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Eleição de Draghi como presidente pode levar Itália à instabilidade política, diz analista

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Teve início nesta segunda-feira (24) o processo eleitoral que vai definir o novo presidente da Itália. A escolha é pelo voto indireto de 1.009 “grandes eleitores”, grupo formado por senadores, deputados e delegados regionais.

O primeiro-ministro italiano Mario Draghi, em 7 de outubro de 2021, em Roma.
O primeiro-ministro italiano Mario Draghi, em 7 de outubro de 2021, em Roma. AFP - ALBERTO PIZZOLI
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Apesar do favoritismo de Mario Draghi, atual chefe de governo, não é possível cravar o nome do sucessor de Sérgio Mattarella, que indicou não querer disputar a reeleição.

No sistema eleitoral italiano, a votação para a escolha do chefe de Estado é comparada ao conclave para escolher o papa. “Quem entra no conclave como papa, sai como cardeal”, diz a máxima. O mesmo pode-se dizer da escolha do nome que vai ocupar o Palácio Quirinale, sede da presidência. A prudência recomenda que os aspirantes ao cargo não façam campanha pois o vencedor costuma sair de longas tratativas entre os partidos.

Com Mattarella já fazendo as malas para deixar o cargo, e a desistência anunciada do ex-premiê Silvio Berlusconi, que alegou problemas de saúde, os holofotes se voltam para Mario Draghi, o primeiro-ministro que está à frente de uma coalizão de governo que mantém a governabilidade do país.

O problema não seria a credibilidade de um político hábil e que desfruta de boa imagem dentro e fora da Itália, segundo especialistas.

“É um cenário bastante complexo. O mais provável seria a candidatura de Mario Draghi, é a chance de ele ser eleito. Mas nem todos os partidos estão de acordo com isso, nem os partidos de esquerda nem de direita”, analista o sociólogo Fabio Gentile, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Ceará.

Uma transferência neste momento de Draghi da chefia de governo para a presidência poderia resultar no esfacelamento da atual aliança de partidos políticos, o que poderia antecipar as eleições legislativas previstas para o início de 2023.

“Nada impede que o Draghi, atualmente chefe de governo, seja presidente. Mas o problema é que isso significa voltar a ter eleições. Não sei se todos os partidos estariam de acordo em voltar às urnas”, diz. O sociólogo ressalta o risco de que a mudança traria para todo o cenário político e para a sociedade italiana. 

“Poderia levar a uma instabilidade pois os partidos podem não estar prontos para uma nova eleição (legislativa) antecipada. Deveria levar um tempo para preparar as novas candidaturas e também para a escolha de um novo primeiro-ministro. Poderia ser realmente um problema a instabilidade política nesta conjuntura, marcada também pela pandemia. Talvez a escolha de Draghi não seria a melhor escolha”, opina.

Draghi tem apoio das instituições supranacionais como União Europeia e do Banco Central Europeu, que governou por um longo período (2011 a 2019), mas esse apoio não seria suficiente para interferir na escolha. Por isso, Fabio Gentile não descarta a votação em um nome que atualmente não desponta como favorito.

“É possível que seja eleito um candidato que não esteja sendo muito indicado nem exposto na mídia e nas conversas entre os partidos”, diz, sem arriscar algum nome que possa se encaixar nesse perfil.

Diante do cenário complexo, a escolha do novo presidente da Itália pode levar vários dias, já que é preciso ter durante várias votações dois terços dos votos, o que não parece estar próximo de acontecer.

Independentemente do nome e do tempo que levar a definição, o professor da Universidade Federal do Ceará tem apenas uma convicção: a de que nada deverá abalar as boas relações da Itália com o Brasil.   

“São dois países que têm uma relação muito amigável e sempre foi assim. Tirando aquele ‘acidente’ que foi o caso Battisti, que foi resolvido, são dois países que nunca tiveram problemas. Qualquer que seja o presidente eleito, as boas relações vão continuar”, afirma Gentile.

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