Mulheres relatam alterações no ciclo menstrual após receberem vacina contra a Covid-19
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Ouvir - 06:24
O ciclo menstrual da assistente de projetos Maíra Caldeira sempre foi um "reloginho". Mas duas semanas após tomar a segunda dose da vacina contra a Covid-19, notou uma alteração pela primeira vez em anos. Outros relatos como o de Maíra pipocaram nas redes sociais nos últimos meses, mas não há comprovações científicas de que a vacinação realmente seja a responsável por essas mudanças.
Interrupção da menstruação, fluxo mais intenso e ciclo desregulado foram algumas das mudanças relatadas por inúmeras mulheres no Twitter, segundo matéria publicada na France Info. Nos depoimentos, elas atribuem as alterações no ciclo menstrual à vacinação contra a Covid-19.
dites-moi je suis la à avoir des perturbations de règles depuis le vaccin? 🤡🤡🤡🤡
— 🍭 (@lolalemeec) August 2, 2021
Je n'en doute pas et te crois bien volontiers.
— Maman dracène (@ZetetXCera) August 3, 2021
Le vaccin ne m'angoissait pas, mais les règles avec 8 jours d'avance et qui ont duré 17 jours c'était pesant.
Ao ler os relatos na internet, Caldeira, que vive em Paris, desconfiou de que as alterações no seu próprio ciclo poderiam estar associadas à vacina. “Me chamou bastante atenção, me deixou um pouco preocupada, porque faz no mínimo uns quatro ou cinco anos que eu sei exatamente a data em que o meu ciclo se inicia”, disse em entrevista à RFI.
Caldeira conta que tem conhecimento sobre muitos dos fatores que podem alterar o ciclo menstrual, como mudanças na alimentação, na rotina e até mesmo questões psicológicas. Mas como sua menstruação sempre foi pontual e não havia causa aparente para a mudança, ficou preocupada até identificar a vacina contra a Covid-19 como a possível causa.
“A gente sempre pensa que pode ser um problema de saúde e, na verdade, eu fiquei aliviada [ao considerar a vacina como causa], eu compreendi o porquê, depois de tanto tempo, de ter tido essa mudança no meu ciclo”, declara.
Em julho deste ano, a Agência Nacional de Segurança de Medicamentos da França identificou, pela primeira vez, uma possibilidade potencial de que a vacinação poderia afetar o ciclo menstrual. Porém, essa possibilidade não é uma evidência estabelecida.
A ginecologista e obstetra Natalia Grandini Tannous explica que não há nenhuma comprovação de que a vacina de fato altere o ciclo menstrual. Por outro lado, ela adverte que pode haver uma correlação entre a aplicação de qualquer vacina e alterações na menstruação.
Toda vacina estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos. E as células imunológicas também estão presentes no endométrio, a camada interna do útero. “Não é impossível haver uma relação entre a vacinação e a alteração do padrão menstrual. Mas, ainda assim, essa correlação é pouco provável”, explica a ginecologista.
A médica acrescenta que quando existe uma relação entre vacinação e alteração menstrual, esta deve ocorrer apenas no ciclo imediatamente após a tomada da vacina. Assim, a vacina não seria capaz de provocar mudanças a longo prazo.
Vacinação para gestantes
Tannous reforça a importância de se combater rumores de que o imunizante contra o coronavírus provoque infertilidade ou outros problemas relacionados à saúde reprodutiva da mulher. “A vacina contra a Covid-19 não poderia causar infertilidade, prejudicar a gestação ou provocar aborto. A gente já tem evidências e segurança para recomendar e reiterar a necessidade e a importância da vacinação em todas as mulheres, mesmo naquelas que estão tentando engravidar ou que já estejam grávidas”, insiste a especialista.
Em sua opinião, a vacinação é, na verdade, fundamental para as gestantes, pois foi comprovado que mulheres grávidas podem ter maior risco de desenvolver sintomas respiratórios graves quando infectadas pela Covid-19.
“A Covid na gravidez está associada a eventos adversos também para o bebê, como parto prematuro e crescimento fetal restrito, além do aumento dos casos de pressão alta na gravidez, o que também pode gerar efeitos para a criança. Então não há dúvidas que todas as mulheres em fase fértil devem ser vacinadas e todas as gestantes também”, explica Tannous.
Durante a entrevista para a RFI, a especialista também compartilhou sua experiência pessoal. Ela é mãe da pequena Celeste, que nasceu no final de junho. Como Tannous recebeu a vacina para a Covid-19 em fevereiro, a criança nasceu com uma alta taxa de anticorpos.
“A gente segue tomando todos os cuidados e fazendo nosso isolamento social 'extra' de bebê e pandemia, mas realmente dá uma tranquilidade saber que ela está protegida”, admite a obstetra.
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