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Reportagem

Aposta na loteria e doces típicos são tradições do Natal e Ano-Novo na Espanha

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No mês de dezembro, em Madri, como acontece em outras cidades espanholas, as luzes e os mercados natalinos presentes no centro lembram que as festas estão chegando, com as suas tradições típicas de cada país.

El Gordo, a Mega da Virada espanhola que é uma mania nacional.
El Gordo, a Mega da Virada espanhola que é uma mania nacional. AFP - OSCAR DEL POZO
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Ana Beatriz Farias, correspondente da RFI na Espanha

O primeiro motivo para comemorar o nascimento de Cristo é representado por presépios de todos os tipos. Eles estão nas lojas, em diversos designs diferentes, e em versões "gigantes" em várias regiões do país. Em Alicante, por exemplo, fica o maior presépio do planeta, que integra o Guinness Book desde 2019. De acordo com o periódico El Mundo, a representação do menino Jesus mede 3,25 metros, a da Virgem Maria, 10 e a de São José, 17.  

Quem estiver na Espanha pode descobrir muitas outras curiosidades da maneira espanhola de viver o período de festas. As tradições são variadas, como os “dulces navideños” (ou doces de natal, em tradução livre), que podem ser vistos nas prateleiras dos supermercados já a partir de outubro.

Um dos clássicos é o “turrón”. A espanhola María Bosch trabalha na Jijonenca, fábrica que produz o doce e agora está a todo vapor. "Como a produção é sazonal e concentrada em poucos meses do ano, a partir de junho podemos ver muitos mais turnos de produção e  mais pessoas trabalhando nas fábricas, aumentando o ritmo de trabalho", diz.

Apesar de ser principalmente natalino, em muitos lugares é possível comer “turrón” o ano inteiro. Segundo María, os principais ingredientes do doce são amêndoa, açúcar e mel. E, apesar de os “turrones” serem consumidos por toda a Espanha, algumas regiões são mais famosas pela fabricação. "Existem muitos tipos diferentes de ‘turrón’ no mercado e novos sabores aparecem todos os anos. Mas os ‘turrones’ mais tradicionais são o ‘turrón’ de Jijona e o ‘turrón’ de Alicante, feitos com as melhores matérias primas e os processos mais artesanais".

Turrón, Polvoron e Mantecado são alguns dos doces consumidos na Espanha no Natal.
Turrón, Polvoron e Mantecado são alguns dos doces consumidos na Espanha no Natal. © Divulgação

Loteria

Outra tradição típica desta época, na Espanha, é apostar na loteria, conhecida como "El Gordo". Sim, os espanhóis têm uma espécie de versão da “Mega da Virada” brasileira. A venda de bilhetes para a loteria de “navidad” chega a gerar filas quilométricas nas casas de aposta mais tradicionais. 

O sorteio do primeiro prêmio, que vale € 400 milhões, acontece no dia 22 de dezembro e reúne multidões que o acompanham por rádio, televisão ou internet. O brasileiro, Rafael Silva mora na Espanha há 5 anos e sempre faz sua aposta. “Eu jogo em vários lugares, como todo mundo aqui, mas eu não  vou comprar, não pego as filas, mas eu jogo. Primeiro, porque todo mundo joga. Imagina se alguém do trabalho ganha e eu não ganho, eu vou ser o único que vou ficar no trabalho, né? Segundo, porque eu gosto. Eu sempre jogo a loteria. Eu acho que aqui é um pouco mais levado a sério que a Mega da Virada, mas você pode comparar, sim. Seria a nossa Mega da Virada”, conta.

O brasileiro Rafael Silva mora na Espanha há 5 anos e costuma jogar na loteria no fim do ano na Espanha
O brasileiro Rafael Silva mora na Espanha há 5 anos e costuma jogar na loteria no fim do ano na Espanha Arquivo Pessoal

“Nochevieja” para celebrar um ano novo

Dias depois que os vencedores da loteria já foram anunciados e com todos já tendo comido seus respectivos pedaços de “turrón” após a ceia de Natal, chega o momento de celebrar o Ano Novo. Na Espanha, a última noite do ano leva o nome de “nochevieja”. Enquanto, no Brasil, parte da população está pulando 7 ondinhas para atrair sorte, na cultura espanhola, o que se faz é comer uma uva por cada badalada do sino que anuncia a meia-noite. Ou seja, no total, uma dúzia.

Muitos acompanham o momento com as uvas já preparadas e de frente para a televisão, para poder comê-las assistindo ao soar do sino da Puerta del Sol, no centro de Madri. No supermercado, é possível encontrar, inclusive, embalagens com 12 uvas fabricadas especialmente para a ocasião. 

O costume, que atravessa gerações, cria uma demanda comercial. O mercado, por sua vez, traça estratégias para supri-la. Maite Sirvent, que trabalhou a vida inteira com a uva, passou os últimos 10 anos como responsável de controle de qualidade. 

