Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Desistência de Berlusconi de concorrer à presidência embola cenário eleitoral na Itália

Publicado em:

Nesta segunda-feira (24), o parlamento italiano começa a votação para a eleição do novo presidente da República do país. A desistência da candidatura presidencial do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi mudou o cenário eleitoral. O que esperar da eleição?

O parlamento italiano começa a votar para eleição do presidente da República.
O parlamento italiano começa a votar para eleição do presidente da República. Alberto PIZZOLI AFP/File
Publicidade

Janaína Cesar, correspondente da RFI na Itália

O atual Executivo italiano é formado por uma grande coalizão, com partidos de direita, centro e esquerda. Silvio Berlusconi, ex-primeiro-ministro, empresário bilionário e deputado do parlamento europeu, contava com o apoio dos partidos de direita Forza Italia, que ele lidera, Liga Norte e Fratelli d'Italia.

Não havia sido fácil para ele obter a aprovação da bancada de direita, pois alguns acreditavam que sua carreira como líder político já havia terminado. Com a sua desistência, a direita italiana fica sem um candidato único. 

Na Itália, não se descarta que a decisão de Berlusconi de renunciar tenha sido motivada por problemas de saúde. O ex-premiê deu entrada no hospital San Rafael na manhã deste domingo (23). A informação foi confirmada por seu médico pessoal Alberto Zangrillo, que disse que a internação era para exames de rotina, sem especificar quais. Outros acreditam que o motivo principal é que Berlusconi não tinha números suficientes para vencer a votação e substituir o atual presidente Sergio Mattarella.

Os escândalos sexuais, os processos por corrupção e uma condenação por fraude fiscal que envolveram o líder da Forza Itália desde que era chefe do Executivo afastaram o apoio da maioria dos envolvidos na escolha presidencial. 

Em 1º de agosto de 2013, a Corte de Cassação, terceira e última instância da justiça italiana, o condenou a 4 anos de prisão por fraude no julgamento dos direitos televisivos de Mediaset. A sentença foi reduzida a 3 anos graças a um indulto. O ex-primeiro-ministro cumpriu a pena de prisão prestando serviços sociais como voluntário numa instituição para idosos.

Mario Draghi presidente?

A eleição de Mario Draghi seria a solução mais fácil em um dos parlamentos mais ingovernáveis e imprevisíveis da história italiana. Draghi não descartou seu interesse em ocupar a presidência da República, mas muitos especialistas temem que se ele deixar o Executivo, a economia da Itália sofreria amargas consequências. 

A atual legislatura termina no início de 2023 e, em princípio, daqui a cerca de um ano, o país vai às urnas para eleger um novo parlamento. Isso significa que quem estiver no comando do governo após a eventual eleição de Draghi para o Palácio Quirinale, sede da presidência, terá que liderar o executivo durante um ano de campanha eleitoral. O que não será nada fácil.

O quadro poderia levar a uma possível eleição antecipada para designar um novo governo, onde centenas de deputados e senadores não seriam mais eleitos, ou para a formação de um governo técnico. 

Outra alternativa seria reeleger Mattarella, mas ele afirmou que não gostaria de permanecer no cargo. Inclusive o porta-voz da presidência, Giovanni Grasso, publicou no Twitter uma foto de um escritório cheio de caixas e o texto: "Fim de semana de trabalho pesado...", referindo-se à mudança em curso dos escritórios do Quirinale.

Eleição do Presidente não tem data para acabar

Na Itália, a eleição indireta para presidente acontece a cada sete anos e envolve o grupo chamado de de "grandes eleitores", formado principalmente por senadores, deputados e delegados regionais. A votação para a escolha do 13° chefe de Estado começa nesta segunda-feira, a partir das 15h (pelo horário local 11h em Brasília), na Câmara dos Deputados e não tem previsão para terminar. 

Em 1971, aconteceu umas das mais demoradas votações. Foram necessários mais de 23 turnos, um recorde até hoje, antes que Giovanni Leone fosse eleito no dia 24 de dezembro, véspera de Natal.  Esse sistema de voto vigora desde 1946, quando nasceu a República Italiana.

Segundo muitos observadores, é difícil chegar a uma solução antes de quinta-feira (27), quando acontecerá a famosa "quarta votação", a primeira com maioria absoluta e não com quórum de dois terços da assembleia de 1.009 eleitores como nos três primeiros turnos.

A votação desta segunda-feira não trará resultados. A expectativa é que pelo menos até terça-feira (25) nada aconteça porque nenhum lado tem votos suficientes para eleger um candidato. Aliás, até o momento não há candidatos oficiais. Todos os partidos prometem figuras de "alto nível", mas ninguém revela nomes com medo de que eles sejam “queimados” pelos rivais. 

Giulio Andreotti, ex-primeiro-ministro, dizia que "não há método que garanta a vitória, só erros que não devem ser cometidos".

Com um sistema parlamentarista, o presidente da República não é o chefe do Executivo e sim o chefe de Estado com a função de guardião da Constituição. O seu mandato tem a duração de sete anos e é importante para o equilíbrio político da Itália, pois ele pode dissolver o Congresso e convocar eleições. O presidente deve representar a união do país e estar acima dos conflitos políticos, ou seja, ser suprapartidário.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.