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Saúde em dia

Covid-19, estresse e sofrimento: psiquiatra francês diz que o pior já passou

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O psiquiatra e professor Nicolas Franck é chefe do departamento de psiquiatria do hospital Le Vinatier, em Lyon, e responsável pelo ensino da disciplina na universidade Lyon 1. É autor de vários livros sobre saúde mental, sendo o mais recente “Covid-19 e estresse psicológico: 2020 a odisseia do confinamento”. Para este livro, ele realizou uma pesquisa com 20 mil pessoas, para saber como o lockdown afetou a saúde mental dos franceses.

O psiquiatra e professor francês Nicolas Franck é autor do livro sobre Covid-19 e o estresse.
O psiquiatra e professor francês Nicolas Franck é autor do livro sobre Covid-19 e o estresse. © Arquivo pessoal
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"Nós mostramos que, desde a segunda semana do primeiro lockdown, que começou em março, na França, o bem-estar mental da população foi alterado. E que algumas categorias da população sofriam mais que outras. Foi um mal-estar para a população como um todo e um sofrimento, um estresse, particularmente para estudantes, pessoas sozinhas e sem emprego e pessoas que já tinham algum problema mental antes", relata. 

Segundo ele, os profissionais de saúde também estão entre os que mais sofrem. "O principal problema para os profissionais de saúde foi a confrontação com a morte, para aqueles que trabalham nos serviços de reanimação, que veem cenas terríveis. Estes têm risco maior de desenvolver estresse pós-traumático. E para os profissionais de saúde em geral, que tiveram de lidar com uma reorganização dos hospitais pelo afluxo de pacientes graves, há um risco de burnout", alerta. 

Para os profissionais que cuidam da saúde mental da população, a pandemia também pode ser estressante.

"Desde março, nós reorganizamos os hospitais, adotando novas regras diariamente. Nós tivemos privação de saídas para evitar a contaminação, suspendemos consultas de nossos grupos terapêuticos, tivemos de telefonar para todos os nossos pacientes. Nós tivemos uma sobrecarga de trabalho, uma reorganização permanente, com regras que mudam o tempo todo. Foi um teste e um cansaço muito grande para todos os profissionais de saúde."

Capital de saúde mental

Nicolas Franck utiliza o conceito de capital de saúde mental, do qual, segundo ele, todos nós dispomos. Mas em um ano como 2020, nós gastamos todo este capital?

"Realmente, nós demos muito de nós este ano. Os mais resilientes se adaptaram melhor, conseguiram encarar, mas nós estamos, todos, no mínimo, um pouco cansados, desanimados. Este período de festas é a ocasião para quebrar um pouco esta sucessão de eventos difíceis. Para as pessoas mais frágeis, incluindo os profissionais de saúde, pode ser desestabilizador, desanimador, pode levar a um sentimento de que há um obstáculo impossível de superar, e desencadear uma depressão", observa o psiquiatra. 

Para tratar estes problemas advindos da pandemia de Covid, o psiquiatra defende a implantação de um programa de educação para a saúde mental e, sobretudo, a desestigmatização do acesso à saúde mental para a população.

"É fundamental comunicar sobre isso e implementar um programa de educação para a saúde mental, para que os franceses e as pessoas de outros países tenham consciência de que esta dimensão é importante, que ela pode ser alterada pela epidemia e pelas coisas que vêm junto, como a restrição de circulação e a falta de contato social. É mais nesse sentido que a epidemia altera a saúde mental. Então, é preciso primeiro informar, permitir que a população tome consciência desta dificuldade e dispor de ajuda online, por telefone e ter acesso facilitado a um profissional, além de ter um acompanhamento para os mais frágeis", recomenda Franck.

Nova variante preocupa, mas vacina renova esperanças

Segundo o psiquiatra e professor, notícias como a da nova variante da Covid-19 surgida na Inglaterra podem agravar o estado de quem já está em sofrimento por causa da pandemia.

"Isso pode inquietar as pessoas que já são mais preocupadas em relação ao vírus. Pessoas mais velhas, pessoas que têm alguns tipos de TOC, que vão verificar mais, limpar mais… Mas, globalmente, o risco desta nova variante é que os serviços de reanimação sejam saturados de novo e isso impacta todo mundo, porque seria uma razão a mais para irmos para o terceiro lockdown", diz, lembrando que o ministro da Saúde francês já evocou esta possibilidade, caso a epidemia não regrida. 

Para Franck, a chegada da vacina, no entanto, renova a esperança e nos permite sonhar com o futuro.

"Agora, vemos a luz no fim do túnel. A epidemia dura há mais de nove meses e meio. Eu acho que, com a vacina e as próximas etapas, a gente já chegou pelo menos à metade de tudo isso. A gente já passou a maior parte desta epidemia, a esperança começa a voltar e agora podemos ter uma perspectiva de futuro. É importante ser solidário, e restaurar a esperança nos nossos corações".

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