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Equador: governo subestima número de casos de Covid-19 e famílias procuram cadáveres de parentes

O Equador dobrou nesta quinta-feira (23) o número oficial de pessoas infectadas com a Covid-19 e é o segundo país mais afetado da América Latina, depois do Brasil. No entanto, o balanço de vítimas e de casos confirmados ainda é subestimado devido à falta de testes. Em meio à polêmica sobre os dados de contaminações, famílias lutam para encontrar os corpos de parentes mortos durante a pandemia.

Cadáver de um homem na calçada, em Guayaquil, Equador. 30/03/2020.
Cadáver de um homem na calçada, em Guayaquil, Equador. 30/03/2020. REUTERS - STRINGER
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A avó de Carlos Martillo, Rosa Elena Alvarado, 82 anos, morreu em 30 de março de um ataque cardíaco no hospital Guasmo Sur, em Guayaquil. Segundo a reportagem da RFI, o hospital "não quis entregar o corpo à família porque a registrou como falecida devido ao coronavírus". Desde então, a família procura desesperadamente pelo corpo. "O que dizemos ao meu avô? Estamos enganando ele até saber onde está minha avó”, explica o neto, Carlos Martillo.

O pesadelo da família Martillo já dura quase um mês. Em 30 de março, Rosa Elena Alvarado começou a se sentir mal em casa e foi transferida para o hospital Guasmo Sur, em Guayaquil, cidade que ficou conhecida como a Wuhan equatoriana por concentrar a maioria dos casos do país e onde o gerenciamento da pandemia está sendo fortemente criticado.

"O governo mente. Isso já ultrapassou os limites: pessoas mortas nas ruas, hospitais em colapso. O que estamos vivendo no país é o caos ", explica o neto de dona Rosa Alvarado, por telefone à RFI.

"Minha avó morreu de ataque cardíaco no hospital, depois de dez minutos o médico veio e nos disse que ela não tinha mais sinais vitais, eles a levaram como tendo o coronavírus, mas ela morreu de ataque cardíaco. Por esse motivo, eles não puderam entregar o corpo para nós”, insiste Carlos Martillo.

A tia de Martillo conseguiu um caixão para poder realizar um enterro no cemitério. Porém, quando a família foi reclamar o corpo da senhora falecida, os planos tiveram que ser mudados. "Eles nos disseram que o corpo da minha avó supostamente já havia saído do hospital e o levaram em um recipiente com todos os outros cadáveres para um cemitério em Pascuales", explica Martillo, mas ninguém no cemitério esclareceu nada.

Número de infectados por coronavírus é subestimado por falta de testes

O número de casos de coronavírus no país dobrou para mais de 22 mil após os resultados de milhares de testes que tinham ficado retidos devido à falta de capacidade para processá-los, admitiu o ministro da Saúde equatoriano, Juan Carlos Zevallos.

"O total, para esclarecer o número, é de 22.160 casos confirmados", disse Zevallos ao canal de TV equatoriano.

O saldo de vítimas também não é muito claro, já que o Equador trabalha com vários números oficiais. Todas as manhãs, o Ministério da Saúde Pública apresenta um relatório de mortes confirmadas, ou seja, de pessoas que deram positivo antes de morrer. Eram 560 na manhã de quinta-feira (23).

Porém, o ministério gerencia também um registro de prováveis falecimentos. Por várias razões, como a falta de testes disponíveis, essas pessoas morreram com sintomas compatíveis com a Covid-19, mas sem um diagnóstico confirmado. As causas das mortes são, geralmente, pneumonia atípica ou insuficiência respiratória aguda. Havia cerca de 1.000 casos assim na quinta-feira.

No entanto, mesmo esse saldo de cerca de 1.500 mortes confirmadas e prováveis não está próximo da realidade. Somente na província de Guayas, a mais atingida pela pandemia, o número de mortes diárias mais do que dobrou em março, em comparação ao ano anterior, e foi multiplicado por quatro em abril.

De 1º de março a 15 de abril, cerca de 8.000 mortes adicionais foram registradas pelo Estado Civil na província de Guayas, sem nenhuma outra razão, além da pandemia, para explicar essa assustadora mortalidade.

Com o número atualizado de infecções, o Equador, com 17,5 milhões de habitantes, é o segundo país latino-americano com mais casos de Covid-19. Fica atrás apenas do Brasil, com quase 45.800 casos, numa população de 210 milhões de habitantes.

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