Bolívia é palco de disputa nas ruas pelo lucrativo mercado da coca
Os confrontos entre produtores de coca e a polícia são frequentes há quase um mês nos bairros populares de Villa El Carmen e Villa Fatima, em La Paz, capital boliviana. O assunto ganhou destaque no jornal Le Figaro desta segunda-feira (29).
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Os bolivianos mascam ou tomam chá de coca todos os dias em cerimônias religiosas ou situações comuns. A chamada “folha sagrada” é cultivada por cerca de 70 mil famílias e envolvem pessoas responsáveis pelo transporte e a comercialização - grupo que tem um importante peso político.
Os números não são claros sobre a produção de coca na Bolívia. A agência da ONU contra a droga e o crime organizado estima que a coca renda, nos mercados formais, entre US$ 365 milhões e US$ 449 milhões. Mas o mercado informal é a regra e estima-se que metade das culturas passe por canais não regulamentados e seja destinada ao narcotráfico.
A produção e comercialização da coca é assunto de estado na Bolívia. Até então, apenas dois sindicatos controlavam o mercado da planta: Adepcoca e o de Chapare, na região central do país. Mas uma cisão na chefia do sindicato dividiu a Adepcoca, que tem sede em Villa Fatima. A dissidência gerou um novo sindicato.
O surgimento de um novo espaço para administrar o lucrativo mercado da coca levou o conflito às ruas. “Quando o governo diz que é um conflito interno, não é verdade”, diz Huascar Pacheco, pesquisador. “Há regras claras que precisam ser respeitadas”, explica. “É uma estratégia do governo há uns dez anos: quando uma organização social atrapalha, o partido no poder cria uma direção paralela”, acrescenta.
Coca e poder
O pesquisador e a maioria da mídia boliviana acusam os dirigentes do novo sindicato de serem partidários de Luis Arce, atual presidente. A produção de Chapare é dirigida pelo ex-presidente Evo Morales, de quem Arce é próximo e foi ministro da Economia. Um advogado do sindicato Adepcoca estima que o ex-presidente queira chegar à chefia da organização sindical sediada em La Paz,para apagar pistas do que se passa em Chapare – onde 94% da produção não passa pelo mercado oficial e é tido como um dos núcleos do narcotráfico.
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