Acessar o conteúdo principal
Saúde em dia

Cânceres "clonados" e tumores virtuais: cientistas apostam em novas tecnologias para tratar a doença

Publicado em:

Na segunda parte da entrevista da RFI com o especialista francês Fabrice André, diretor de pesquisa do Instituto Gustave Roussy, situado em Villejuif, periferia de Paris, ele explica como a ciência busca individualizar cada vez mais os tratamentos contra o câncer. O instituto é o maior centro de combate à doença da Europa.

Fachada do instituto francês Gustave Roussy, em Villejuif, na região parisiense, um dos maiores centros de combate ao câncer do mundo
Fachada do instituto francês Gustave Roussy, em Villejuif, na região parisiense, um dos maiores centros de combate ao câncer do mundo gustaveroussy.fr
Publicidade

Taíssa Stivanin, da RFI

Por que alguém desenvolve um câncer? As causas são múltiplas, diz o cientista francês Fabrice André, um dos maiores pesquisadores em Oncologia do mundo. “Cada câncer é único. Então uma das questões é como podemos prever qual proteína devemos bloquear e qual tratamento deve ser adotado em cada caso. Há diferentes projetos no mundo em torno essa questão, que envolvem a fabricação de cânceres virtuais ”, explica.

O objetivo, diz o cientista francês, é analisar os mecanismos moleculares envolvidos no desenvolvimento dos tumores, o que permitirá seu “bloqueio." Várias pesquisas se dedicam a entender esse processo. Uma delas consiste em criar tumores “vivos” em laboratório, a partir de células cancerígenas recolhidas em biópsias. Elas são colocadas em caixas de plástico, crescem, e se tornam um “clone” do tumor do paciente.

Outra maneira de entender esse mecanismo vem sendo estudada em uma área conhecida como bioinformática, detalha Fabrice André. Nesse caso, os estudos realizados pelas equipes do instituto Gustave Roussy, visam recriar tumores existentes virtuais. Para isso, computadores processam, com programas específicos, os dados das anomalias orgânicas que compõem o câncer de cada paciente e deram origem à doença.

“Desta forma, podemos testar diferentes medicamentos neste câncer e avaliar o que deve ser bloqueado, de maneira precisa”, exemplifica. Os dois estudos citados são realizados no projeto “PRISM”, coordenado pelo cientista, e já estão em fase de testes clínicos, dos quais participam 300 pacientes, segundo Fabrice André.

O cientista francês Fabrice André, um dos mais citados em artigos ceintíficos em todo o mundo e diretor de pesquisa do Instituto Gustave Roussy, em Villejuif.
O cientista francês Fabrice André, um dos mais citados em artigos ceintíficos em todo o mundo e diretor de pesquisa do Instituto Gustave Roussy, em Villejuif. © Taíssa Stivanin/RFI

Os cientistas usam, nos testes com humanos, os remédios mais eficazes testados nos tumores vivos clonados e nos cânceres virtuais dos pacientes. A maior parte deles sofre de câncer do cólon e do pâncreas. Os tumores localizados nessas regiões, explica Fabrice André, são os mais graves em caso de metástase, e é por isso que as pesquisas se concentram nas técnicas para melhorar a sobrevida do paciente, em tempo e qualidade.

A individualização das terapias e a detecção precoce dos casos graves permitirá tratar os tumores com mais eficácia. “São testes clínicos técnicos e comparativos que avaliam se, quando utilizamos essas novas terapias, temos resultados melhores do que em relação à Quimioterapia, por exemplo”, explica.

RNA mensageiro e câncer

Os pesquisadores do instituto Gustave Roussy também desenvolvem desde 2013 um projeto para a utilização do RNA mensageiro. Ele é realizado em parceria com o laboratório alemão BioNTech, que se associou à Pfizer no desenvolvimento da primeira vacina contra a Covid-19, descoberta no fim de 2020.

O RNA é uma outra pista científica que pode levar à criação de uma vacina personalizada para pacientes com câncer, mas até agora, sem grandes resultados, explica o cientista francês. “Uma das razões é que é extremamente difícil de prever qual RNA deve ser introduzido no paciente. Conhecemos o genoma do vírus que causa a Covid-19. O problema do câncer é que tem que encontrar, no genoma de cada tumor e a parte que vai gerar uma reação imunológica que destruirá o câncer, o que ainda não ocorreu”, detalha.

Prevenção

Em todos os casos, evitar o câncer deve continuar sendo uma prioridade em termos de saúde pública. “Já conhecemos inúmeros fatores que provocam o câncer e as pessoas continuam se expondo a eles da mesma maneira: tabagismo, álcool, sol. O público deve ser informado e as pesquisas devem se concentrar na descoberta de novos fatores ambientais que provocam câncer, para evitá-los”, defende o cientista francês.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.