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Venezuela/ Economia

Venezuela: cinco horas na fila para pagar com a criptomoeda nacional

"É uma farsa!", grita Leonor. Nas últimas cinco horas, essa aposentada ficou de pé na frente de uma loja de Caracas, na esperança de pagar suas compras com seu meio Petro, a criptomoeda venezuelana, que Nicolas Maduro concedeu aos aposentados no Natal.

Nicolas Maduro durante a cerimônia de lançamento do petro.
Nicolas Maduro durante a cerimônia de lançamento do petro. Reuters/Carlos Garcia Rawlins/File Photo
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Na Venezuela, filas não são incomuns. Entre 2014 e 2018, a grave escassez de alimentos que afetou este país de enormes reservas de petróleo forçou os venezuelanos a terem paciência para obter seus suprimentos.

Desde o início do ano, ovos, frutas e carne estão disponíveis novamente nas lojas. Mas agora é nos postos de gasolina que as filas são formadas devido à falta de gasolina. E em frente às lojas que aceitam pagamentos em Petro, a criptomoeda lançada em fevereiro de 2018 pelo governo socialista.

Nicolas Maduro prometeu meio Petro a todos os aposentados e funcionários públicos no Natal. Esse "bônus" equivale a 30 dólares, um pouco mais neste país onde a inflação de preços em bolívares (200.000% este ano, de acordo com o FMI) é dobrada por um aumento nos preços em dólares. Os pagamentos com o “green ticket” são cada vez mais aceitos e até incentivados.

Mas pagar em Petro é outra questão completamente diferente. Dados oficiais revelam que apenas 4,8 mil estabelecimentos comerciais em todo o país têm os terminais necessários. Daí as filas em frente a essas lojas e a irritação de Leonor Diaz, uma aposentada de 70 anos, que veio fazer compras em um supermercado de Caracas.

"É uma humilhação. Estão zombando das pessoas e principalmente de nós, idosos. Não podemos ficar na fila por cinco, seis, sete horas", ela enfatiza.

Aplicativo complicado

Ao anunciar a criação do Petro no final de 2017, Nicolas Maduro pretendia torná-lo a "primeira criptomoeda soberana do mundo". Os economistas veem aí, acima de tudo, uma tentativa de contornar as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos contra o governo de Caracas.

Para pagar em Petro, existem duas soluções: um sistema biométrico que funciona com impressões digitais ou um aplicativo móvel.

Em uma loja de departamentos em Caracas, Doris Lozada, uma funcionária de 55 anos, espera comprar calças e comida em Petro, mas acha o aplicativo "complicado".

E no supermercado onde Leonor Diaz aguarda, o sistema de pagamento biométrico está tendo problemas e a fila vai ficando cada vez mais longa. Nada que incomode Rafael Espinoza, um aposentado de 66 anos que também está na fila. “O Petro é bom (...). É graças ao nosso presidente", diz ele.

Maravilha ou fraude?

Publicidade no Twitter, outdoors na estrada. O governo não está poupando elogios ao Petro. "O Petro é uma maravilha, um milagre (...). É uma experiência única e extraordinária", escreveu Nicolas Maduro no Twitter no sábado (28).

Os economistas são mais céticos. Asdrubal Oliveros, da empresa Ecoanalítica, considera que o Petro não é uma criptomoeda real, mas "um monstro". O governo pretende impor o Petro "à força" em um contexto de hiperinflação, em que a confiança na economia e nas finanças é zero", acredita ele. "O resultado é que a maioria dos venezuelanos não quer o Petro e os aposentados e funcionários públicos sofrem as consequências", afirmou.

E o futuro internacional do Petro parece comprometido. Washington proíbe transações nesta criptomoeda e, ao contrário do Bitcoin e outros, não está disponível nas plataformas de compra. Alguns sites de avaliação como o Icoindex.com até o qualificam como "fraude".

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