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Equador: indígenas dizem ser "gente pacífica", mas governo afirma que protestos ameaçam democracia

O nono dia de protestos de indígenas do Equador para reivindicar uma redução nos preços dos combustíveis, entre outras medidas, começou com uma advertência das autoridades contra os opositores. Nesta terça-feira (21), o ministro da Defesa equatoriano, Luis Lara, endureceu o tom contra os manifestantes, afirmando que o bloqueio de estradas e passeatas organizadas pela Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie) "colocam em risco a democracia" no país. 

As manifestações de populações indígenas contra o governo do presidente equatoriano, Guillermo Lasso, entraram na segunda semana.
As manifestações de populações indígenas contra o governo do presidente equatoriano, Guillermo Lasso, entraram na segunda semana. REUTERS - JOHANNA ALARCON
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Milhares de indígenas chegaram a Quito na segunda-feira (20), com o objetivo de intensificar a pressão sobre o governo conservador do presidente Gillermo Lasso. Após confrontos entre indígenas e a polícia, que deixaram dezenas de agentes feridos e algumas pessoas detidas, Lasso ampliou o estado de exceção de três para seis províncias do país. 

Nesta terça, o ministro da Defesa Luis Lara fez um pronunciamento ao lado dos chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, criticando os distúrbios. "A democracia do Equador está em sério risco, devido à ação coordenada de pessoas exaltadas que impedem a livre circulação da maioria dos equatorianos", disse Lara, na sede do ministério da Defesa, na capital. "As Forças Armadas não permitirão qualquer tentativa de rompimento da ordem constitucional ou qualquer ação contra a democracia e as leis da República", acrescentou.

A mobilização, iniciada há quase dez dias, é liderada pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), de oposição. A organização já participou de revoltas que derrubaram três presidentes equatorianos entre 1997 e 2005. Os nativos têm bloqueado estradas na maioria das 24 províncias do país e entrado em conflito com as forças de segurança durante manifestações em várias cidades.

Ontem, o presidente Lasso disse que estava atendendo às exigências da população, consideradas legítimas, segundo ele, mas discordou da violência dos manifestantes e das novas ameaças de ataque a Quito. 

"Não podemos permitir que algumas poucas pessoas violentas impeçam milhões de equatorianos de trabalhar. Não permitiremos que pessoas sejam colocadas umas contra outras (...) O Equador escolhe a democracia, nunca o caos", disse o chefe de Estado, em um vídeo postado no Twitter.

"Marcha pacífica"

A pé, em motocicletas e em caminhões lotados, os povos indígenas iniciaram ontem uma marcha pacífica na área de Cutuglagua, na zona sul da capital. Depois, se reuniram em universidades que servem como abrigos no norte da cidade de três milhões de habitantes.

Ramiro Guamani, da União das Organizações Camponesas do Norte de Cotopaxi, ressaltou em entrevista à RFI que os participantes do movimento não são "vândalos". "Vamos demonstrar que os indígenas são pessoas de paz e vamos em caravana até o centro de Quito, para fazer uma manifestação pacífica", declarou.

O objetivo da mobilização, segundo o opositor indígena, não é derrubar o presidente Lasso: "Se ele ouvir, se ele cumprir as propostas que apresentamos, voltaremos para nossas casinhas; se ele não cumprir com todas as propostas, continuaremos na luta", acrescentou Guamani.

Em uma semana, os protestos deixaram 63 policiais feridos. Vinte e uma pessoas foram detidas e posteriormente liberadas, de acordo com a polícia. A Aliança de Organizações para os Direitos Humanos relatou, por sua vez, 79 detidos e 55 civis feridos.

Exigências

Para iniciar um diálogo com as autoridades, os indígenas, que representam mais de um milhão dos 17,7 milhões de habitantes do Equador, exigem que o governo atenda a uma lista de dez reivindicações.

As demandas incluem uma moratória sobre o pagamento de dívidas contraídas pelos camponeses em bancos, o controle de preços agrícolas, mais empregos, a suspensão de concessões de mineração em territórios indígenas e mais investimentos nos setores de saúde, educação e segurança. Mas é o alto custo dos combustíveis que se tornou o principal ponto de discórdia com o governo. 

Os indígenas querem que o preço do galão de diesel seja fixado em US$ 1,50 e o da gasolina comum em US$ 2,10. Em quase um ano, o diesel subiu 90% no Equador, chegando a custar US$ 1,90, enquanto a gasolina aumentou 46%, vendida a US$ 2,55.

Desde outubro do ano passado, os preços estão congelados pela pressão social. Mas o presidente Lasso enfatizou que um desconto no valor dos combustíveis não é negociável.

(Com informações de Vicenta Linares, da RFI, e AFP)

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