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Um pulo em Paris

Uso de ChatGPT divide estudantes e acadêmicos na França

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A ferramenta de inteligência artificial ChatGPT também provoca intenso debate público na França. O robô, lançado no final do ano passado pela empresa americana OpenAI, faz sucesso entre internautas no mundo todo, mas foi proibido esta semana pela SciencesPo, uma universidade que forma as elites intelectuais francesas.

O chatrobô também pode produzir desinformação.
O chatrobô também pode produzir desinformação. AP - Peter Morgan
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O ChatGPT é uma inteligência artificial que responde a perguntas sobre qualquer assunto – política, futebol, cinema, economia, culinária –, produzindo textos de qualidade em diversos idiomas, em poucos segundos. O robô ainda organiza tarefas, resolve cálculos de matemática e problemas de física. Ele armazena uma imensa base de dados, estruturada em várias camadas que se comunicam para fornecer uma resposta precisa à solicitação do internauta.

É uma espécie de super Google, mas melhorado, segundo especialistas, por ter sido treinado a redigir textos com riqueza de detalhes, enquanto o Google indica apenas fontes onde a pessoa pode encontrar informações sobre o assunto que pesquisa.

O ChatGPT é considerado uma ferramenta útil, mas que tem criado polêmica nas salas de aula por substituir o trabalho do estudante e facilitar a cola. Há poucos dias, o Instituto de Ciências Políticas de Paris, também conhecido como SciencesPo, que forma as elites da França em várias áreas, como administração pública, finanças, direito, comércio exterior, jornalismo, cinema, decidiu proibir o uso do ChatGPT pelos estudantes. A punição para o infrator será a expulsão da universidade.

A diretora da SciencesPo, Myriam Dubois-Monkachi, reconheceu que a ferramenta é "fenomenal", mas "perversa para a integridade acadêmica". Na opinião dela, o robô cria uma injustiça em relação àqueles que se esforçam para produzir um trabalho original e autêntico.

Entrevistados por canais de televisão, universitários franceses disseram que a ferramenta é boa para fazer resumos, economiza pelo menos 30% do tempo em pesquisa, e serve de inspiração para que eles desenvolvam outras ideias. O ChatGPT pode estimular a imaginação, mas não vai substituir um texto autoral, resultado de uma reflexão acadêmica que produz conhecimento novo.

Na França, os professores têm experiência em detectar plágio e amedrontam os alunos sobre esse tipo de fraude. Há bastante tempo existem ferramentas que ajudam a detectar se o estudante copiou trechos de um livro, de um autor conhecido ou de um colega veterano.

O Ministério da Educação Nacional diz que acompanha o debate sobre essa inteligência artificial na sociedade, mas estuda, principalmente, de que forma ela poderia ser usada como uma ferramenta pedagógica.

Outra questão controversa é a possibilidade de o ChatGPT propagar desinformação, simplesmente porque ele armazena em seu banco de dados informações de todos os tipos de fonte, inclusive duvidosas. 

Medo do progresso?

Um engenheiro francês brilhante, dono de grande cultura, Yves Montenay, disse em um artigo nesta semana que os franceses deveriam ficar contentes com a qualidade dos textos produzidos pelo robô. As respostas do ChatGPT são redigidas em um francês de alto nível. Nesse aspecto, a ferramenta representa uma esperança de salvar a diversidade linguística e acabar com o "franglês", uma mistura de inglês e francês popularizada pelos millenials e a geração Z. 

No mundo dos negócios, os franceses têm o hábito de utilizar abreviações, siglas e muitas expressões em inglês, criando uma linguagem cifrada e incompreensível, para desespero dos puristas.  

Alguns intelectuais e acadêmicos dizem que a polêmica atual é a mesma do tempo em que surgiram as calculadoras. Inicialmente, proibiram o uso das máquinas nas escolas, porque o aluno tinha que aprender a fazer cálculos matemáticos de cabeça. Depois, a calculadora foi liberada e o ganho de tempo não prejudicou o desenvolvimento das novas tecnologias, muito pelo contrário.

Uma pesquisa de maio do ano passado feita pela empresa de consultoria Mazars mostrou que 38% dos franceses não sabem como funcionam os algoritmos e a inteligência artificial; 19% dos entrevistados nunca tinham ouvido falar do tema.

A fratura digital também permanece uma realidade no país. Estudos mostram que dos 67,7 milhões de habitantes, 14 milhões de franceses têm dificuldades para utilizar ferramentas digitais. É um dado preocupante diante do avanço da desmaterialização que está se generalizando em bancos, no comércio e nos procedimentos administrativos dos serviços públicos.

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