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Rendez-vous cultural

Artista venezuelana Oleñka Carrasco reflete sobre o luto e o exílio em exposição em Arles

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“Patria” é uma exposição sobre o luto e sobre o exílio, um discurso reflexivo sobre a perda e a distância. A artista venezuelana Oleñka Carrasco, baseada em Paris há 20 anos, é um dos destaques do festival Encontros de Arles deste ano.

Imagem de Patria, de Olenka Carrasco.
Imagem de Patria, de Olenka Carrasco. © Olenka Carrasco
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Patrícia Moribe, enviada especial a Arles

 

Em 9 de junho de 2020, com o mundo em plena pandemia, Carrasco recebe a notícia da morte do pai, na Venezuela. A artista se vê não só diante de uma dor imensa como também é obrigada a revisitar memórias e a dura realidade do país de onde veio.

“É um projeto que fala principalmente de laços, em vários graus”, conta a artista. “Eu começo com o núcleo mais íntimo possível, junto à minha família, minha mãe, ao meu pai. Depois, em uma camada mais externa, mas sempre com uma forte ligação, ou seja, onde nasci, ou melhor, o local de minhas origens.”

 

Imagem da exposição de Olenka Carrasco em Arles (3/7/23).
Imagem da exposição de Olenka Carrasco em Arles (3/7/23). © Patricia Moribe

 

“Patria” traz memórias da artista em fotos “vintage”, trocas de mensagens e vídeos com o irmão, na Venezuela, textos e imagens. “Quando uma pessoa morre, continuamos a ter esse laço, ela permanece viva. Como viver, construir, manter esse laço, estando longe? Eu não me dei conta imediatamente que, ao começar esse questionamento, eu abria algo mais amplo. Ou seja, o laço mais complexo com o meu país de origem, a Venezuela”.

Mesmo diante do choque da notícia da morte do pai, Oleñka precisou deixar a dor de lado e ajudar a resolver uma questão urgente. Era preciso juntar imediatamente US$ 800 para providenciar o enterro do pai. “Isso num país onde tudo é dolarizado e o salário-mínimo é de um dólar por mês”, relata. Ela se deu conta que “não morremos do mesmo modo em todo o mundo, a morte na Venezuela é muito burocrática e complexa”.

"Casa emprestada para um luto"

Oleñka passou um tempo em lock down fora de Paris, na casa de infância do companheiro. E foi nesse período que ela mergulhou no projeto, tentando escrever, tirando fotos de objetos que não eram da sua vivência, mas que podiam fazer um paralelo com a casa onde vivera na Venezuela. Ela utilizou um processo corrosivo em algumas imagens, apagando e transformando o original, a memória.

 

A artista venezuelana Olenka Carrasco apresenta a exposição "Patria", em Arles (3/7/23).
A artista venezuelana Olenka Carrasco apresenta a exposição "Patria", em Arles (3/7/23). © Patricia Moribe

 

“Eu estava em uma casa que não era meu espaço habitual, era a casa de outra pessoa. Mas coloquei isso também em questão para me reconstruir”, conta. “Eu tinha uma espécie de bloqueio que me impedia de escrever. Acho que a dor era tanta que me impedia de usar palavras. Então eu trabalhava em silêncio e a fotografia me permitiu, de maneira ideal, coletar os espaços, as bolhas de tempo. Eu olhava um objeto e pensava em algo que pudesse corresponder ao que tinha na minha casa na Venezuela. Então comecei esse exercício de coletar, guardar. Depois fui desbloqueando, voltando a escrever. Revelei o negativo, pois trabalho principalmente com película, e comecei a juntar palavras e imagens. E compreendi que estava fazendo uma espécie de narração poética do luto que estava vivendo.”

 

Exposição "Patria", de Olenka Carrasco, em Arles (3/7/23).
Exposição "Patria", de Olenka Carrasco, em Arles (3/7/23). © Patricia Moribe

 

Em 2022, Oleñka apresentou seu projeto, então batizado de “Maison prêtée pour um deuil” (Casa emprestada para um luto) nas leituras de portefólio de Arles. Com o prêmio de melhor projeto, Oleñka Carrasco volta a Arles em 2023 com a exposição, que virou “Patria” e um livro de memórias e reflexões.

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