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Jornalista brasileira lança livro após atuar em missões humanitárias em 25 países

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Atualmente, existem 44 crises humanitárias de alta severidade ou graves acontecendo no mundo, de acordo com a Acaps, entidade de análise independente sobre o assunto. Dentre todas elas, a jornalista Fernanda Baumhardt atuou no terreno ou dando apoio em pelo menos 12 situações críticas, em dezenas de países. Em entrevista à RFI Brasil, ela conta a sua jornada humanitária para amplificar vozes, dar visibilidade e empoderar comunidades, que resultou em uma transformação pessoal.

Fernanda em sua primeira missão com a agência da ONU, em Karamoja, região mais pobre de Uganda, na África, onde as populações locais dependem da distribuição de alimentos de organizações internacionais (2015).
Fernanda em sua primeira missão com a agência da ONU, em Karamoja, região mais pobre de Uganda, na África, onde as populações locais dependem da distribuição de alimentos de organizações internacionais (2015). © arquivo pessoal
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“Crises humanitárias de uma proporção severa ou altamente severa acontecem quando a crise, conflito ou desastre natural - como terremoto, inundação ou furacão - causam impactos que ultrapassam a capacidade do país de responder. Então, o país pode enviar um comunicado, um pedido às Nações Unidas, para irmos ajudá-los”, explica Fernanda.

Com mestrado em Gestão Ambiental pela Universidade Livre de Amsterdam, a comunicadora gaúcha iniciou sua carreira profissional na área de publicidade, em cargos executivos nos canais Bloomberg e CNN. Porém, nos últimos 15 anos, Fernanda se dedicou ao trabalho humanitário em comunidades devastadas por desastres ambientais, em campos de refugiados ou deslocados, em países como Sudão do Sul, Uganda e Haiti. No currículo, ela acumula passagens por 25 países e quase 40 missões para organizações como a ONU, a Cruz Vermelha e o Conselho Norueguês para Refugiados (NRC)

“Todas me marcaram profundamente e me transformaram, como o campo de refugiados sírios, na Jordânia, próximo à fronteira da Síria, que me impressionou bastante por ser um lugar que não tem verde”, conta. “Então, além de todas as circunstâncias difíceis, de terem de se deslocar de maneira forçada, essas 30.000 pessoas têm de começar uma vida num lugar extremamente duro, no sentido mais amplo da palavra”, completa.

Vídeo participativo

Referência internacional na temática de Participação Comunitária em respostas humanitárias, Fernanda dá aulas e treinamentos no mundo inteiro, sendo considerada uma das 25 maiores especialistas em vídeo participativo, tendo trabalhado diretamente com centenas de comunidades afetadas por desastres.

Nos últimos quatro anos, ela acompanhou de perto a crise dos migrantes e refugiados da Venezuela, nas fronteiras do país com o Brasil e a Colômbia. “Com esses diferentes pontos de vista, o que eu mais vi foi a fome”, destaca.

No momento em que o Brasil aparece no noticiário internacional por causa da situação precária dos indígenas Yanomamis, Fernanda acredita que o país tem recursos para lidar com essa emergência. “O Brasil é um país que tem condições de ajudar as suas populações indígenas, independentemente de serem remotas ou não. Eu tenho certeza de que é uma questão de planejamento. Quem sabe esse fato possa estimular uma revisão de políticas, desde atendimento médico, alimentação e educação”, acredita.  

Com câmeras e microfones na bagagem, muitas vezes Fernanda entra em lugares de onde a maioria quer sair. Uma escolha pessoal que a levou a uma migração de carreira muito intensa. Em 2007, ela pediu demissão de seu posto mais alto, na CNN, em Los Angeles, para trabalhar em prol do planeta. “Eu fui mais uma dessas pessoas que fazem as suas reflexões: a gente está mudando o mundo, a gente está influenciando um mundo melhor?”, pergunta. “Eu entrei nesse questionamento e resolvi sair de uma grande organização de mídia para ir para o terreno, quando eu fui para Malawi, com a Cruz Vermelha, pela primeira vez”, lembra.

Vozes à Flor da Pele

Desde então, ela nunca mais parou de ouvir as comunidades mais necessitadas do globo. Agora, a jornalista resolveu contar essa experiência em um livro com o título de “Vozes à Flor da Pele”, ainda sem data de lançamento. Em ritmo de aventura, ela relata os bastidores do mundo humanitário, um setor, em geral, distante e romantizado no imaginário das pessoas.

“Esse projeto nasceu de uma necessidade de dividir um pouco essa inspiração toda que eu recebi, ao longo de 15 anos, que é a jornada que eu escrevi e a humanidade que eu encontrei em lugares como Afeganistão, Sudão do Sul, Madagascar, encontrando com mulheres que foram vítimas de tráfico humano, entre outras tantas situações”, explica a autora.

Em sua constante batalha para abrir espaço para as vozes das comunidades, para que sejam ouvidas e recebam as respostas adequadas, Fernanda Baumhardt é considerada uma humanitária inovadora, que corre riscos e quebra regras para escutar e apoiar os mais necessitados. “Não dava para ficar tudo aqui dentro. Não só as vozes das pessoas em necessidade nessas crises humanitárias, mas, também, as minhas vozes, que mudam a partir desses encontros”, diz. “Então, é um livro que fala dos meus desafios, das minhas dificuldades em equilibrar casamento – no meu caso, eu já estou no segundo, pois o primeiro terminou por causa do meu trabalho humanitário”, conta. “E eu acho que isso tudo pode inspirar mulheres que têm a comunicação na veia e precisam equilibrar tantos papéis”, resume.

Ao mesclar a narrativa de suas missões à sua vida pessoal, a autora inaugura, talvez, um novo gênero literário: o Romance Humanitário. Fernanda se interessa, especialmente, pela situação das mulheres no mundo. Ela esteve no Afeganistão pré-Talibã e comenta a realidade que encontrou. “Há normas tribais que não enxergam uma sociedade igualitária. E nós mulheres, nesse caso, estamos sendo prejudicadas. Mas existem também outras minorias. Nós não podemos esquecer das pessoas com necessidades especiais, por exemplo, que também ficam sempre por último”, cita.

Quanto ao futuro, ela descreve uma situação de muitas mudanças e necessidade de adaptação. Considerando previsões técnicas, Fernanda alerta para o problema dos refugiados climáticos. “As mudanças climáticas estão gerando um novo tipo de deslocamento forçado e já há um nome técnico para isso: refugiados climáticos. Porque quando têm seca, por exemplo, os povos migram atrás de água e isso gera, potencialmente, conflitos. Então, realmente nós vamos ter muito trabalho”, conclui.

Fernanda Baumhardt, jornalista humanitária e autora no estúdio da RFI, em Paris.
Fernanda Baumhardt, jornalista humanitária e autora no estúdio da RFI, em Paris. © RFI

 

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