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Linha Direta

Obama defende democracia para superar divisões nos EUA

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Barack Obama fez na noite de terça-feira (10), em Chicago, seu derradeiro discurso público como presidente dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo que apresentou um balanço positivo de seus oito anos no governo da maior potência global e defendeu a democracia americana, também fez questão de advertir seu sucessor, Donald Trump. O presidente americano ressaltou que os EUA são formados por pessoas de etnias e origens variadas, que o combate à desigualdade social e econômica precisa continuar, e que os valores democráticos devem ser perseguidos mais do que nunca. A outra notícia do dia em Washington era a suspeita de que Moscou possui informações comprometedoras sobre Trump.

Barack Obama fez seu discurso de adeus em Chicago, na noite de terça-feira, 10 de janeiro de 2017.
Barack Obama fez seu discurso de adeus em Chicago, na noite de terça-feira, 10 de janeiro de 2017. REUTERS/John Gress
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

Com alta popularidade, o primeiro presidente negro dos EUA foi recebido com emoção do centro de convenções McCormick, de Chicago, aos gritos de “mais quatro anos”, uma prova da profunda divisão política do país. Trump venceu as eleições de novembro por conta de uma vantagem de pouco mais de 1% em quatro estados cruciais para a vitória no colégio eleitoral e ficou atrás de Hillary Clinton no voto popular.

O discurso de despedida de Obama foi recheado de emoção e lembrou aos americanos o estilo do homem que ocupou a Casa Branca nos últimos oito anos. Obama tratou de esperança, de otimismo, apesar de ter saído de uma eleição cujo resultado põe em risco praticamente todas as políticas públicas por ele iniciadas.

Donald Trump assume a Casa Branca em nove dias e um de seus primeiros atos, o presidente eleito fez questão de lembrar na terça-feira, será o de simplesmente apagar a reforma do sistema de saúde, o Obamacare, o mais importante e controverso programa elaborado pelos democratas nesta que, com razão, é chamada de Era Obama.

Obama promete oposição democrata a Trump

Obama sai do governo com 57% de apoio popular, mas sem ter conseguido eleger seu sucessor. A vitória de Trump, em novembro, no entanto, foi apertada, e o discurso de Obama procurou mostrar que a nova oposição democrata é importante, tem peso, e vai fazer barulho.

Mas, quando o público que lotou o centro de convenções McCormick gritava “mais quatro anos” Obama sorriu e disse: “eu não posso fazer isso”. E aproveitou a deixa para defender a importância da democracia que, ele frisou, “deve estar acima de filiações partidárias e do interesse particular”.

Futuro de Obama na política americana

Obama quase chorou no fim do discurso ao agradecer à mulher, às filhas e ao vice-presidente Joe Biden, e também aos militantes e milhares de eleitores por levarem o primeiro negro à Casa Branca por duas vezes seguidas. Ninguém tem hoje, no Partido Democrata, a dimensão política de Obama.

Ele fala com autoridade, por exemplo, sobre a necessidade de o país mudar as leis contra discriminação racial e de gênero mas enfatiza que “para além da legislação, é preciso que os corações também mudem”. A falta da voz inspirada de Obama será sentida pelos democratas.

Por mais que tenha decidido permanecer em Washington nos próximos anos, Obama deve seguir, como indiciou ontem, o exemplo de seu antecessor George W. Bush, e se manter como um estadista, distante da crítica diária ao governo Trump. Mas ele deu uma pista de onde poderá se inserir mais no debate político nos próximos anos ao condenar a apatia dos americanos, que vão cada vez menos às urnas.

O presidente, que sai respeitadíssimo pela maioria da população, avalia que não conseguiu eleger Hillary Clinton como sua sucessora, muito por conta da abstenção dos que decidiram ficar em casa em novembro. Ele disse que o espírito da democracia americana é a participação popular.

Moscou tem informações comprometedoras sobre Trump

Na mesma noite em que Obama tratou de temas nobres, a notícia do dia em Washington era a apresentação das agências de inteligência e segurança nacional dos EUA de suspeitas de que Moscou possui informações comprometedoras sobre Trump. O fato ilustra a enorme contradição da noite: enquanto Obama era celebrado por seu discurso por analistas de todos os espectros políticos, um governo de tática, ideologia e valores completamente opostos ao dele começa a tomar forma em Washington.

É importante enfatizar que não há comprovação de que os dossiês russos, que incluiriam vídeos com Trump se divertindo com mulheres em viagens de negócios em Moscou, sejam verdadeiros. Mas eles ilustrariam a tentativa de uma outra potência de influenciar um presidente considerado pela opinião pública americana, antes mesmo de assumir o cargo, cada vez menos presidencial.

O discurso de Obama, para a admiração e o temor de tantos americanos, não poderia ser mais oposto ao nascedouro do governo Trump, que teve iniciado ontem no Capitólio o processo de aprovação pelo Senado de alguns de seus colaboradores, entre eles o futuro ministro da Justiça, um ultraconservador do Alabama acusado de ser segregacionista.

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