoso em referência a um site de notação de restaurantes.

Visita do presidente do Brasil

Jaciel, 47 anos, recebe em seu restaurante uma clientela diversificada e tem no histórico a presença de celebridades das artes e de esportes como o ex-jogador de futebol Ronaldinho. No entanto, sua melhor recordação é da visita do presidente Jair Bolsonaro, que durante passagem por Miami, em março, almoçou no local com sua comitiva. A escolha do restaurante o surpreendeu, assim como as medidas de segurança a que ficou submetido.

O paraibano foi investigado pelo FBI e pelo serviço de inteligência brasileiro, que fizeram uma verdadeira varredura no local para ver se era seguro. Sua vida pessoal também foi vasculhada assim como seu comportamento com clientes e funcionários, para saber se poderia identificar eventuais suspeitos.

Aprovado no teste, seu restaurante acolheu a comitiva de 40 pessoas, formada também por ministros de Estado e de um senador americano. O almoço rendeu grande publicidade para seu restaurante e um orgulho pessoal. “Foi muito especial para mim receber a visita do presidente do meu país[n1] , foi um prestígio e um privilégio. É como se você recebesse na cozinha da sua casa. Fiquei muito feliz, como pessoa e como empresário”, diz.

 

 


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