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Colômbia: ministro da Fazenda renuncia após seis dias de protestos que deixaram 19 mortos

O ministro colombiano da Fazenda, Alberto Carrasquilla, renunciou na segunda-feira (3), após apresentar um projeto frustrado de reforma tributária que provocou seis dias de protestos em massa. Confrontos dos manifestantes com a polícia deixaram 19 mortos e mais de 800 feridos.

Manifestantes protestam há seis dias contra o projeto de reforma tributária do presidente colombiano, Iván Duque. Cali, 3 de maio de 2021.
Manifestantes protestam há seis dias contra o projeto de reforma tributária do presidente colombiano, Iván Duque. Cali, 3 de maio de 2021. AP - Andres Gonzalez
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"Minha continuidade no governo dificultaria a construção rápida e eficiente dos consensos necessários", informou Carrasquilla em um comunicado. Ele será substituído pelo economista José Manuel Restrepo, atual ministro do Comércio, anunciou o presidente Iván Duque no Twitter.

Ao menos 19 manifestantes morreram nos protestos desde a semana passada, segundo balanço da Defensoria do Povo. O ministério da Defesa contabilizou 846 feridos entre civis e policiais. Algumas ONGs acusam a polícia de atirar contra a população.

O governo ordenou o envio de militares para as cidades onde houve mais violência. Em seis dias de protestos, a polícia prendeu 431 pessoas. 

O ministro da Defesa, Diego Molano, atribuiu a violência unicamente aos participantes das manifestações. Segundo ele, esses atos foram "premeditados, organizados e financiados por grupos dissidentes das Farc", que recentemente se afastaram do acordo de paz assinado em 2016.

Pressionado, Duque ordenou no domingo (2) a retirada da proposta de reforma tributária que era debatida com ceticismo no Congresso. Um amplo setor rejeitava o projeto que visava especialmente a classe média e chegaria em meio à grave crise desencadeada pela pandemia de coronavírus.

O presidente propôs a elaboração de um novo projeto que descarta os principais pontos de discórdia: o aumento dos impostos sobre serviços e mercadorias e a ampliação da base de contribuintes com imposto de renda.

O plano inicial foi apresentado pelo governo ao Congresso no último 15 de abril, como uma medida para financiar os gastos públicos nesta que é a quarta maior economia da América Latina. Mas as críticas vieram tanto da oposição política, quanto dos aliados de Duque, e o descontentamento logo se espalhou entre a população.

Manifestantes seguem nas ruas   

Embora com menos participantes, os manifestantes continuaram protestando na segunda-feira (3) nas ruas de Bogotá, Medellín (noroeste), Cali (sudoeste) e Barranquilla (norte). Os organizadores convocaram uma nova marcha para quarta-feira (5), apesar de, nas principais cidades colombianas, estarem em vigor medidas que limitam os deslocamentos para conter a terceira onda da pandemia.

Embora a maioria das mobilizações tenham ocorrido de forma pacífica, muitas foram seguidos por vários distúrbios e confrontos com a polícia. Atos de vandalismo foram registrados em 69 estações de transporte, 36 caixas eletrônicos, 94 bancos, 14 pedágios e 313 estabelecimentos comerciais, segundo os números oficiais divulgados pelo governo.

Violências também foram registradas por parte das forças de segurança. De acordo com a ONG Temblores, 940 casos de abusos policiais ocorreram nos últimos dias e são investigadas as mortes de oito manifestantes pela polícia. 

Grave crise econômica

O projeto de reforma tributária de Duque visava arrecadar cerca de US$ 6,3 bilhões entre 2022 e 2031, para a recuperação da economia, extremamente castigada pela crise sanitária. Em seu pior desempenho em meio século, o Produto Interno Bruto (PIB) da Colômbia despencou 6,8% em 2020 e o desemprego subiu para 16,8% em março. Quase metade dos 50 milhões de habitantes está no setor informal e a pobreza atinge 42,5% da população.  

Desde 2019, o Comitê Nacional de Desemprego tem convocado inúmeras mobilizações para pedir a Duque uma mudança de rumo. "As pessoas nas ruas estão exigindo muito mais do que a retirada da reforma tributária", disseram os líderes da manifestação em um comunicado.

A Colômbia é o terceiro país da América Latina com o maior número de infecções por Covid-19 (2,8 milhões). Em quantidade de mortes (74.700), só é superado na região pelo Brasil e o México. Já em relação à sua população, é a quarta nação com mais mortes e a sexta com o maior número de infectados na região. 

Com informações da AFP

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