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Com filme sobre prazer feminino, Júlia Murat representa o Brasil no Festival de Locarno

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O Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, um dos mais importantes da Europa, começa nesta quarta-feira (3). Dezessete filmes estão na competição oficial pelo Leopardo de Ouro, entre eles “Regra 34”, da cineasta brasileira Julia Murat. Este é o seu terceiro longa metragem; o segundo, "Pendular", foi premiado em Berlim, em 2017.

Júlia Murat
Júlia Murat © André Mantelli/ Divulgação
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A cineasta contou à RFI a sua expectativa em relação à competição: "Eu estou nervosa. Apesar de ser o meu terceiro filme, o nervosismo não passa. E é um filme bastante arriscado no que ele se propõe, não tanto do ponto de vista de linguagem, porque eu optei por fazer uma linguagem muito simples, mas do ponto de vista temático. Eu estou apreensiva, digamos ", diz Murat, sobre a recepção de seu longa pelo público e crítica. 

Regra 34, explica ela, é uma brincadeira dos primórdios da internet. "Os usuários e nerds da época inventavam uma série de regras e a regra 34 dizia que tudo o que existe no mundo tem uma versão pornô."

No filme, a trama gira em torno de Simone, 28 anos, uma jovem advogada negra que passou anos fazendo performances online de sexo para pagar a faculdade de direito. Ao passar em um concurso para defensora publica, Simone acaba abandonando as performances por não precisar mais do dinheiro.

"Neste percurso, ela descobre que o tesão dela é sobre a violência. E é essa dualidade entre a pressão social e o desejo feminino que o filme aborda", conta. 

"O nosso objetivo, ao fazer o filme, não era gerar tesão no espectador, mas descobrir o tesão dos próprios personagens, com o desejo de questionar esse olhar misógino sobre o corpo da mulher, especialmente da mulher negra", revela a cineasta. 

Desejo e subjetividade femininos

"O tesão, o desejo feminino é um tema pouco abordado em geral, mas a construção de personagem feminina a partir de sua subjetividade, tentando não responder a um registro clichê do que seria este corpo da mulher, está em voga no cinema brasileiro atual", comemora. 

No catálogo do festival, no entanto, há uma advertência de que "o filme contém cenas violentas que podem chocar espectadores mais sensíveis". 

"A gente, enquanto sociedade, tende a exagerar o nosso pudor em relação ao sexo. Digo isso porque eu tenho duas filhas e vemos com frequência filmes da Marvel. Eu acho esses filmes bastante violentos; no entanto, eles não recebem nenhum tipo de comentário", aponta. 

"Regra 34" aborda também o direito penal, sua seletividade e moralismo, destaca Júlia, que chegou a pensar em abandonar o filme quando Bolsonaro foi eleito, por medo de "dar munição à extrema direita". Depois ela voltou atrás: "Eu percebi que, se abandonasse a ideia, estaria dando a eles o controle sobre os nossos corpos e sobre as nossas culturas". 

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