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Saúde em dia

Saúde e meio ambiente: como acertar os ponteiros do nosso relógio biológico

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Como nosso organismo enfrenta a correria do dia a dia, a irregularidade dos nossos horários e as noites curtas? O cronobiologista francês Damien Davenne, diretor de pesquisa da universidade de Caen, na Normandia, explica por que é fundamental respeitar o ritmo circadiano – a variação biológica que coordena o funcionamento do nosso organismo em 24 horas.

O ritmo circadiano é essencial para regular funções como apetite ou o metabolismo
O ritmo circadiano é essencial para regular funções como apetite ou o metabolismo VSC / SCIENCE PHOTO LIBRARY
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Taíssa Stivanin, da RFI

A flutuação fisiológica que organiza as funções orgânicas ignora o modo de vida urbano ocidental: ela é a mesma do tempo dos nossos ancestrais que viviam nas cavernas, alerta o pesquisador francês. Isso significa que, ao ficarmos acordados até tarde, por exemplo, estamos indo além dos limites impostos pela natureza para que nosso corpo funcione corretamente.

“A base temporal do ser humano é a rotação terrestre e nós dependemos dela para viver. Nosso tempo se organiza em torno dessa rotação terrestre, ou seja, do dia e da noite. Desde que o homem apareceu, há 300 mil anos, temos exatamente os mesmos genes, poucas coisas mudaram. Nós funcionamos da mesma maneira há 100 mil ou 200 mil anos”, explica.

As 24 horas de um dia determinam a programação do nosso relógio biológico. Os cronobiologistas, como o pesquisador francês Damien Davenne, estudam essa organização fisiológica dos períodos de atividade e de repouso do homem.

O ritmo circadiano é controlado pelo hipotálamo, situado na base do cérebro, responsável pelo gerenciamento de um grande número de funções corporais. Entre elas, o apetite, a pressão arterial, a temperatura corporal e o metabolismo, além do sono, gerenciado pela melatonina – o hormônio que, basicamente, indica ao organismo que é hora de dormir.

O cronobiologista francês Damien Davenne explica que o advento das lâmpadas LED foi uma "catástrofe" para o sono do homem moderno.
O cronobiologista francês Damien Davenne explica que o advento das lâmpadas LED foi uma "catástrofe" para o sono do homem moderno. © Arquivo Pessoal

O aparecimento da luz artificial fez com que o homem pudesse ficar acordado à noite, o que consequentemente atrapalhou o ritmo circadiano. “Isso teve consequências catastróficas para o nosso ritmo biológico", diz o cientista francês. Não fomos programados para ajustar a luz de acordo com nossa vontade."

Lâmpadas LED prejudicaram ainda mais o ritmo circadiano

As doenças do sono eram raras antes do surgimento da eletricidade, no século 19. A tal ponto que alguns cientistas batizaram esses males de “Doença de Edison”, em referência a Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica. 

Uma outra invenção, décadas mais tarde, viria desajustar ainda mais o nosso relógio biológico e nossa capacidade nata de diferenciar o dia da noite: a descoberta das lâmpadas LED, nos 60, um diodo semicondutor que, quando ativado, emite a chamada luz azul, um espectro luminoso responsável pela inibição da melatonina.

Segundo Damien Davenne, a tecnologia veio, definitivamente, desajustar os ponteiros do nosso relógio biológico. A lâmpada LED emite ondas compatíveis com a percepção humana e, usada na maioria das telas, ela atrapalha a regulação do sono, afirma o especialista. "Nosso relógio biológico é particularmente sensível a essa luz e isso o desregula completamente. O organismo, por enquanto, não consegue se adaptar a isso”, reitera.

A esperança é que novas tecnologias “corrijam” esse problema causado pelas lâmpadas LED. Estudos mostram que, no século 20, o homem perdeu cerca de duas horas de sono diárias, motivado também por questões comportamentais. A ideia de que dormir “é perda de tempo” integrou, por muito tempo, o imaginário ocidental.

A urbanização, o advento da eletricidade e das lâmpadas LED vieram perturbar nosso ritmo circadiano.
A urbanização, o advento da eletricidade e das lâmpadas LED vieram perturbar nosso ritmo circadiano. © Pixabay/pierre9x6

Diferenças individuais

A maneira como o corpo de cada um vai reagir à falta de sono é muito pessoal, explica Damien Davenne. “Essa programação é individual e genética. Não podemos fazer nada. Somos mais matutinos ou noturnos, dormimos mais ou menos, e devemos nos inteirar desses parâmetros”, diz. Essas características individuais, ressalta, devem ser respeitadas para preservar a saúde de cada indivíduo.

O risco, caso contrário, é enfrentar as consequências provocadas pela falta de sono. A primeira delas é cognitiva: a falta de descanso apropriado afeta os tecidos cerebrais e diminui a capacidade de nosso sistema imunológico para enfrentar as infecções. “O sono serve para que a gente se recupere das atividades realizadas quando estamos acordados e para que possamos continuar a viver. Temos que fazer o que estiver a nosso alcance para respeitar esse tempo de repouso", conclui o cronobiologista francês.

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