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Canadá descobre a extensão de sua política de 'genocídio cultural' indígena

No Canadá, as descobertas de restos mortais e túmulos de crianças indígenas em antigos colégios e internatos chocaram a população. Eles foram encontrados nas províncias de British Columbia e Saskatchewan, mas esses tipos de escolas residenciais existiam também em outras áreas do país, o que sugere que ainda poderão haver outras descobertas dolorosas.

O primeiro ministro canadense, Justin Trudeau, coloca um ursinho de pelúcia em um campo antes de uma cerimônia no local de uma antiga escola residencial, onde 751 túmulos de crianças foram encontrados no mês passado, em Cowessess First Nation, Saskatchewan. Na terça-feira, 6 de julho de 2021.
O primeiro ministro canadense, Justin Trudeau, coloca um ursinho de pelúcia em um campo antes de uma cerimônia no local de uma antiga escola residencial, onde 751 túmulos de crianças foram encontrados no mês passado, em Cowessess First Nation, Saskatchewan. Na terça-feira, 6 de julho de 2021. AP - Liam Richards
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Diana Gonzalez, correspondente da RFI em Montreal

Cerca de 150.000 meninos e meninas foram enviados a escolas residenciais - os internatos - para indígenas do final século 19 até o fim do século 20.

“Fiquei aqui 10 anos. Fomos [retirados de nossas famílias] com 7 ou 8 anos de idade. Evelyn relata à RFI que foi separada à força de sua família e levada para a escola residencial Kamloops na Colúmbia Britânica, no oeste do país. Os restos mortais de 215 crianças indígenas foram encontrados perto daquela antiga escola, no final de maio.

"Essa descoberta traz uma espécie de luz sobre como fomos tratados, [mas] isso é apenas parte dela", diz Evelyn.

A Comissão de Verdade e Reconciliação estima que pelo menos 6.000 crianças morreram no sistema residencial, várias por desnutrição, outras por doenças. A intenção dessas escolas residenciais era cometer um "genocídio cultural", segundo a Comissão.

A Igreja Católica administrava mais da metade desses internatos

Em junho deste ano, 751 túmulos sem nome foram encontrados em Saskatchewan e outros 182 na Colúmbia Britânica. Essas descobertas geraram comoção no país e abriram feridas que muitas das pessoas que frequentaram as antigas escolas ainda não conseguiram curar.

O governo canadense reconheceu que as consequências do sistema escolar de internatos de indígenas foram profundamente negativas e que tiveram um impacto duradouro e prejudicial sobre a comunidade. Ele também se desculpou com os sobreviventes e suas famílias pelo que aconteceu nesses locais.

“É vergonhoso que crianças tenham morrido por causa da política do internato”, disse o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.

Em dezembro, líderes indígenas do Canadá terão uma audiência com o Papa Francisco, que será solicitado a oferecer um pedido de desculpas oficial pelo papel que a Igreja Católica Romana desempenhou na administração dos internatos canadenses que as crianças indígenas foram forçadas a frequentar, e de onde muitas nunca mais voltaram.

Canadá nomeia primeiro governador-geral indígena

O governo canadense nomeou na terça-feira (6), a indígena Mary Simon como sua primeira governadora-geral, e a representante oficial da Rainha Elizabeth II no país da Comunidade Britânica, enquanto a nação enfrenta um acerto de contas com sua obscura história colonial.

"Hoje, após 154 anos, nosso país dá um passo histórico", disse o primeiro-ministro Justin Trudeau em entrevista coletiva. “Não consigo pensar em uma pessoa melhor para enfrentar este momento”, frisou.

Uma ex-jornalista e defensora dos direitos dos nativos Inuit, Simon já havia servido como presidente da organização Inuit Tapiriit Kanatami.

Ela também presidiu a Conferência Circumpolar Inuit, que representa o povo Inuit em todos os países do Ártico, como o primeiro embaixador Inuk do Canadá na Dinamarca.

Sua nomeação como representante do vice-reinado, responsável por dar consentimento real ou executar atos aprovados pelo Parlamento e chefiar as Forças Armadas canadenses, ocorre em um período difícil nas relações do país com as chamadas Primeiras Nações Aborígenes.

Reconhecendo o passado

Nascida em 1947 em Kuujjuaq, um pequeno vilarejo na costa da Baía de Ungava, Simon frequentou uma escola diurna semelhante aos polêmicos internatos indígenas.

"Precisamos reconhecer e relembrar totalmente as atrocidades de nosso passado coletivo, sobre o qual estamos aprendendo mais a cada dia", disse Simon a repórteres.

Uma de suas primeiras tarefas oficiais poderia ser dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas em setembro, à medida que o governo minoritário liberal de Trudeau entra em conflito cada vez mais com os partidos da oposição.

Simon substitui o primeiro indicado de Trudeau para o cargo, a ex-astronauta Julie Payette, que renunciou em janeiro em meio a acusações de assédio e mau comportamento; um relatório a culpou por "gritaria, comportamento agressivo, comentários degradantes e humilhação pública".

A saída repentina de Payette reacendeu o debate sobre o papel da monarquia no Canadá. As últimas pesquisas revelam que pouco mais da metade dos entrevistados são a favor da abolição do cargo de governador-geral.

Simon, que é fluente em inglês e inuktitut (a principal língua inuíte do Canadá), disse que espera unificar todos os canadenses "para entender nossas histórias únicas, nossa cultura única e nosso modo de vida".

"Neste momento, espero que todos os canadenses se sintam integrados porque minha nomeação reflete nosso progresso coletivo em direção à construção de uma sociedade mais inclusiva, justa e equitativa", disse ela.

(Com AFP)

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