Festival em Paris usa a cultura para promover integração de excluídos sociais
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O Samu talvez todo mundo conheça, mas o que nem todos já ouviram falar é do Samusocial de Paris, que, como o próprio nome sugere, cuida também da “saúde social” das pessoas. Durante o projeto “Mois Festif”, o Mês Festivo, uma frenética agenda de 120 eventos culturais e também esportivos se torna uma importante aliada para o processo de integração de excluídos sociais à capital francesa.
Andréia Gomes Durão, da RFI
Por excluídos sociais na França entende-se todos aqueles em situação de vulnerabilidade, abandono, isolamento, precariedade, sofrimento, podem ser moradores de rua, refugiados, pessoas isoladas ou em família. É o Samusocial que os acolhe, lhes presta socorro, atendimento médico e apoio administrativo, e não mede esforços para garantir uma plena integração deste público à sociedade, que hoje soma mais de 55 mil pessoas na capital francesa.
“O Mês Festivo é destinado a todo o público que acompanhamos, que abrigamos em moradias sociais e acolhimentos de urgência. A ideia é propor atividades culturais nos locais de acolhimento, mas também na cidade. É promover a cultura como vetor de acompanhamento social para criar vínculos com a sociedade e também entre nós, e para permitir ao público em geral de se encontrar, se misturar”, explica Paul Pecquet, responsável de Cultura e Lazer do Samusocial de Paris.
Sensação de pertencimento
E para se encontrar e se misturar, o programa prevê passeios para se descobrir a cidade. Muitas pessoas, apesar de viverem em Paris, pouco conhecem da capital francesa por não terem sensação de pertencimento, mas logo se animam a sair se têm companhia.
Este é o caso de Nathalie, mãe solteira do pequeno Jean Daniel, de 7 anos, e que vive em um centro de acolhimento há cinco anos. E o destino a ser explorado por eles foi o Parc de Saint-Cloud.
“Sinceramente, eu ainda não conhecia o parque, é a primeira vez, e foi uma descoberta para mim e para meu filho também. É realmente muito legal, nós aproveitamos muito este dia”, ela comenta.
Encantado pelo passeio e pelas atividades propostas pelas guias do parque, o pequeno Jean Daniel não hesitou e respondeu rápido sobre o que mais o atraiu durante o passeio: “A cascata! O que eu achei interessante é que havia diversas cabeças de animais ou de coisas imaginárias do tempo dos reis”, sublinhou o garotinho.
Maratona inclusiva
Para continuar misturando, descobrindo e integrando, outra boa contribuição pode ser uma pequena maratona inclusiva, aberta a corredores profissionais, mas também a pessoas com deficiências, crianças, famílias, enfim, à comunidade, que, com isso, passa a conhecer melhor a realidade das pessoas atendidas pelo Samusocial.
“É superinteressante. Eu não conhecia, eu não sabia que o Samusocial estivesse participando, nem as outras associações que organizam a corrida. Então, com esses eventos, isso me permite descobrir um pouco. Eu acho isso ótimo”, admite Ramzi, que participava pela primeira vez desta corrida.
O Mês Festivo, que se estende até a próxima quinta-feira (25), ainda inclui shows de música, sessões de cinema com debates, piqueniques, visitas a outros monumentos de Paris, como a Torre Eiffel, além da apresentação dos participantes do ateliê literário organizado pela Maison de la Poèsie.
Um momento de glória para Mavin, que mora em um centro de acolhimento de urgência do Samusocial de Paris: “Eu estou orgulhoso porque o retorno é positivo, é bom poder dizer que é preciso ir mais longe”.
Já Armelle Stepien, responsável pelas ações culturais da Maison de la Poésie, enfatiza a importância da ação também para o público. “Foi uma emoção muito, muito forte, seja para o público, seja para os artistas. Houve lágrimas. Eu acho que foram lágrimas por ser ouvido, por ser reconhecido, porque alguma coisa aconteceu, eu acredito, uma cumplicidade entre as pessoas da plateia”, ela conta.
Integração sobre rodas
A participação nos eventos do calendário da cidade contribui ainda mais para a integração, a exemplo da presença do Samusocial no Pari Roller: um passeio de mobilidade leve – patins, bicicleta, patinete, skate – pelas ruas da capital francesa, toda sexta-feira, das 21h30 até a meia-noite.
Os 20 km do percurso não intimidaram Patricia, de 76 anos, que mora em um abrigo para pessoas sozinhas. “Este ano, havia uma atividade de aprendizagem de bicicleta. Eu tenho problemas de articulação e durante muito tempo me recusei a montar em uma bicicleta. Mas depois de duas ou três tentativas, eu consegui e não sentia mais dor. Foi formidável. Eu escrevi a todos os meus amigos: ‘eu não sinto mais dor! Acabou! Eu vou fazer a volta de Paris de bicicleta!’”, ela vibra.
Patricia também enfatiza a importância de atividades como essas principalmente para pessoas que, como ela, vivem sozinhas. “São esses momentos de convívio que nos permitem sair do isolamento. [...] De tempos em tempos, essas atividades nos permitem ver outras coisas, ter um outro olhar sobre o sistema que nos abriga", continua.
Ela seguiu firme no passeio até o fim, acompanhada por todos que participam do Pari Roller e que, nesta edição, em solidariedade aos companheiros mais vulneráveis, usavam adereços azuis, a cor do Samusocial de Paris – balões e sinalizadores fluorescentes – para garantir aos participantes, assim como ao público do Samusocial, o que todo mundo precisa: segurança, proteção, cuidado e visibilidade.
* Armelle Stepien, responsável pelas ações culturais da Maison de la Poésie, e Mavin Ouattara, participante do ateliê de redação, foram entrevistados por Lucie Bouteloup, da RFI.
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