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O Mundo Agora

Guerra comercial de Trump pode provocar crise pior que em 2008

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Impor tarifas aduaneiras contra o aço e o alumínio exportado pelos principais aliados europeus e americanos, e ameaçar a Europa de barreiras à importação de automóveis é uma coisa. Começar uma guerra comercial com a China é outra.

O presidente Donald Trump defende uma política protecionista através de seu slogan "American First".
O presidente Donald Trump defende uma política protecionista através de seu slogan "American First". REUTERS/Jonathan Ernst
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Nessa visão do mundo reduzida à lei da selva, a Europa é café pequeno para o empreiteiro lourão que oficia na Casa Branca. Os europeus estão divididos, ameaçados por movimentos – e até governos – chauvinistas e xenófobos, totalmente dependentes dos Estados Unidos para garantir a sua segurança, e com imensas dificuldades para enfrentar as provocações de Vladimir Putin.

Além dos graves problemas de vizinhança, como a crise no Oriente Médio e a onda migratória vinda da África. A Europa não tem mais número de telefone (como já dizia Henri Kissinger) e não pode se passar do mercado, das finanças e da tecnologia norte-americana.

Para Trump, a União Europeia não tem condições sérias de prejudicar os interesses do Estados Unidos. Portanto, não custa nada dar uma de machão diante do Velho Continente. E se for possível, acabar com a integração europeia para só ter que tratar com cada estado membro de maneira bilateral.

China tem força para atrapalhar interesses americanos

Só que a China é outro departamento. Trata-se de uma potência que tem vários números de telefone. Claro, Beijing não possui a força econômica e militar dos Estados Unidos, mas tem bastante força para atrapalhar seriamente os interesses americanos.

Aliás, bastou o magnata-presidente avisar que ia aumentar as tarifas de vários produtos de exportação chineses para que os próprios revidassem imediatamente com barreiras contra as exportações americanas. E o fizeram de maneira inteligente, alvejando diretamente as exportações agrícolas de várias regiões rurais onde vive um bom pedaço dos eleitores da direita populista republicana.

A poucos meses das eleições legislativas de meio-mandato não é uma boa notícia para os amigos de Trump que tentam manter a maioria no Congresso. Aliás, até os europeus, junto com os canadenses, também anunciaram aumentos de tarifas visando claramente a base eleitoral do chefe da Casa Branca.

Claro, tanto os chineses quanto os europeus não estão nada a fim de entrar numa guerra comercial global. Uns como os outros, até aceitariam negociar uma melhor repartição dos fluxos comerciais e regulamentações mais camaradas para o comércio internacional. Mas não com um trabuco na nuca.

Para Trump, exportar é bom, importar é ruim

O problema é que Trump tem ideias primitivas e mercantilistas: exportar é bom, importar é ruim. E isso não funciona num mundo globalizado onde todas as grandes empresas e boa parte das médias e até das pequenas são cada vez mais dependentes dos mercados e das cadeias de produção transnacionais onde todo mundo exporta e importa ao mesmo tempo.

Levantar barreiras que podem interromper essa maquinaria comercial planetária só pode provocar uma crise econômica mundial, bem mais profunda do que a crise financeira de 2008. E provavelmente mais devastadora do que a grande depressão de 1929.

Ainda não estamos aí. E por enquanto, as novas ameaças de barreiras comerciais só perturbam uma parte ínfima do PIB mundial. O problema é que os mercados detestam situações incertas. E que todas essas ameaças já estão provocando uma queda generalizada dos investimentos e dos novos projetos econômicos. E como sempre, quando impera a lei da força, quem mais perde são os mais fracos. As primeiras vítimas de uma guerra mercantilista entre os grande polos econômicos mundiais serão, como sempre os países emergentes e em desenvolvimento.

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