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Linha Direta

Pressão internacional ameniza tensão política na Venezuela

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Após alcançar um nível crítico, com a anulação do referendo revogatório, a pressão internacional na Venezuela está conseguindo reduzir a tensão política. Autoridades do Vaticano, da União de Países Sul-Americanos (Unasul) e também dos Estados Unidos intermediam uma aproximação entre governo e oposição, interrompida há anos, e que, pelo menos nesta semana, vem trazendo alguns resultados, como a liberação de alguns opositores que estavam presos.

Passeata realizada pelos defensores do presidente venezuelano Nicolás Maduro na terça-feira (1°).
Passeata realizada pelos defensores do presidente venezuelano Nicolás Maduro na terça-feira (1°). REUTERS/Marco Bello
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Elianah Jorge, correspondente da RFI em Caracas

Os resultados na agenda política venezuelana com a intermediação internacional foram imediatos. Alguns chamam a reunião de diálogo, outros, de encontro, mas fato é que os resultados da conversa entre governo e oposição já estão sendo sentidos.

Intermediado pelo representante do Papa Francisco e por membros da Unasul, a conversa realizada na madrugada do último domingo (30) durou mais de seis horas e não contou com todos os partidos que integram a coligação opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD). No total foram definidas quatro mesas de trabalho, entre elas a da temática presos políticos.

Como resultado imediato, foram liberados alguns opositores, embora mais de uma centena continue na cadeia. Quem pode ser colocado em liberdade nas próximas horas é Antonio Ledezma, ex-prefeito da região metropolitana de Caracas e que está em prisão domiciliar.

Oposição realiza mais uma manifestação

A oposição havia convocado para esta quinta-feira (3) uma marcha até o palácio presidencial do Miraflores, o que poderia significar o início de um confronto trágico, já que aliados do governo estavam dispostos a defender a sede do Poder Executivo. Porém, a rota foi alterada e a marcha em defesa dos direitos da oposição será em uma das principais avenidas da capital Caracas.

A convocação foi feita de última hora e esteve cercada de desinformação, tendo em vista que a oposição anteriormente havia acatado a sugestão de não convocar mobilizações na rua. O sub-secretário de Estado dos Estados Unidos para Assuntos Políticos, Thomas Shannon, foi embora na quarta-feira (2) após uma visita de três dias a Caracas para apoiar o diálogo.

A união da Mesa da Unidade Democrática

Alguns partidos se recusaram a participar da reunião, embora façam parte da Mesa da Unidade Democrática. Mas a oposição garante que está unida e inclusive acusa o presidente Nicolás Maduro de tentar atrapalhar o bom funcionamento da coligação.

Quem acompanha a situação sabe muito bem que não é de hoje que há fissuras entre os partidos que compõem a MUD. Isso ficou ainda mais evidente com a indefinição que antecedeu a reunião com o enviado do Vaticano. Somente Jesús Chuo Torrealba, secretário executivo da coligação opositora, compareceu ao diálogo. Foi ele que saiu na foto apertando a mão do presidente Maduro.

Para o governador Henrique Capriles Radonsky só será possível falar de diálogo quando surtirem resultados concretos das quatro mesas de trabalho, que são: políticos presos, revisão do cronograma eleitoral, baixar o tom da linguagem entre ambas as partes e revisão do tema dos deputados do Estado Amazonas. Além das divergências internas, há um forte custo político para a MUD: é o que garante o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Henry Ramos Allup.

Entre os eleitores, resta a frustração do adiamento do referendo revogatório e o desânimo frente uma oposição debilitada e que perde credibilidade.

Popularidade de Maduro em queda

Na esfera nacional, Maduro vem fazendo uma espécie de malabarismo político, afinal foi por pressão internacional que ele aceitou o diálogo com os opositores. Mesmo se esforçando, ele quebrou uma das regras das negociações, que é evitar as agressões verbais ao afirmar que o Voluntad Popular é um partido de terroristas.

Em 2014 houve um ensaio de aproximação pulverizado após o agressivo desmantelamento de um acampamento de estudantes que protestavam frente ao edifício de um organismo internacional. Esta semana o presidente lançou o próprio programa de salsa, um ritmo caribenho muito popular na Venezuela, e antecipou o Natal dias após aumentar o salário mínimo em 40%, sem levar em conta que os venezuelanos estão sofrendo também com a escassez.

Já no plano internacional, o fato de os principais atores do chavismo aceitarem o diálogo ameniza a fragilizada imagem de um governo que é alvo de críticas em vários aspectos.

Futuro político da Venezuela

O presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, afirmou que nos próximos dias haverá anúncios importantes e decisivos. Já para Capriles Radonsky a data do próximo diálogo, 11 de novembro, será decisiva. Enquanto isso, integrantes do partido Voluntad Popular garantem que se até o dia 12 de novembro o país não voltar para o caminho da Constituição, será preciso declarar abandono de cargo do presidente Maduro.

Alguns setores da oposição garantem que o governo venezuelano tomou a via ditatorial ao não garantir a realização do referendo revogatório, conforme previsto na Constituição e, inclusive, defendido pelo ex-presidente Hugo Chávez. Alguns analistas garantem que o chavismo sairá fortalecido por causa do diálogo ou pelo menos ganhará mais tempo no poder enquanto a crise continua. Já a oposição tende a perder a credibilidade entre os partidários e corre o risco de sofrer uma fratura interna.

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