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Viena sedia seu primeiro festival de choro: “a nova música do mundo”, diz organizador do evento

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Se Viena, na Áustria, é a capital da música, só faltava um festival dedicado ao choro. Pois esse gênero originário do Rio de Janeiro agora também tem seu espaço em uma das mais elegantes cidades da Europa e um lugar que respira música. O primeiro Festival de Choro de Viena acontece entre os dias 26 e 27 de junho e a RFI conversou com um de seus organizadores.

Viena vai sediar seu primeiro festival de choro.
Viena vai sediar seu primeiro festival de choro. © RFI
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“Há dois anos, formamos o clube de choro de Viena e estamos trazendo múltiplas culturas ligadas ao universo do choro para cá. Vai ser uma programação extensa e muito boa,” explica Antônio de Pádua, diretor musical do evento.

A programação vai abordar o choro em diferentes abordagens: concertos, workshops, conferências, exibição de documentário, exposição de fotos e até gastronomia. “Na abertura oficial, vai haver uma grande roda de choro e vamos convidar todos os alunos e músicos da cidade. No segundo dia, começam os workshops e, à noite, temos dois concertos”, detalha.

Pádua analisa a importância de se realizar um festival de choro em Viena, cidade por onde já passaram os mais célebres compositores, de Mozart a Strauss. “Muita gente chama o choro de ‘jazz brasileiro’. Eu costumo dizer que o choro é a música clássica brasileira. E quando a gente mostra essa ligação da música brasileira com a música que é o grande cartão postal de Viena, a clássica, eles ficam maravilhados”, revela.

Tudo começou na cena carioca do fim do século 18

O choro nasceu no Rio de Janeiro por volta de 1870 como uma música urbana, que trazia modernidade. O ritmo instrumental produzido nas classes populares era uma adaptação brasileira de ritmos importados e ouvidos pela elite carioca, como a polca, a valsa e o xote.

“O Brasil recebeu pessoas de todas as partes do mundo e os europeus, nossos colonizadores, trouxeram essa cultura musical. Juntou com o ritmo africano e deu essa química, essa fusão em um gênero tão rico. O choro é um dos poucos gêneros da música popular no mundo que têm essa riqueza melódica e harmônica”, diz Antônio de Pádua.

Antônio de Pádua, músico.
Antônio de Pádua, músico. © arquivo pessoal

“Mais recentemente, tivemos outras influências, como o jazz, com Cachimbinho, com Hermeto Pascoal, com Moacir Santos que trouxeram outras vertentes para o choro e agora ele se transforma nessa grande novidade para o mundo, embora já tenha mais de cem anos. Mas o choro é a nova música do mundo”, celebra.

Pádua explica que o nome choro vem do fato de que a música parece um lamento, tem um tom melancólico. “Essa é a tese que eu defendo, que o choro tem esse nome por causa da forma ‘chorada’ de tocar o instrumento, mas há outras linhas de raciocínio”, completa.

Entre os instrumentos que não podem faltar numa roda de choro estão: flauta, violão, cavaquinho e contrabaixo. “Tradicionalmente, o choro é composto por dois violões, um de sete cordas e um de seis, o cavaquinho que faz o ritmo, o bandolim que é o instrumento solista, flauta e pandeiro. Isso é uma formação clássica regional. Porém, com o passar do tempo, e com músicos inovadores, foram sendo acrescentados vários instrumentos. O meu show é com bateria, baixo e piano, uma formação muito moderna,” acrescenta.

Outra característica do gênero é o improviso. “A improvisação é natural do choro. O Luperce Miranda, primeiro bandolinista antes do Jacob do Bandolim, ele tinha a prática de compor músicas ao vivo. Isso não é influência do jazz. Depois sim, com a chegada dos músicos que foram estudar nos Estados Unidos é que realmente teve essa ligação com o jazz”, explica o diretor musical.

Heitor Villa-Lobos (1887-1959), grande compositor, dizia que o choro era “a alma do povo brasileiro”. “O Villa-Lobos foi um grande divulgador do chorinho. A música dele é baseada no choro e ele é o maior nome da nossa música clássica. O Sivuca é outro nome que veio do choro e trouxe a sanfona para o universo da música clássica. Então, os elementos que construíram o choro, além dos elementos africanos, são os elementos da música europeia”, conclui.

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