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Temendo mais desabamentos, pessoas dormem nas ruas do Haiti destruído por terremoto

Com falta de alimentos, água potável e vagas nos hospitais depois do terremoto que atingiu o sudoeste do Haiti no sábado (14), o país ainda enfrenta o medo de novos desabamentos, em meio à chegada da tempestade tropical Grace. Em algumas cidades, praticamente todas as construções foram destruídas pelo tremor – e as que restaram apresentam risco de irem ao chão a qualquer momento.

Depois do terremoto, haitianos enfrentam tempestade tropical Grace sem ter onde se refugiar.
Depois do terremoto, haitianos enfrentam tempestade tropical Grace sem ter onde se refugiar. AP - Joseph Odelyn
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"A situação está muito difícil. Muitas casas estão destruídas e tantas outras estão a risco. Estamos à espera da tempestade que foi anunciada, mas ninguém quer entrar em casa por medo de tudo desabar”, afirmou o padre Louis Merosné, em Anse-à-Veau, em entrevista por telefone à RFI. "As pessoas dormem a céu aberto e se perguntam como vão fazer com essa chuva. Não temos tendas para oferecer, nem abrigos provisórios. Essa é a nossa necessidade número um, junto com comida e água potável”, disse.

O padre relatou ter “um pouco de estoque” de alimentos, que costuma doar aos pobres. Mas, segundo ele, a comida terá chegado ao fim em no máximo três dias.

"As estradas não estão totalmente danificadas. A maioria dos mantimentos se encontra na capital Porto Príncipe e para vir de lá, é preciso passar por Martissant, uma zona onde há guerras entre gangues. Não há segurança e todo mundo tem medo de atravessar essa área”, salienta o religioso.

Haitianos andam sob a chuva em um acampamento improvisado em Cayes, atingida por terremoto. (16/08/2021)
Haitianos andam sob a chuva em um acampamento improvisado em Cayes, atingida por terremoto. (16/08/2021) AP - Joseph Odelyn

Sem água potável

Em Pestel, 90% das casas foram destruídas pelo terremoto de magnitude 7,2, cujo epicentro ocorreu a cerca de 160 quilômetros da capital haitiana. “Não temos mais nada, nem produtos básicos. Estamos esperando a ajuda humanitária”, exortou o prefeito de Pestel, Guy Amorse-Marcelin, à reportagem RFI. "Não temos água potável, porque todos os reservatórios e cisternas desabaram. Sobrou apenas uma água coletada das chuvas em maio”, informou. "O hospital mais próximo fica muito longe do centro da cidade e estamos cheios de feridos precisando de atendimento”, complementou.

Mais de 1.400 mortes já foram confirmadas pela tragédia. As equipes de resgate ainda buscam desaparecidos possivelmente presos nos escombros, mas a cada hora que passa, a esperança de encontrar sobreviventes diminui.

Grávida e só com a roupa do corpo

No vilarejo de Marceline, num cenário de completa destruição, Bertha Jean Louis, 43 anos, observa a própria casa e da sua mãe desabadas. “Alguém precisa nos ajudar a encontrar uma casa, só isso. Depois, saberemos nos virar. Estamos acostumados: cultivaremos a terra e viveremos disso”, disse ela, cujo semblante tranquilo escondia uma história trágica vivida nos últimos dias.

Bertha relatou à AFP que perdeu o irmão no terremoto, seu marido está hospitalizado com as duas pernas atingidas pelos escombros e sobrou para ela a tarefa de cuidar sozinha da mãe, de 75 anos, ao mesmo tempo em que está grávida de quatro meses. “Estou com a mesma roupa desde sábado. Não posso me arriscar entrar em qualquer lugar para pegar alguma coisa. Lavo as minhas roupas íntimas e quando elas secam, lavo o meu vestido. É o que posso fazer, porque não me sobrou absolutamente nada.”

Muitos países, como Estados Unidos, República Dominicana, México e Equador, já ofereceram ajuda com o envio de pessoal, alimentos e equipamentos médicos. O exército americano anunciou a criação de uma missão militar conjunta, assim como o envio de uma equipe para avaliar a situação na área de desastre. Quatro helicópteros foram mobilizados para o transporte.

(Com informações da AFP)

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