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Equador: reviravolta no resultado eleitoral pode gerar tensão nas ruas

O Equador está próximo de conhecer o resultado eleitoral e sair do limbo político provocado pela indefinição nas eleições gerais de domingo (7). Mas a repentina virada de Guillermo Lasso na disputa pela segunda vaga no segundo turno deve levar Yacu Pérez a pedir a impugnação do resultado, enquanto o movimento indígena já ameaça tomar as ruas.

Reviravolta eleitoral pode gerar tensão popular no Equador
Reviravolta eleitoral pode gerar tensão popular no Equador AP - Dolores Ochoa
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Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

Nas últimas horas, quando tudo se encaminhava para um histórico segundo turno com participação do líder indígena e ambientalista, Yacu Pérez, o candidato que chegava em terceiro lugar, o ex-banqueiro Guillermo Lasso, passou à frente de Pérez.

Com 99,88% dos votos apurados, o liberal Guillermo Lasso, do Criando Oportunidades, tem agora 19,68% dos votos válidos enquanto Yacu Pérez, do movimento de esquerda Pachakutik, tem 19,54%.

A escassa diferença de 0,14% representa apenas 12.775 votos e revela a disputa voto a voto que marca a apuração desde domingo, a partir de quando o empate técnico deixou o país num limbo eleitoral.

Nas últimas 24 horas, o panorama era exatamente o inverso: Yacu Pérez liderava a disputa pelo segundo lugar com a mesma diferença que agora Lasso exibe.

Quem vencer a disputa passará ao segundo turno para enfrentar Andrés Arauz, candidato do ex-presidente Rafael Correa, que se mantém à frente com 32,49% dos votos válidos.

Denúncia de fraude

"A democracia está ferida. Hoje a fraude foi consumada", declarou Yacu Pérez à porta da Junta Eleitoral de Guayas, província cuja capital é Guayaquil, reduto eleitoral do rival Guillermo Lasso.

Nessa província, é onde está a maior quantidade de votos com as chamadas "inconsistências". É também onde se concentra a maior diferença de votos a favor de Lasso e onde o movimento indígena tem pouca adesão.

"Estamos diante de uma caricatura de democracia. Deixaram a fraude para o final", insistiu Pérez, cercado de militantes que nas últimas horas passaram do bordão "Já se sente Yaku Presidente" para "Se Lasso ganha, o povo se levanta".

Yacu Pérez denuncia uma série de irregularidades com as cédulas de votação, com as urnas e com os boletins eleitorais.

"Vamos impugnar os resultados e vamos pedir uma recontagem nas regiões onde vemos sérias irregularidades que levantam suspeitas", avisou Pérez.

Tensão nas ruas

Enquanto a militância aumentava o cerco à Junta Eleitoral, responsável pela apuração dos votos regionais, a Polícia e as Forças Armadas intensificavam as ações de segurança sob a latente ameaça de protestos dos movimentos indígenas.

"Pedi ao coordenador nacional do Pachakutik, Marlon Santi, que, por favor, os movimentos ainda não se mobilizem. Esgotemos antes as instâncias legais. Já me consultaram para dar a ordem de bloquear as vias. Eu pedi para esperarem. Queremos esgotar os recursos legais", indicou Yacu Pérez.

"Pedi aos companheiros para terem calma. Eu não quero confrontações. Não quero distúrbios. Eu quero a paz, mas para que haja paz tem de haver justiça e transparência", ponderou ao mesmo tempo que convocava as bases do partido e as organizações sociais a "ficarem vigilantes em defesa dos votos".

A missão de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA) pediu "calma".

Na capital, Quito, o Centro de Processamento Eleitoral está cercado pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) que se diz em "marcha pacífica".

O presidente do Movimento Indígena e Camponês (MICC), Leonidas Iza, disse que "não está em jogo uma candidatura, mas um projeto político que foi eleito".

A última grande mobilização indígena, coordenada por Leonidas Iza, aconteceu em outubro de 2019 contra o pacote econômico de recortes do governo, exigido pelo FMI. Foram 11 dias de enfrentamentos nas ruas de Quito até o presidente Lenín Moreno recuar.

Denúncia de complô político

O líder do movimento indígena denuncia um complô político entre Guillermo Lasso e o ex-presidente Rafael Correa, padrinho político do candidato Andrés Arauz, com vaga já garantida no segundo turno.

Rafael Correa mora na Bélgica e não pode voltar ao Equador sem ser preso. Foi condenado a oito anos de prisão por corrupção e tenta voltar ao país através do seu candidato, quem promete indultar o ex-presidente.

"Quem está mexendo as peças é o 'correísmo" (movimento político liderado pelo ex-presidente Rafael Correa). Eles têm pânico de que seja eu a entrar no segundo turno. Do outro lado, funciona o ego de Lasso para passar ao segundo turno, mesmo sabendo que não tem chance de ganhar", aponta Yacu Pérez.

Se a disputa no segundo turno for entre as duas esquerdas, a de Andrés Arauz e a de Yacu Pérez, as chances de Yacu Pérez são maiores do que a da direita de Guillermo Lasso, garantem os analistas.

"Yacu Pérez teria boas chances de ganhar porque existe muita resistência a votar num candidato de Rafael Correa. Esse voto anti-Correa, maioria entre os eleitores, pode ir a Yacu Pérez. Além disso, aqueles que votaram em Lasso devem preferir Yacu Pérez por ser uma esquerda mais moderada", explica à RFI o cientista político equatoriano Simón Pachano, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO).

"Por outro lado, se Lasso passar ao segundo turno, o voto anti-Correa se dividiria porque há muita resistência da esquerda em votar num ex-banqueiro", conclui Pachano.

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