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Historiador prevê contribuição substancial da França para o Fundo Amazônia

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Na sua visita de dois dias a Paris, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, organizada pelo presidente Emmanuel Macron, e faz várias reuniões bilaterais com líderes convidados para o encontro. Há expectativa de que na sexta-feira a França anuncie uma doação ao Fundo Amazônia.

O presidente francês Emmanuel Macron faz um discurso durante a sessão de abertura da Cúpula do Novo Pacto Financeiro Global no Palais Brogniart em Paris, França, em 22 de junho de 2023.
O presidente francês Emmanuel Macron faz um discurso durante a sessão de abertura da Cúpula do Novo Pacto Financeiro Global no Palais Brogniart em Paris, França, em 22 de junho de 2023. via REUTERS - POOL
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A cúpula, nesta quinta e sexta-feira (23), discute reformas nas instituições financeiras multilaterais, como o FMI e o Banco Mundial, entre outras, de modo a responder de forma mais justa e solidária aos desafios da transição climática, principalmente nos países em desenvolvimento.

Lula almoçou nesta quinta com Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido como "banco dos Brics". Depois, tem bilaterais com os presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, e também com o presidente da COP28 nos Emirados Árabes Unidos, Sultan Ahmed Al-Jaber.

No entanto, o encontro que gera mais expectativa é o almoço de trabalho de sexta-feira (23) com o presidente francês. Lula disse que irá discutir com Macron a questão do Parlamento francês ter aprovado um endurecimento das condições do acordo Mercosul-União Europeia.

O bloco do cone sul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, chegou a um acordo com o Executivo europeu em 2019, após mais de 20 anos de negociações. O pacto não foi ratificado, porém, em parte devido à preocupação da Europa com as políticas ambientais do ex-presidente de direita Jair Bolsonaro (2019-2022). O clima melhorou com o retorno de Lula ao poder, em janeiro, mas as demandas ambientais dos europeus, contidas em documento complementar ao acordo apresentado recentemente pela UE, moderaram o entusiasmo.

O filósofo, historiador e professor emérito da UnB Estevão Chaves Martins
O filósofo, historiador e professor emérito da UnB Estevão Chaves Martins © Arquivo pessoal

Em entrevista à RFI, o filósofo, historiador e professor emérito da UnB Estevão Chaves Martins considera que ainda é muito cedo para haver uma guinada notável de uma parte e outra. “Os estragos no relacionamento Brasil-França do período do governo anterior ainda não foram totalmente recuperados. O ponto positivo que se reconhece é que com o Lula, o ambiente de diálogo tornou-se extremamente positivo. Mas os pontos de divergência não desapareceram”, opina Martins. 

A política agrícola é o calcanhar de Aquiles das negociações, destaca o historiador. “Eu creio que o presidente Macron, por mais que ele queira estabelecer um patamar de diálogo produtivo, não vai ter força nem na política interna francesa, nem na política interna da União Europeia para colocar na balança o tópico delicado da política agrícola e do seu financiamento”, diz. Por outro lado, Martins vê possibilidade de avanço na liberalização das compras governamentais, que a União Europeia defende, principalmente com respeito aos serviços públicos.

Contexto de desconfiança

Martins acrescenta outro elemento que afeta as negociações. “O Mercosul, que já não era uma entidade política uniforme e estável, tornou-se ainda mais instável e muito pouco confiável nos últimos anos pela dificuldade de se lidar com a presença da Venezuela nos bastidores”, afirma. Nesse contexto de desconfiança, o que se vê, na avaliação de Martins, é um movimento de aproximação simbólica extremamente forte por parte dos dois blocos. “Mas sem dialogar com a França, que é o ponto onde dói o calo, não se espera uma mudança, uma guinada notável daqui até sexta-feira”, afirma.

Por outro lado, no plano bilateral, o professor da UnB tece um cenário bastante otimista. Ele vê áreas de cooperação em ciência e tecnologia, em projetos relacionados com a biodiversidade e a preservação ambiental. No setor da defesa, o Brasil também tem muito a ganhar em projetos com a França, devido ao avançado grau tecnológico da indústria de defesa francesa.

O principal anúncio da reunião bilateral de Lula e Macron deve ser uma contribuição substancial da França para o Fundo Amazônia, conclui Martins.

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