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Argentina quer ser a voz da América Latina na Cúpula do G7 e a substituta da Rússia em energia e alimentos

Na sua participação na reunião de Cúpula do G7 nesta segunda-feira (27), o presidente argentino, Alberto Fernández, quer ser o porta-voz da América Latina contra a guerra que "acontece no Norte, mas afeta o Sul" e quer instalar a Argentina como substituta do gás russo para a Europa e de alimentos ao mundo. Para isso, vai pedir às maiores economias globais que invistam na Argentina como um fornecedor estável e confiável.

Da esquerda, Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul, Alberto Angel Fernández, Presidente da Argentina, Markus Soder (CSU), Ministro-Presidente da Baviera, Narendra Modi, Primeiro Ministro indiano e Macky Sall, Presidente do Senegal em Munique, Berlim, domingo, 26 de junho de 2022.
Da esquerda, Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul, Alberto Angel Fernández, Presidente da Argentina, Markus Soder (CSU), Ministro-Presidente da Baviera, Narendra Modi, Primeiro Ministro indiano e Macky Sall, Presidente do Senegal em Munique, Berlim, domingo, 26 de junho de 2022. AP - Tobias Hase
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Por esse potencial, o presidente argentino Alberto Fernández foi o único convidado da América Latina pelo chanceler alemão Olaf Scholz, anfitrião do evento.

Na presidência rotativa do grupo que reúne também França, Itália, Reino Unido, Japão, Estados Unidos e Canadá, a Alemanha é o país mais afetado na Europa pela dependência do gás russo e vê na Argentina a possibilidade de um novo fornecedor.

Por isso, Scholz declarou a Argentina como "país sócio do G7 durante a presidência alemã". A indicação foi feita depois da viagem de Fernández à Europa, no começo de maio, na qual o presidente argentino visitou, além, Olaf Scholz na Alemanha, o presidente Emmanuel Macron, na França, e o primeiro-ministro Pedro Sánchez, na Espanha.

Voz da América Latina

Nessa viagem, Alberto Fernández defendeu que América Latina, África e Ásia intervenham na procura de uma solução pacífica para a guerra por serem a parte afetada com mais risco de um cenário de fome.

O presidente argentino voltou a repetir o conceito na sexta-feira (24), durante a Cúpula dos BRICS. "Quero levantar a minha voz para que o mundo entenda que, embora a guerra aconteça na Europa, as suas consequências trágicas repercutem em todo o hemisfério Sul. Somos uma periferia que padece", insistiu Alberto Fernández.

"A Argentina é fornecedora segura e responsável de alimentos, reconhecidos no âmbito da biotecnologia. Temos grandes recursos energéticos como a segunda reserva mundial de 'shale gas' e a quarta em 'shale oil'. Começamos a exploração de lítio, de hidrogênio verde e de outras energias renováveis", apontou.

Necessidade de investimentos

Porém, apesar de a Argentina ter a segunda maior reserva mundial de gás não convencional, capaz de fazê-la retornar à auto-suficiência e ainda abastecer a Europa, o país requer de fortes investimentos para extrair, para transportar e para transformar o gás natural em líquido para ser exportado.

A Argentina também é uma das maiores produtoras mundiais de milho e de trigo, justamente os dois produtos mais afetados pela guerra na Ucrânia. O país produz grãos e cereais suficientes para dez vezes mais do que a sua população de 47 milhões de habitantes e ainda pode aumentar a produção.

No entanto, a economia argentina é desordenada. O grau de intervenção arbitrária do governo no controle de preços, nas restrições ao mercado de câmbio e nos movimentos de capitais afasta os investimentos.

"O país tem uma oportunidade enorme, mas requer investimentos. A Argentina era vista como um pária internacional até o começo da guerra. Agora é convidada para a reunião do G7. Mudou o país? Não. Mas tem potencial. Quem mudou foi o mundo em relação ao que a Argentina pode dar", ", explica à RFI o consultor em negócios e analista internacional, Marcelo Elizondo, uma referência na Argentina.

"Se o país se ordenar, empresas norte-americanas e europeias podem vir explorar petróleo e gás ou gerar energia eólica e solar. Podem aumentar a produção de grãos. A Argentina não pode responder imediatamente porque falta infraestrutura, mas pode responder em dois ou três anos", calcula o especialista.

O presidente argentino defende que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, desista de encurralar a Rússia, através do fortalecimento da OTAN. Acredita que deixar uma margem de dignidade para a Rússia ajuda a uma negociação pela paz.

"É urgente construir cenários de negociação que ponham fim à catástrofe bélica. Sem humilhações nem desejos de dominação. Sem geopolítica desumanizada nem privilégios de violência", pediu Alberto Fernández durante a Cúpula das Américas no começo do mês.

Convidados estratégicos

Os outros quatro países, de fora do G7, convidados para esta reunião são Senegal, Indonésia, África do Sul e Índia.

O Senegal preside a União Africana cujos países membros são dependentes em 44%, em média, do trigo russo. A dependência de Senegal chega a 60%.

A Indonésia, na presidência rotativa do G20, é o maior produtor mundial de níquel, usado nas baterias de íons de lítio para veículos elétricos. Pode substituir a Rússia, terceira maior produtora do mundo.

A África do Sul, segunda maior produtora de paládio, usado nos catalisadores dos automóveis, será fundamental para substituir a Rússia, a maior produtora.

A Índia é um dos países que mais risco corre de sofrer com a falta de alimentos devido à guerra. Por isso, Alberto Fernández terá uma reunião bilateral com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para também colocar a Argentina como abastecedora de um mercado de 1,4 bilhão de habitantes.

A reunião do G7 estava, inicialmente, prevista para tratar de alterações climáticas, luta contra a pandemia, cooperação internacional e democracia. No entanto, a invasão russa na Ucrânia, no entanto, impôs uma agenda urgente. A tal ponto que o presidente Volodymyr Zelensky terá uma participação virtual.

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