O Paraguai é um país pequeno e pobre. A Venezuela é bem maior e cheio de petróleo. Dois pesos, duas medidas. A prova cabal foi feita pela Unasul, o organismo de articulação política sul-americano que se vangloria de poder resolver os problemas da América do Sul de maneira mais justa e equitativa do que os foros onde participam os Estados Unidos ou países europeus.O Paraguai foi sumariamente suspenso do Mercosul e da Unasul, em junho do ano passado, depois do impeachment do presidente Lugo por amplíssima maioria dos parlamentares, num ato perfeitamente legal e de acordo com as regras constitucionais. Na época, os dois organismos regionais haviam caracterizado os acontecimentos como um “golpe parlamentar” que não respeitava o espírito da democracia. Mas quando se trata do regime bolivariano de Caracas este “espírito” democrático torna-se profundamente elástico.A avalanche de irregularidades cometidas pelo poder bolivariano durante a recente campanha eleitoral, o abuso descarado da máquina governamental e da mídia, e a vitória, quase derrota, de Nicolàs Maduro, por um numero ínfimo de votos, nada disso foi considerado um atentado ao famoso espírito democrático da região.Em vez de mostrar ao mundo que a região já está madura para defender os seus regimes democráticos com critérios objetivos e sérios – e sem a ajuda dos americanos e dos europeus – a maioria dos sul-americanos só provaram que, para eles, o que conta é uma concepção ideológica do que é ou não democracia. Quando a esquerda senta em cima das regras é democrático, quando, supostamente, é a direita é “golpe”. Não há dúvida: estamos progredindo! E o apoio imediato à eleição de Maduro por estes baluartes da democracia que são a Coreia do Norte, a Bielarus, o Irã e a Rússia mostra que a Unasul está no bom caminho para a democracia de araque.O Paraguai não só “impichou” um presidente de esquerda, mas acaba de eleger um presidente de direita. E que direita! Nada mais nada menos do que Horacio Cartes, candidato do Partido Colorado que mandou no país durante seis décadas, incluindo os anos da ditadura do general Stroessner. E aliás, o novo presidente paraguaio não é flor que se cheire, regularmente acusado de tráfico de divisas, contrabando e corrupção.Com organismos regionais que só defendem a democracia que lhes convêm, a velha Organização dos Estados Americanos, com a América do Norte e Central dentro, está fazendo falta. Ai que saudades da OEA!Clique acima para ouvir a crônica completa de política internacional de Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
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