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Impeachment de presidente Vizcarra abre período de tensão política no Peru

Dois meses depois de uma primeira tentativa fracassada, o Parlamento peruano destituiu na noite dessa segunda-feira (9) o presidente Martín Vizcarra por "incapacidade moral permanente". Os parlamentares alegam suspeitas de corrupção. A decisão, poucos meses antes da eleição presidencial marcada para abril de 2021, mergulha o Peru em um período de tensão. Várias manifestações contra o impeachment acontecem nesta terça-feira (10).

O presidente peruano destituído, Martín Vizcarra, declarou nesta segunda-feira que deixa o poder "de cabeça erguida" e descartou entrar com ações legais para recorrer da decisão do Congresso de destituí-lo por "incapacidade moral". Foto: 09/11/2020
O presidente peruano destituído, Martín Vizcarra, declarou nesta segunda-feira que deixa o poder "de cabeça erguida" e descartou entrar com ações legais para recorrer da decisão do Congresso de destituí-lo por "incapacidade moral". Foto: 09/11/2020 AP - Martin Mejia
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Após 5 horas de debate, os parlamentares peruanos aprovaram a destituição de Martín Vizcarra por 105 votos a favor, 19 contra e 4 abstenções. O resultado é muito superior aos 87 votos necessários de 130 para afastar o chefe de Estado, informa a correspondente da RFI em Lima, Wyloën Munhoz-Boillot. Vizcarra é suspeito de ter recebido propina de construtoras quando era governador da região de Moquegua entre 2011 e 2014.

Os subornos teriam sido solicitados pelo ex-ministro José Hernández em nome de Vizcarra a duas empresas interessadas na construção de um hospital e de um projeto de irrigação, lembra o correspondente regional, Éric Samson.

Executivos dessas empresas e o ex-ministro Hernández concordaram em testemunhar contra o presidente em troca da redução de suas penas. O popular Vizcarra negou essas acusações, sem sucesso.

Em setembro, o Parlamento peruano havia feito uma primeira tentativa para destituir o presidente, mas apenas 32 deputados votaram a favor do impeachment. Na época, o pedido era baseado na suspeita de uma contratação ilícita de um cantor pelo ministério da Cultura.

Ao final da nova votação nessa segunda-feira, o porta-voz da União para o Peru, um dos partidos que iniciaram o processo de impeachment, elogiou a decisão do Parlamento em nome do combate à corrupção. Mas a destituição gerou descontentamento e reações da população. De acordo com uma pesquisa da Ipsos Peru, realizada em outubro de 2020, 80% dos peruanos eram contra o impeachment.

Manifestações em Lima

Logo após a decisão, manifestantes tomaram as ruas da capital e muitos moradores realizaram um panelaço das janelas de suas casas para expressar sua indignação com o impeachment de Vizcarra.

O arcebispo de Lima, Carlos Castillo, pediu aos parlamentares que revogassem a decisão. Várias manifestações foram convocadas em todo o país para esta terça-feira, antes da designação formal do presidente do Parlamento, Manuel Merino, como presidente da República interino.

Apoiadores do Presidente Martin Vizcarra protestaram contra a decisão do Congresso nas ruas da capital.
Apoiadores do Presidente Martin Vizcarra protestaram contra a decisão do Congresso nas ruas da capital. AP - Martin Mejia

A destituição de Martin Vizcarra inicia provavelmente um período de tensão política no país. O Congresso está extremamente desacreditado no Peru. Na noite de segunda-feira, um parlamentar da oposição foi agredido por um jovem durante uma entrevista coletiva.

Nas redes sociais, várias personalidades políticas também condenaram o impeachment. O ex-primeiro-ministro Pedro Cateriano denunciou "um golpe" e a candidata de esquerda às eleições presidenciais, Veronica Mendoza, condenou uma decisão "vergonhosa e indigna". Já o líder do partido Morado, Julio Guzman, acusou os partidos por trás do processo de impeachment de negociar cargos no próximo governo.

"Decidi não me opor legalmente a esta decisão"

Em seu último discurso à nação na noite desta segunda-feira, o agora ex-presidente Martín Vizcarra anunciou que aceitava a decisão do Parlamento e que deixava o palácio presidencial. “Hoje, deixo o Palácio Presidencial e vou para casa. Apesar do conselho de muitas pessoas, decidi não me opor legalmente a esta decisão do Congresso peruano, que desaprovo e da qual um dia conheceremos seus reais motivos. Não quero que pensem que minha vontade de servir ao povo peruano era apenas o desejo de exercer o poder."

O presidente do Parlamento, Manuel Merino, deverá ser designado presidente interino na sessão plenária marcada para esta terça-feira de manhã, pelo horário local. Ele disse que as eleições previstas para 21 de abril de 2021 não serão postergadas. "Data que ninguém pode modificar de acordo com a Constituição e as leis", assegurou. 

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