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Os 400 anos de Molière vistos do Brasil

Liceu Molière do Rio é um dos embaixadores da obra do dramaturgo francês no mundo

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Em todo o mundo, existem cinco escolas que levam o nome de Molière, sinônimo da língua francesa. Uma delas está localizada no Rio de Janeiro e comemora este ano 40 anos de existência.

Festa no Lycée Molière do Rio de Janeiro no dia da Francofonia.
Festa no Lycée Molière do Rio de Janeiro no dia da Francofonia. © Lycée Molière/Hélène dê Reymaeker
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Molière, que escreveu várias peças com a palavra “mulher” no título, gostaria da história. Dizem que as crianças do maternalzinho da escola francesa do Rio de Janeiro, por uma aproximação fonética, falam que estudam no “Liceu Mulher”, mas logo que aprendem a ler e a contar sabem a lição de cor. “Molière era um dramaturgo que escreveu peças de teatro. O nome verdadeiro dele era outro: Jean-Baptiste Poquelin”, recita Madeleine, aluna do ensino fundamental.

O Lycée Molière do Rio de Janeiro faz parte da Agência de Ensino Francês no Exterior (AEFE) e é uma das quatro escolas da rede no Brasil. Ele foi fundado em 1982, segue a metodologia francesa e é bilíngue, português-francês, do maternal ao último ano do ensino médio. E fazendo jus ao nome, oferece aulas de teatro. Todos os alunos são preparados para fazer o BAC, o Enem francês, que abre o caminho para uma vaga em universidades francesas.

“O nosso interesse é ter excelentes resultados nos concursos, principalmente no BAC. Temos níveis excelentes todos os anos, com 99% de aprovação”, informa, não sem orgulho, o atual diretor Victor Irrmann.

Victor Irrmann, diretor do Lycée Molière do Rio de Janeiro.
Victor Irrmann, diretor do Lycée Molière do Rio de Janeiro. © Lycée Molière/Hélène dê Reymaeker

Nessas quatro décadas, o Lycée Molière formou várias gerações principalmente de filhos de franceses expatriados ou binacionais. Mas com o passar do tempo o perfil dos estudantes começou a mudar. Atualmente, a escola recebe 850 alunos e a cada dia que passa o número de franceses diminui. “Com a crise econômica e a crise da Covid, os expatriados têm tendência a voltar para a França, é um movimento. Hoje é equilibrado. No ensino fundamental, um em cada dois alunos é brasileiro. São famílias que não têm nenhum laço familiar com a França”, detalha o diretor.

O analista de sistema Sômulo Mafra é um desses brasileiros que fez a escolha pelo Molière para o filho. “Escolhi por causa da francofonia. Eu acho que a cultura francesa tem uma relação histórica com o Brasil, sobretudo com a minha cidade, São Luís, a única cidade fundada pelos franceses”.

Sômulo Mafra (direita), pai de aluno do Lycéé Molière do Rio de Janeiro.
Sômulo Mafra (direita), pai de aluno do Lycéé Molière do Rio de Janeiro. © Lycée Molière/Hélène dê Reymaeker

Mas o aumento do número de alunos 100% brasileiros é fonte de preocupação para os pais franceses que temem a queda da qualidade do ensino, principalmente da língua. “A gente tem uma escola no Rio que é excelente, mas uma questão de vários franceses é manter a qualidade dos estudos para os filhos”, expõe Julie Brancante. Por isso, “um dos eixos do liceu é a coeducação” indica o diretor. A escola incita os pais a aprender o francês na Aliança Francesa para poderem “acompanhar um pouco os estudos dos filhos”.

Escola de elite ou de excelência?

O Lycée Molière é uma escola paga. A mensalidade varia de R$ 3.500 a R$ 4.100, dependendo da idade e do número de filhos inscritos. Apesar do preço, ex-alunos, pais, professores e diretor garantem que o Molière não é uma escola de elite.

Muitos alunos franceses, assim como os filhos dos funcionários técnicos, têm bolsa de até 100% do valor da mensalidade financiadas pelo governo da França ou pela escola.

“Eu queria uma escola de excelência, mas a maioria das nossas escolas de excelência no Rio são de elite. Ao mesmo tempo, eu queria que meu filho tivesse um pouco mais de diversidade, seja diversidade social, seja cultural. É um mito achar que todos os franceses são ricos”, diz Sômulo Mafra.

40 anos de Lycée/400 anos de Molière

Toda essa história está sendo especialmente lembrada agora. A escola aproveitou o Dia da Francofonia, em março, para festejar a língua francesa e lançar as comemorações pelos 40 anos do Lycée e pelos 400 anos de Molière, o patrono do lugar.

A apresentação em francês de duas peças do dramaturgo coroou as festividades. Os alunos do ensino médio da opção teatro encenaram versões contemporâneas do “L’Avare” (O Avarento) e das “Les femmes savantes” (As Sabichonas). As adaptações foram encomendadas a autores francófonos pela Comédie Française, conhecida como a casa de Molière, para marcar os 400 anos do dramaturgo.

Entre os dez textos propostos, os alunos do Lycée Molière escolheram “Debout, les carrottes” (Avante, cenouras), paródia de Laurent Van Wetter para “Les femmes savantes” ridicularizando os excessos do veganismo e da reciclagem; e a adaptação de “O Avarento”, de Guillaume Corbeil, que parodia os excessos do capitalismo.

A direção do espetáculo ficou a cargo dos professores Alain Alberganti e Laurent Desbois. “Eu acho que Molière merceia pelo menos uma homenagem e era interessante ter peças modernas dele para mostrar que as temáticas que ele tratava ainda são universais, atemporais”, diz Laurent Desbois que trabalha na escola desde 2002. O professor de teatro detalha que as versões contemporâneas “sempre têm réplicas originais e são uma forma para os alunos lerem as peças originais”.

Professores de teatro do Lycée Molière, Laurent Desbois et Alain Alberganti
Professores de teatro do Lycée Molière, Laurent Desbois et Alain Alberganti © Lycée Molière/ Clara Faccion Santos

Théo Milon, aluno do terceiro ano do ensino médio, viveu Harpagon, o personagem principal de “O Avarento”. “Foi uma honra fazer o Harpagon, um personagem único, com uma personalidade forte”, afirma o jovem.

Filho de mãe brasileira e pai franco-brasileiro, ele se iniciou nas artes cênicas no Lycée, gostou tanto que hoje também estuda no Tablado, uma das principais escolas de teatro do Rio. “O Avarento” foi sua primeira experiência com Molière. “É o meu primeiro Molière e uma versão bem moderna, bem divertida. Atualizar uma peça que é bem antiga ajuda bastante, não só para quem está assistindo, mas também para nós atores, para entender melhor como funciona”, acredita Théo Milon.

As comemorações pelos 40 anos do Lycée carioca e os 400 anos de Molière vão continuar durante todo o ano, inclusive com apresentações de “Avante, cenouras” e “O Avarento” em outros locais do Rio de Janeiro e a montagem de duas novas versões contemporâneas de peças do dramaturgo francês.

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