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Documentário “Você não sabia de mim” quer romper invisibilidade de pessoas com sofrimentos mentais

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Exibido no Festival de Cinema Brasileiro de Paris, o documentário “Você não sabia de mim”, do diretor Alan Minas, traz para as telas as experiências de um grupo de pessoas com problemas mentais com a produção fílmica.

Cena do filme "Você não sabia de mim", do diretor Alan Minas.
Cena do filme "Você não sabia de mim", do diretor Alan Minas. © Divulgação
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“Eu penso que ‘Você não sabia de mim’ é um filme que escolheu ser feito. É como se fosse um chamado”, diz o diretor carioca ao se referir à obra que teve origem em seu trabalho de pesquisa para um filme de ficção.

Alan frequentou durante 11 meses a Casa Verde, uma clínica no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, para recolher informações e impressões para a escrita de um roteiro de um longa-metragem. A instituição acolhe pessoas com sofrimentos mentais, alguns com mais ou menos autonomia e independência, mas que propõe uma abordagem diferenciada de assistência à saúde mental, como a possibilidade de os internos entrarem e saírem do local com total liberdade.

“Depois de passar esse tempo todo, conhecendo pessoas, fazendo anotações e tendo uma vivência, fiquei encantado com os personagens, com o modo com que eles viam as coisas e se expressavam, e decidi que precisava fazer alguma coisa”, relata Alan em entrevista à RFI.

O diretor explicou que a ideia inicial era oferecer um “dispositivo fílmico”, no qual dez frequentadores da Casa Verde pudessem elaborar e filmar suas próprias histórias.  Mas durante o processo de acompanhamento de criação, a proposta foi invertida pelos próprios moradores da Casa, para surpresa do diretor e da produtora Daniela Vitorino, que se tornaram por vezes atores das narrativas.  

“Eles não apenas mostraram um pensamento e reflexões novos, que eu não conhecia, como passaram a tomar conta do contorno que nós quisemos dar às filmagens”, relata. “Eles influenciaram no modo como nós registramos ‘Você não sabia de mim’. É um filme que se alimentou dentro de um outro filme”, explica.

O cineasta e escritor, Alan Minas, nos estúdios da RFI.
O cineasta e escritor, Alan Minas, nos estúdios da RFI. © RFI

Aproximação pelo afeto

O filme, segundo ele, “renasceu” em função da aproximação da equipe com os moradores da Casa Verde, que aparecem contando suas histórias reais e, ao mesmo tempo, dirigindo as cenas de seus roteiros elaborados a partir de oficinas de criação.

“Essa proposta de acompanhar pessoas para fazer seus filmes parece simples. Mas não é, pois nesse filme falamos de invisibilidade. São pessoas que por ter sofrimento mental passam despercebidos na sociedade. É como se eles não tivessem opinião política, sentimento, qualquer tipo de libido, não percebem e não ouvem. No entanto, eles estão completamente sensíveis a tudo”, afirma Alan, que diz ter se inspirado no trabalho de Nise da Silveira e no filme “Imagens do Inconsciente”, do cineasta Leon Hirszman.  

“A ideia foi essa: nossa aproximação através do afeto e buscar o acesso. Através dessa dinâmica de onde acionar o outro para ter uma resposta. O filme traz essa tônica”, afirma o diretor, que já teve uma de suas obras, "A família Dionti", selecionada para o Festival Internacional do Filme sobre a Deficiência, em Cannes.

Depois de uma primeira exibição no DocLisboa, “Você não sabia de mim” foi projetado pela primeira vez em tela grande no Festival Internacional de Cinema do Rio com a presença dos personagens do filme e participação em um debate após a exibição. 

“Foi emocionante porque percebemos que foi uma mudança fundamental na vida de cada um”, afirma Alan Minas. “Eu gostaria que esse filme fosse visto por todos, porque ele parte de uma condição de pessoas que, em tese, têm sofrimento mental, mas fala de todos nós”, garante o diretor, que pretende ainda este ano filmar a ficção "O Deserto de Luíza", baseado no trabalho de pesquisa na Casa Verde.  

Clique na imagem para ver a entrevista em vídeo na íntegra

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