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Saúde em dia

Covid-19: livre circulação do vírus favorece aparecimento de “híbridos”

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Dois anos depois do início da pandemia de Covid-19, o SARS-Cov-2 ainda circula ativamente pelo mundo, mas a maioria dos países flexibilizou as medidas de proteção, como o uso de máscaras e o distanciamento social. Na França, assim como em muitos outros lugares, a vida voltou ao normal.

Imagem do vírus SARS-CoV-2: em janeiro, um cientista do Chipre anunciou a descoberta da deltacron, híbrido que combina as variantes delta e ômicron.
Imagem do vírus SARS-CoV-2: em janeiro, um cientista do Chipre anunciou a descoberta da deltacron, híbrido que combina as variantes delta e ômicron. AP
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Taíssa Stivanin, da RFI

Milhares de infecções são registradas todos os dias na França, mas as contaminações não saturam mais os hospitais como no início da pandemia, em 2020. A alta taxa de vacinação protege a população das formas graves, porém, a livre circulação do SARS-Cov-2, gera um terreno propício para o aparecimento dos chamados “híbridos”.

O surgimento dos híbridos acontece quando duas pessoas são contaminadas simultaneamente por duas variantes diferentes. Os vírus trocam fragmentos de RNA e essa recombinação genética resulta em uma cepa com características de ambos, que em seguida infecta outro indivíduo. O processo é uma evolução natural dos vírus.

Em todo o mundo, desde o início da pandemia, os cientistas já descobriram centenas de híbridos do SARS-Cov-2. Entre eles está o XE, uma mistura de duas cepas da ômicron, a BA.1 e a BA.2, o XF - que mistura a delta e a ômicron - além do famoso deltacron. Esta cepa especificamente preocupa os cientistas porque teria conservado o potencial da variante delta em provocar casos graves.

“O vírus é capaz de se modificar, talvez não indefinidamente, mas há recombinações possíveis entre as diferentes famílias”, disse o infectologista francês Benjamin Davido, em entrevista à RFI. De acordo com o pesquisador, a flexibilização quase generalizada das medidas de proteção favorece a circulação de variantes de diferentes hemisférios, como já acontece com a gripe.

Isso explicaria em parte por que os governos que adotaram a estratégia “zero covid” não estão sendo bem-sucedidos no controle da propagação do vírus. “É o que está acontecendo atualmente na Ásia, e em países como China, Singapura ou Hong Kong. Nesses países, a população foi pouco exposta ao vírus e está sendo violentamente atingida pela onda ômicron”, observa Davido.

O infectologista francês Benjamin Davido acredita que a guerra ma Ucrânia pode contribuir para o aparecimento de "incubadoras de variantes".
O infectologista francês Benjamin Davido acredita que a guerra ma Ucrânia pode contribuir para o aparecimento de "incubadoras de variantes". © Arquivo pessoal

Guerra pode complicar pandemia

Com a livre circulação do SARS-CoV-2, o infectologista francês também alerta para o risco do surgimento de “incubadoras de variantes” entre os vacinados e o efeito negativo da guerra na Ucrânia sobre a pandemia. “A situação entre a Rússia e a Ucrânia é, atualmente, preocupante. O monitoramento das doenças infecciosas é difícil e pode contribuir para modificar o vírus. Isso favorecerá o aparecimento de outras variantes, como a ômicron, nos próximos anos”, prevê.

Muitas questões ainda continuam em aberto: com quais sequelas os contaminados terão que conviver após a cura? Há risco de outra cepa perigosa surgir no outono no hemisfério norte? As vacinas poderão ser “atualizadas” a tempo para proteger as populações? Apesar de todas essas incertezas, o infectologista francês tem uma visão otimista sobre a evolução da pandemia que, acredita, caminha em direção à fase endêmica.

“Infelizmente, o vírus matou os mais frágeis. Essa é a história das doenças infecciosas. Um vírus, em média, gera ondas sucessivas durante aproximadamente três anos e depois se torna sazonal. Foi o que aconteceu com a gripe espanhola no início do século 20”, exemplifica.

A vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos tem apenas um terço da dose adulta
A vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos tem apenas um terço da dose adulta AP - Rogelio V. Solis

Imunidade coletiva

O infectologista francês ainda lembra que o SARS-Cov-2 sofreu mutações para poder contaminar o maior número de pessoas possível, sem necessariamente causar formas mais graves. Segundo ele, isso não significa que não seja perigoso, mas a vacinação e a exposição das populações ao vírus as protegem de hospitalizações prolongadas e morte.

Diversos estudos mostram que os imunizantes combinados à infecção geram forte proteção, ativando a imunidade humoral, formada por anticorpos específicos, e a celular, mediada pelos linfócitos T. Essas células do chamado sistema adaptativo, essenciais para o sistema imunitário, são mais ou menos eficazes em função de diversos parâmetros: um deles é a exposição a outros vírus ou bactérias ao longo da vida do indivíduo.

Sem o surgimento de uma nova cepa, a gestão do SARS-Cov-2 será parecida com a da gripe, observa Benjamin Davido. “De toda maneira, teremos uma imunidade coletiva com a ômicron, que não vai durar de maneira indefinida, mas por um período determinado.” Há cada vez menos casos graves, e a impressão, segundo ele, é que o vírus está se tornando menos agressivo.

“O vírus já atingiu os mais vulneráveis e as pessoas com mais risco de acabar no hospital. Além disso, houve uma intensa vacinação em nível internacional, incluindo a França, que faz com que estejamos, de uma maneira geral, protegidos”, reitera.

Um dos desafios, sublinha, é fazer com que a população entenda a importância da vacinação periódica com imunizantes à base de RNA, além da utilização das ferramentas existentes para frear a circulação da doença, quando for necessário. O fim de uma onda, lembra, não significa o fim da epidemia – e a gripe é o melhor exemplo. O especialista ressalta que é importante preparar o futuro, para evitar a saturação dos hospitais, como ocorreu nos dois primeiros anos da pandemia de Covid-19.

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