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Impeachment/Dilma

Dilma responde a senadores com ex-presidente Lula na plateia

Depois de fazer um pronunciamento de cerca de 45 minutos no qual denunciou um “golpe de Estado”, “golpe parlamentar” e uma “ruptura democrática” diante da eventual aprovação de seu impeachment, a presidente Dilma Rousseff faz uso da palavra para responder aos diversos questionamentos dos senadores favoráveis e contra a sua destituição.

A presiente Dilma Rousseff apresenta um gráfico durante uma de suas respostas aos senadores.
A presiente Dilma Rousseff apresenta um gráfico durante uma de suas respostas aos senadores. REUTERS/Ueslei Marcelino
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Do enviado especial a Brasília,

O discurso e os debates de Dilma no plenário são observados por um grupo de 30 convidados da presidente, entre eles ex-ministros de seu antigo governo, o cantor Chico Buarque e o ex-presidente Lula, que preferiu se limitar nos comentários durante o primeiro intervalo da sessão.

Questionado sobre o discurso de Dilma, Lula foi econômico nas palavras: “Foi muito bom, do tamanho que precisava ser”. Sem detalhar sua opinião, o ex-presidente acrescentou: “Sabe, às vezes acontece de a gente falar para ouvidos moucos dos outros”.

No entanto, Lula deu a entender que vai se expressar ao final da intervenção da presidente. “Deixa passar mais um pouco, que eu tenho interesse em falar, mas está muito cedo ainda”, afirmou ao deixar o lugar reservado aos convidados para almoçar com Dilma Rousseff.

Durante a primeira fase de sua intervenção no Senado, pela manhã e no início da tarde, o receio de um clima de tensão e trocas de acusações duras entre Dilma e seus opositores ser dissipou na medida em que os questionamentos foram sendo feitos e respondidos pela presidente, sem alteração de ânimos.

A troca entre Dilma e senadores pró-impeachment é recheada de declarações e acusações duras. A presidente se refere ao processo como um “desvio de poder”, declara-se vítima de um golpe e de “usurpadores do poder”, em referência principalmente ao seu vice de chapa, Michel Temer, e ainda diz ser alvo de machismo e misoginia.

Seus aliados, como a senadora Gleisi Hoffmann, também se referem ao processo como um “atentado à democracia” e chegou a falar de um momento “cretino do parlamento”. Ela voltou a insistir que o Senado não tem moral para julgá-la.

Senadores também usam expressões fortes para interpelar a presidente. Aécio Neves (PSDB-MG) lembrou que a presidente que ele mentiu durante a campanha eleitoral de 2014 e jogou o Brasil em um abismo econômico. Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse à Dilma Rousseff que ele cometeu um estelionato eleitoral.

Apenas durante a fala da senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), em defesa da ação da presidente e condenando o processo de impechment que considera injusto, o presidente da sessão chegou a pedir o fim de manifestações verbais feitas pelos senadores de oposição no plenário.

O ex-presidente Lula entre os convidados da presidente Dilma Rousseff na plateia do Senado.
O ex-presidente Lula entre os convidados da presidente Dilma Rousseff na plateia do Senado. REUTERS/Ueslei Marcelino

Alternando comentários do contexto político e respostas de conteúdo mais técnico, com o apoio de gráficos, para explicar as denúncias das manobras fiscais que embasam o pedido de impeachment, a presidente Dilma utiliza um tom enérgico, firme, combativo, mas com o cuidado de evitar confrontos abertos contra seus julgadores.

No entanto, suas análises, denúncias, respostas e explicações não convencem os senadores declaradamente pró-impeachment. “Não há nenhum fato novo em suas respostas, ela respondeu apenas parcialmente um de meus três questionamentos, se negando a falar”, afirmou Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator da Comissão Especial de Impeachment do Senado.

Impeachment para "reciclar" a esquerda

Cristovam Buarque (PPS-DF), um dos 51 senadores inscritos para questionar a presidente, se disse ainda mais convencido de sua decisão. “Meu voto será pelo impeachment e com muita tristeza, por quatro razões: primeiro por causa do fracasso do governo, das narrativas falsas, da manipulação das informações, do dinheiro irresponsavelmente gasto. Segundo, riscos do futuro. Acho uma temeridade a volta da presidente Dilma sem base parlamentar, sem rumo na economia. Terceiro, porque temos base legal, que são os dois crimes, e mesmo com discordâncias, dá para acreditar. E quarto, pessoalmente, acho que o impeachment será bom para as esquerdas, na oposição, se reciclarem. A gente precisa de uma esquerda, que faça reformulações, utopias, que o PT e a esquerda perderam”, disse.

Ao avaliar o discurso da presidente na abertura da sessão, o ex-petista mostrou decepção. “Foi um discurso bem comportado, não foi um discurso ruim, mas ela tinha que ter se baseado em Fidel Castro, que aos 26 anos, fez um discurso com o título: ‘A história me absolverá’. Eu esperava dela um discurso prá valer, em relação ao que a história vai dizer dela, e não por causa dos programas sociais, que são apenas assistenciais, embora positivos. Mas não transformadores. Era para ser um discurso de como ela gostaria de ser vista pela história. Não vi isso. Não sei se vai ser um discurso de transcendência na história”, lamentou.

A presidente Dilma Roussef é questionada pelo senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
A presidente Dilma Roussef é questionada pelo senador Ronaldo Caiado (DEM-GO). REUTERS/Ueslei Marcelino

A advogada Janaína Paschoal, coautora do pedido de afastamento definitivo da presidente, contestou um dos pontos abordados no pronunciamento de Dilma Rousseff: a misoginia, da qual se diz vítima. “Eu pensei muito antes de fazer esse pedido de impeachment, O fato de a presidente ser mulher, fez com que eu pensasse mais. Seria eu a entrar com o processo para tentar tirar do poder a primeira mulher eleita à presidência da República? Não para a história, mas para mim. Estabeleci o seguinte raciocínio: é justo também ser protegida por ser mulher? Se fosse homem eu processaria, se for mulher não vou processar? Eu não admito esse discurso de dois pesos e duas medidas”, afirmou.

“Não consigo ver da minha parte, nenhum tipo de misoginia, machismo, ou seja o que for”, acrescentou.
“Se eu achasse que fosse golpe não entraria com o processo. Tem fundamentação jurídica, está muito claro. Mas é o momento da defesa dela. Ninguém pode proibi-la de dizer o que ela quiser em sua defesa”, concluiu.
 

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