Ela conta que este período do ano não é o ideal para a colheita da fruta, mas há técnicas que possibilitam que a tradição, que é ligada a um tipo específico da uva, continue sendo posta em prática. “Nem todas são adequadas, existem diferentes variedades, que são colhidas muito mais cedo. A variedade adequada para estas datas é chamada ‘aledo’. Conseguimos atrasar a colheita graças à técnica de ensacamento. Cada grupo é embrulhado num saco de papel, o que garante uma excelente qualidade nesta época do ano”, explica.

Fernanda Chaves se mudou do Rio de Janeiro para Madri em 2021, ano em que viveu, pela primeira vez, as festas de fim e início de ano no estilo espanhol.
Fernanda Chaves se mudou do Rio de Janeiro para Madri em 2021, ano em que viveu, pela primeira vez, as festas de fim e início de ano no estilo espanhol. © Arquivo Pessoal

Doce surpresa

Fernanda Chaves se mudou do Rio de Janeiro para Madri em 2021, ano em que viveu, pela primeira vez, as festas de fim e início de ano no estilo espanhol. Para a carioca, o clima frio e a super decoração madrilenha dão a sensação de viver um Natal “de filme”. Ao mesmo tempo, ela diz que o calor humano do Brasil fez falta na hora de festejar. Tanto que, neste ano, ela voou para a cidade maravilhosa para virar o ano ao lado da família. 

Mas, antes de ir, aproveitou para comer uma sobremesa tipicamente espanhola: “Eu comi o ‘roscón’ de Reis. Eu comi desde novembro este doce típico e pra mim é o melhor que tem de natal na Espanha. Inclusive, eles começaram a vender este ano já em agosto. Como eu já sabia que viria para o Brasil, queria comer antes”.

O “roscón de reyes” é consumido, principalmente, nos festejos de reis, entre o dia 5 de janeiro e o dia 6, que é a data propriamente dita. Além de ser feito em um formato que faz referência a uma coroa, o doce também vem, literalmente, recheado de símbolos. É tradição que, na parte de dentro do roscón, sejam postas figuras, estatuetas em miniatura. Uma fava também costuma ser inserida na sobremesa. Neste caso, com um objetivo específico.

Representante de uma das confeitarias mais icônicas de Madri, “La Mallorquina”, que tem mais de 128 anos de história, José Laguna detalha que, tradicionalmente, deve-se colocar um pequeno ornamento ou um símbolo dentro do ‘roscón’. Algumas pessoas até põem dinheiro e a imagem da fava. A função que tem é a de que quem cortar o pedaço de ‘roscón’ com a fava tem que pagar pelo doce. Alegra as pessoas, especialmente as crianças. Isso as deixa felizes quando cortam o ‘roscón’ e (dizem) ‘ah, eu tenho a estatueta’. É uma coisa engraçada”.

Letícia se mudou de São Paulo para Madri há 4 anos. Na casa em que vivem ela, o marido, Guilherme, e os dois filhos, Lucas e Stella, o costume de presentear em dia de reis já virou tradição.
Letícia se mudou de São Paulo para Madri há 4 anos. Na casa em que vivem ela, o marido, Guilherme, e os dois filhos, Lucas e Stella, o costume de presentear em dia de reis já virou tradição. © Divulgação

Presente duplicado

Comer o roscón não é a única tradição do dia dos reis magos. Na Espanha, a data é levada muito a sério e há quem diga que o ano só começa depois do dia 6 de janeiro. Algumas instituições, inclusive, fecham as portas de antes do Natal até depois da celebração de reis. 

Nas ruas de Madri, um desfile que acontece no dia 5, também chamado de cavalgada de reis, atrai milhares de espectadores. Outra característica desta data é que muitas crianças recebem presentes. Segundo a tradição, assim como se pede ao papai Noel, se pode pedir a Baltazar, Gaspar e Melchior.

Letícia Pereira se mudou de São Paulo para Madri há 4 anos. Na casa em que vivem ela, o marido, Guilherme, e os dois filhos, Lucas e Stella, o costume de presentear em dia de reis é seguido à risca. “Acho que a tradição que a gente introduziu aqui foi essa questão de comemorar os reis, né? Que as crianças colocam leite, biscoitinho, debaixo da árvore, deixam a cartinha antes”, diz.

Com a manutenção da entrega de presentes feita também pelo Papai Noel, o período de festas está saindo mais caro. “O bolso sentiu um pouco, porque a gente compra o presente e eles abrem no dia 6. Os amiguinhos da escola perguntam, quando voltam das férias, o que eles ganham de reis. Então foi uma coisa que a gente quis integrar até para eles também se sentirem parte da comunidade aqui, né? Mas, como, no Brasil, os primos também ganham presente do Papai Noel, a gente tinha que dar um jeito. Então a gente fez um pouco isso, eles fazem cartinhas para os dois. Este ano, eles fizeram cartinha. Uma só. Eu falei ‘faz uma só endereçada para Papai Noel e Reis’ para facilitar a vida”, relembra rindo.

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