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Saúde em dia

França: neurocirurgiões utilizam realidade virtual para preservar área da cognição social no cérebro

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Para tratar lesões cerebrais, incluindo a epilepsia, tumores cerebrais ou outras doenças, a equipe do neurocirurgião francês Philippe Menei, do Centro de Pesquisa em Cancelorologia e Imunologia de Nantes, no nordeste da França, opera o paciente acordado. O objetivo é poupar as áreas cerebrais responsáveis pela linguagem ou a motricidade.

Realidade virtual ajuda neurocirurgiões a identificarem áreas que devem ser preservadas durante a intervenção para curar lesões
Realidade virtual ajuda neurocirurgiões a identificarem áreas que devem ser preservadas durante a intervenção para curar lesões Getty Images/Douglas Sacha
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Taíssa Stivanin, da RFI

Durante o procedimento, os pacientes são totalmente anestesiados para a instalação no bloco operatório e, ao mesmo tempo, recebem um anestésico local, aplicado na pele do crânio, que é a estrutura mais sensível da cabeça. Quando os cirurgiões têm acesso ao cérebro, o paciente é acordado, mas não sente dor.

O objetivo é testar se zona a ser operada pode comprometer os movimentos ou a linguagem. “Todos nós temos a mesma rede cerebral, mas há variações individuais”, explica o médico francês. Para operar com o mínimo de sequelas possível, os neurocirurgiões realizam, durante a intervenção, a chamada cartografia cerebral.

“Utilizamos a chamada estimulação elétrica. Temos um pequeno eletrodo que paralisa uma área do cérebro de cerca de um centímetro quadrado, durante alguns segundos. Pedimos ao paciente que fale, e, se localizamos uma área importante para a linguagem, ele terá dificuldade de falar se encostarmos o eletrodo nessa zona cerebral", explica.

A região da linguagem, geralmente, se situa no hemisfério esquerdo, explica o neurocirurgião francês. Por essa razão, esse tipo de técnica é utilizada quando as lesões são detectadas nessa área.

O neurocirurgião francês Philippe Menei utiliza a realidade virtual para operar seus pacientes
O neurocirurgião francês Philippe Menei utiliza a realidade virtual para operar seus pacientes © Divulgação

Realidade virtual

Outras regiões do cérebro, entretanto, podem ser afetadas durante a cirurgia, como a da chamada cognição social, ou comunicação não-verbal. Ela se traduz pelo olhar e expressões faciais sutis que, ausentes, prejudicam a interação do indivíduo com o seu meio. Essas funções estão localizadas no hemisfério direito, explica Philippe Menei.

“Essa comunicação é extremamente importante e utilizamos todos os dias sem perceber: a maneira como olhamos as pessoas, a maneira como você exprime as emoções no rosto e como as interpreta e a maneira de “adivinhar” a emoção da pessoa que está olhando para você. Tudo isso faz parte da linguagem não-verbal”, completa.

Apesar de ser extremamente importante, ressalta o neurocirurgião francês, essa zona do cérebro, durante muitos anos foi “esquecida” nas cirurgias, por ser considerada uma deficiência “invisível”.

“Quando alguém não pode mais falar, percebemos na hora. Quando alguém perdeu uma parte das habilidades não-verbais, é considerado como bizarro, e reage de maneira bizarra às coisas, mas não é algo imediatamente visível”, declara.

Testando a linguagem não-verbal

A equipe de Philippe Menei decidiu então testar essa área cerebral no bloco operatório, utilizando óculos inteligentes de realidade virtual. O paciente acorda e entra de maneira imersiva em um espaço virtual, onde os avatares tentarão entrar em contato com ele de maneira não-verbal.

Durante mais de 10 anos, a técnica foi testada a pedido das Autoridades de Saúde francesas, que queriam avaliar a inocuidade da tecnologia nas cirurgias cerebrais. Hoje, o uso da realidade virtual na saúde se desenvolve rapidamente e os óculos inteligentes fazem parte da rotina da equipe de Philippe Menei nos hospitais, mas esse não era o caso há alguns anos.

Ele exemplifica com o caso de um músico que precise operar o cérebro. A realidade virtual poderá simular sua participação em um concerto com uma orquestra, auxiliando os cirurgiões na preservação das regiões cerebrais utilizadas para tocar os instrumentos. “O único limite é nossa imaginação. Com a realidade virtual podemos reproduzir todo tipo de situação”, conclui.

Capa do livro do neurocirurgião francês Philippe Menei, "Voyage du Cerveau Gauche au Cerveau Droit" ou "Viagem do hemisfério cerebral esquerdo para o direito"
Capa do livro do neurocirurgião francês Philippe Menei, "Voyage du Cerveau Gauche au Cerveau Droit" ou "Viagem do hemisfério cerebral esquerdo para o direito" © Divulgação

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