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Um pulo em Paris

França: usuários do TikTok acreditam mais em fake news do que na ciência

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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) neste mês apontou para um fenômeno preocupante entre jovens de 11 a 24 anos: a desconfiança na ciência. O motivo é a forte propagação de fake news que vem sendo observada principalmente no TikTok.

O TikTok é a rede social preferida dos jovens franceses, utilizada não apenas para diversão, mas para informação.
O TikTok é a rede social preferida dos jovens franceses, utilizada não apenas para diversão, mas para informação. AP - Martin Meissner
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Os números são surpreendentes: apenas 33% dos jovens franceses acreditam que a ciência é benéfica para a humanidade. Outros 41% pensam que a ciência é indiferente. Essa desconfiança deu um grande salto em 50 anos. Segundo o Ifop, em 1972, 55% dos franceses acreditavam na ciência.

Na era das redes sociais, as fake news atraem a atenção das gerações mais jovens na França. Entre os entrevistados, 73% reconhecem utilizar ao menos uma plataforma com frequência – Tik Tok, Instagram, Snapchat ou Facebook. Mas a preferida é, sem dúvida, a utilizada para a produção e divulgação de vídeos e coreografias, usada não apenas para diversão, mas como fonte de informação.

Definitivamente, a chamada “geração TikTok” não é adepta dos veículos tradicionais de jornalismo. Apenas 23% dos franceses de 11 a 24 anos assistem a jornais na TV. Em sites ou aplicativos de notícias, essa audiência é ainda menor: 17%. A mídia que menos atrai o interesse dos jovens da França é a imprensa escrita tradicional: 10% dos entrevistados pelo Ifop leem jornais em papel.

O resultado de se informarem quase exclusivamente pelas redes sociais é confiarem em teorias conspiracionistas. Nessa mesma faixa dos 11 aos 24 anos, um a cada seis entrevistados disse acreditar na teoria da Terra plana, segundo a qual o planeta não teria o formato geoide.

Além disso, quase 30% dessa categoria etária na França defende o Criacionismo e não pensa que os seres humanos são fruto de uma longa evolução de espécies, mas de algo sobrenatural ou espiritual. Um a cada quatro tiktoker francês recusa as teorias evolucionistas, que são as adotadas pelos cientistas e ensinadas na escola.

Outro boato popular entre os jovens franceses é o chamado “Moon Hoax”, segundo o qual os astronautas nunca pisaram na Lua. Para 20% dos entrevistados pelo Ifop, Neil Armstrong jamais protagonizou a célebre cena transmitida ao vivo, em 1969, descrita por ele como “um pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para humanidade”.

A segunda teoria da conspiração preferida dos jovens na França é a de que os extraterrestres teriam tido um papel fundamental entre as primeiras civilizações. Assim, 20% dos entrevistados com entre 18 e 24 anos acredita que as pirâmides egípcias foram erguidas por alienígenas.

Personalidades têm mais credibilidade que cientistas

Em 2020, um tuíte do proprietário da Tesla e da SpaceX, o bilionário sul-africano Elon Musk, deixou a comunidade científica de cabelo em pé. Segundo ele, é “óbvio” que as pirâmides do Egito foram construídas por aliens. Na época, a declaração do bilionário irritou o governo egípcio, que rebateu a informação. Vários arqueólogos, especialistas nas pirâmides egípcias e cientistas criticaram o comportamento de Musk, apontando que há muitas provas de que esses monumentos foram erguidos por milhares de pessoas.

No entanto, com a legião de seguidores e admiradores que Musk tem, a falsa informação parece ter mais força e é adotada como verdade por muitos jovens. Esse culto a personalidades famosas ganha uma menção especial na pesquisa do Ifop, que cita o ex-presidente americano Donald Trump, famoso por propagar ideias controversas e notícias duvidosas.

Na França, 31% dos jovens acredita na teoria do magnata de que as eleições americanas de 2020 foram fraudadas. Também pensam que o ataque contra o Capitólio, em 2021, não existiu e foi algo inventado pela mídia para acusar os partidários de Trump. 

Os próprios jovens entrevistados pelo Ifop reconhecem confiar em qualquer informação propagada por parte de personalidades que admiram. No TikTok, a situação é ainda mais grave: 41% dos usuários de 11 a 24 anos creem nos conteúdos postados por influenciadores, principalmente se eles tiverem um grande número de seguidores.

Não é à toa que a Assembleia da França está debatendo um projeto de lei para enquadrar os influenciadores. A medida deve se focar naqueles que vendem produtos, que têm parcerias com marcas e interesses comerciais por trás dos conteúdos.

O governo francês também criou um site para pedir a opinião dos cidadãos sobre esse projeto de lei e pedir ajuda para definir a atividade do influenciador, seus direitos e deveres.

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