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Reportagem

Torre Eiffel uniu o destino de dois gênios do século 19: Eiffel e Santos Dumont

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Gustave Eiffel morreu há cem anos. A RFI aproveita o centenário de morte, marcado na França por uma série de eventos, para falar do legado do engenheiro francês que entrou para a história como o “mágico do ferro”. Eiffel projetou ou construiu mais de 500 estruturas em cerca de 30 países, nos cinco continentes, mas ficou mundialmente conhecido pela torre que leva seu nome, principal cartão postal de Paris e da França.

Fotomontagem com Gustave Eiffel e Alberto Santos Dumont
Fotomontagem com Gustave Eiffel e Alberto Santos Dumont © Wikipedia domínio público
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A Torre Eiffel foi inaugurada em 1889 e o monumento uniu o destino de dois grandes gênios do final de século 19: Gustave Eiffel e o brasileiro Santos Dumont, o pai da aviação. Na época, a torre era a estrutura mais alta do mundo. Com seus 330 metros de altura, dominava a paisagem parisiense e passou a ser ponto de referência para os pioneiros da aviação, que usavam o céu de Paris como terreno de experiência para seus balões dirigíveis e outras aeronaves. Um jornalista da época escreveu que “se a Torre Eiffel não existisse, teria de ser inventada para as experiências da aeroestação”.

Contornar a Torre Eiffel, localizada em uma área com muitos ventos, era um grande desafio. Em maio de 1900, buscando impulsionar a locomoção aérea, um empresário francês lançou o prêmio Deutsch de la Meurthe. O primeiro aviador que conseguisse com sua máquina voadora contornar a Torre Eiffel, decolando do Parc de Saint-Cloud e retornando em menos de trinta minutos, ganharia 100 mil francos, o equivalente a quase US$ 500 mil hoje.

Santos Dumont foi o vencedor. Desde 1892, o brasileiro morava na capital francesa, e seis anos depois inventa, constrói e pilota seu primeiro balão dirigível. Em 1901 conquista o prêmio Deutsch com o dirigível número 6 e passa a ser o brasileiro mais famoso do mundo.

A bordo do seu dirgível Número 6, Santos Dumont circunavegou a Torre Eiffel, em 19 de outubro de 1901
A bordo do seu dirgível Número 6, Santos Dumont circunavegou a Torre Eiffel, em 19 de outubro de 1901 © Domínio público

Laços entre Santos Dumont e Gustave Eiffel

Paul Hoffman informa no livro “Asas da Loucura”, sobre a vida do aviador brasileiro, que vários cientistas acompanharam o voo do apartamento de Gustave Eiffel no alto da torre. O biografo de Santos Dumont afirma ainda que o engenheiro francês era um dos amigos famosos do brasileiro.

O físico Henrique Lins de Barros, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas do Rio de Janeiro, um dos maiores especialistas de Santos Dumont no Brasil, desconhece referências que comprovem a relação pessoal entre os dois homens. Ele diz que pode até haver documentação dessa época sobre essa amizade, mas que ainda não foi encontrada. “Tem muita coisa que ainda está sendo descoberta. Então, pode ser que tenha havido”, pondera.

“A relação que eu conheço é seguinte: o Santos Dumont dizia que a Torre Eiffel era o símbolo do progresso e o Deutsch de la Meurthe, que instituiu o prêmio, usou a Torre Eiffel como símbolo mundial”, afirma Henrique Lins de Barros.

O físico lembra ainda que Eiffel também se interessava pela aviação. “Ele testou a aerodinâmica da Torre Eiffel. Depois, construiu um pequeno avião monoplano que não funcionou bem, mas ele construiu o avião. O Eiffel também era genial”, acredita o físico.

Gustave Eiffel  in 1900
Gustave Eiffel in 1900 © Atelier Nadar / Gallica - BnF

Torre Eiffel como laboratório

Bertrand Lemoine, engenheiro, arquiteto e historiador, é um dos especialistas da vida e obra de Gustave Eiffel. Ele é conselheiro científico da Associação dos Descendentes de Gustave Eiffel, que organiza a programaçao do centenário de morte do engenheiro francês, e autor de uma biografia sobre o construtor. Ele concorda que o ponto em comum entre os dois inventores foi o interesse pelo desenvolvimento da aviação

Lemoine conta que “Eiffel construiu um túnel de vento para estudar a resistência das asas e hélices de aviões”, na Torre Eiffel. Segundo ele, “todos os grandes pioneiros da aviação, franceses, europeus ou brasileiros, como Santos Dumont, utilizaram esse túnel de vento e receberam a ajuda de Eiffel para desenvolver seus próprios sistemas e testar seus aviões”.

O historiador diz que a amizade e ligação entre Santos Dumont, o construtor francês e o início da aviação “é visível na homenagem indireta feita a Eiffel no Brasil no tributo a Santos Dumont que foi o primeiro a voar em torno da Torre Eiffel”. Lemoine considera essa ligação interessante “porque mostra que a Torre é uma estrutura que deve resistir ao vento. O desenvolvimento incrível da aviação, no final do século 19 e início do século 20, alia a ousadia do construtor à audácia dos primeiros aviadores”.

Monumento à dirigibilidade

A homenagem indireta a Eiffel no Brasil citada por Bertrand Lemoine é a réplica da Torre em Santos Dumont, no interior de Minas Gerais, cidade natal do “pai da aviação”. O “Monumento à Dirigibilidade” reproduz uma famosa fotografia de época mostrando o balão dirigível número 6, construído e dirigido pelo aviador brasileiro, contornando a Torre Eiffel em 1901.

Réplica Torre Eiffel em Santos Dumont, com o dirigível n° 6.
Réplica Torre Eiffel em Santos Dumont, com o dirigível n° 6. © RFI/Adriana Brandão

A estrutura foi projetada por Vander Montesse, hoje diretor do Senai de Juiz de Fora, em 2001 para o centenário do feito de Santos Dumont. Além de ser uma atração turística, o monumento busca, enquanto marco comemorativo, resgatar esse fato histórico e a genialidade do mais ilustre filho da cidade”, destaca.

Montesse ressalta ainda que o monumento “acaba integrando dois gênios. Eiffel, com a sua genialidade do ponto de vista da construção, estruturas metálicas, e o grande gênio da aviação, que foi Alberto Santos Dumont. É um resgate histórico que congrega duas figuras importantes no cenário tecnológico daquele tempo, com repercussões para os dias atuais”.

A réplica da Torre Eiffel de Santos Dumont é a única existente no Brasil. Segundo levantamentos, há ao menos cinco reproduções do monumento mais famoso da França no país.

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