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Um pulo em Paris

França pede que sigilo do confessionário seja quebrado em caso de abusos de menores na Igreja

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O ministro francês da Justiça, Eric Dupond-Moretti, disse nessa sexta-feira (8) que o sigilo do confessionário deve ser quebrado quando a confissão envolver casos de abuso sexual de menores. A declaração foi feita após a divulgação de um relatório que revelou a existência de cerca de 3 mil padres e religiosos autores de crimes de pedofilia na França, desde 1950.

Governo francês quer que padres que tenham conhecimento de casos de pedofilia no confessionário revelem os crimes.
Governo francês quer que padres que tenham conhecimento de casos de pedofilia no confessionário revelem os crimes. REUTERS/Alessandro Bianchi
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O ministro reagiu a uma declaração feita durante a semana pelo monsenhor Éric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência Episcopal da França (CEF), que defendeu o segredo do confessionário. "O sigilo de confissão se impõe sobre nós e é mais forte que as leis", disse o religioso.  

A posição do monsenhor Moulins-Beaufort, que lidera os bispos do país, suscitou uma reação imediata da classe política francesa. "Nada é mais forte que as leis", disse o porta-voz do governo, Gabriel Attal. O arcebispo também foi convocado pelo ministro do Interior, Gérald Darmanin, que espera explicações durante uma reunião na terça-feira (12).  

Diante da polêmica, o religioso ponderou suas declarações e disse que "não se opõe ao direito penal francês". 

Sigilo profissional 

Apesar do governo francês considerar a confissão um sigilo profissional, protegido por lei, ele estima que há exceções: o segredo não se aplica às confidências feitas fora do confessionário, nem às agressões contra menores de 15 anos. 

“Se um padre é informado durante uma confissão da existência [de crimes de pedofilia] por parte de uma vítima ou de um autor [das agressões], ele tem uma obrigação de colocar um ponto final nesses atos”, declarou o ministro da Justiça. Dupond-Moretti disse ainda que se um religioso não cumpre essa obrigação, ele "deve ser condenado, pois isso significa que não impediu um crime ou um delito”. Segundo o ministro, os padres “podem alertar as autoridades ou usar qualquer outro meio que permita colocar fim [nas agressões]”.  

O debate foi lançado após a divulgação, terça-feira (5), de um relatório realizado pela Comissão Independente sobre os Abusos Sexuais na Igreja (Ciase), que estimou em 330.000 o número de menores que foram vítimas de abusos por clérigos e laicos que trabalhavam em instituições religiosas na França desde 1950. O Ciase também apresentou uma lista propostas ligadas às possíveis indenização das vítimas, mas também à precaução de novos abusos. A suspensão do sigilo de confissão em caso de crimes de pedofilia fazia parte das preconizações.  

Um dos sete sacramentos 

Esta não é a primeira vez que o tema do sigilo de confissão, um dos sete sacramentos que os fiéis católicos podem receber ao longo de sua vida junto com o batismo e o matrimônio, esteve no olho do furacão por sua relação com casos de abusos. 

Em 2019, a Igreja chilena, que foi alvo de denúncias por abusos contra menores, rechaçou um projeto de lei debatido no país que obrigava a instituição religiosa a romper o sigilo, ao afirmar que se tratava de "um ato sagrado" de reconciliação "com Deus". 

Na prática, um padre que ouve a confissão de um crime grave de um fiel no confessionário, não pode informá-la à polícia, já que o sigilo é "absoluto" em virtude do direito canônico, segundo o arcebispo francês. "Uma informação de 'delictum gravius' que foi conhecida em uma confissão está sob o sigilo sacramental mais estrito", diz um manual de 2020 do Vaticano para lidar com esses casos. 

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