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O Mundo Agora

Novas gerações rejeitam governos corruptos e incompetentes

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A geração do baby boom não se conforma. Nem com a velhice, nem sobretudo com a perda de poder. Poder político, administrativo, econômico, cultural, moral... Durante décadas os que viveram os exaltantes anos da década de 1970, e depois ocuparam os cargos mais prestigiosos e lucrativos, não se resignam a deixar o palco.

Em Hong Kong, milhares de pessoas, lideradas por jovens, estão se revoltando nas ruas contra a vontade do Partido Comunista chinês de impor na antiga concessão inglesa o despotismo da China continental. Manifestação em Hong Kong 21/07/19.
Em Hong Kong, milhares de pessoas, lideradas por jovens, estão se revoltando nas ruas contra a vontade do Partido Comunista chinês de impor na antiga concessão inglesa o despotismo da China continental. Manifestação em Hong Kong 21/07/19. LAUREL CHOR / AFP
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De direita ou de esquerda, estão convencidos de possuir a verdade e de serem os artífices do sentido da História. Uma certeza partilhada tanto pelos que viviam no milagre econômico ocidental, quanto pelos que acreditavam na “construção do socialismo” ou na epopeia anticolonialista dos movimentos de libertação nacionais. Eles conseguiram, que nem carrapatos, perpetuar-se nas suas posições muito além do razoável. Barrando caminhos para as gerações seguintes.

Essa maneira de querer monopolizar a visão e o futuro do mundo e de suas sociedades tornou-se patética com a derrota histórica do sonho “socialista”, com a transformação do capitalismo de massa do século XX num capitalismo “digital” profundamente “disruptivo”, e com a catástrofe política e social de quase todas as sociedades do antigo “Terceiro Mundo”. Chegou a hora de aceitar o fim da linha. No mundo inteiro a juventude está pedindo passagem: “fora com tudo que está aí”.

Movimento universal

Basta olhar para o noticiário para constatar que se trata de um movimento universal. Na Argélia, 70 anos depois de uma independência confiscada por um poder militar autoritário, uma população majoritariamente jovem ocupa as ruas todas semanas pacificamente, exigindo o fim de um regime decrépito e corrupto.

No Sudão, centenas de milhares de manifestantes conseguiram provocar a queda de uma ditadura de mais de 30 anos e continuam pressionando para acabar com o “sistema”. Em Hong Kong, milhões, liderados pelos jovens, estão se revoltando nas ruas contra a vontade do Partido Comunista chinês de impor na antiga concessão inglesa o despotismo da China continental.

Na Europa, partidos e líderes tradicionais vêm perdendo eleições para movimentos inéditos que rejeitam os velhos equilíbrios políticos e reclamam menos ideologia e mais eficiência administrativa. As eleições parlamentares, ontem, na Ucrânia são mais um exemplo dessa verdadeira insurreição pacífica da juventude.

Na verdade, a guerra está declarada entre os desejam organizar e viver num mundo moderno e os decadentes donos do poder que instrumentalizam as angústias sociais para engatar uma ré para um mítico passado nacionalista, quando eram eles a segurar o rojão.

Na América Latina, os velhos populismos clientelistas, de direita ou de esquerda, estão rapidamente perdendo qualquer legitimidade. Nas urnas ou nas ruas, como na Venezuela. Discursos extremistas e estapafúrdios, ampliados pelas redes sociais, continuam proliferando, mas a vox populi é clara: queremos um país que funcione.

Até na África, os antigos regimes autoritários herdeiros dos movimentos de libertação dos anos 1960-70, profundamente corruptos e incompetentes, estão caindo ou sendo abertamente contestados pela juventude. As demandas são sempre as mesmas: basta de blablabá sobre passados gloriosos, queremos gerenciar o país com pragmatismo e eficiência. A sede de modernidade, de administração competente, de democracia sem donos do poder é imensa.

Maior controle e transparência

Gestão concreta de problemas concretos. Transparente: com líderes permanentemente controlados e avaliados graças às novas tecnologias da informação. Gerenciar a transição para novas maneiras de produzir, consumir e se comunicar.

Abandonar as ideologias messiânicas que prometem o Paraíso terrestre e sempre acabam mal. Inventar o mundo do século XXI e não tentar manter a todo custo o velho mundo do século passado. Eis uma tarefa hercúlea que os macróbios do baby boom não têm nem força, nem ideias, nem apetite para capitanear.

Desorientados, eles nem entendem os novos tempos. Está na hora de sair do jogo, com elegância. Os jovens provavelmente não serão melhores, mas serão diferentes e mais ajustados aos novos tempos.

Alfredo Valladão é professor de Ciências Políticas na Sciences-Po de Paris.

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