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Planeta Verde

Prefeitura estuda como Paris pode "coabitar" com ratos e busca soluções não-letais para infestação

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Para além dos clichês que já transformaram os ratos de Paris até em estrelas de cinema, a prefeitura da capital francesa abriu um comitê de trabalho para avaliar como a cidade pode “coabitar” com os roedores – sem, necessariamente, exterminá-los. O governo municipal acatou uma demanda antiga de protetores de animais, que pedem que outras alternativas sejam adotadas antes da solução fatal.

Um rato corre ao lado de uma estátua de Maillol nos jardins de Tuileries, em frente ao Museu do Louvre em Paris, França. (29 de julho de 2014)
Um rato corre ao lado de uma estátua de Maillol nos jardins de Tuileries, em frente ao Museu do Louvre em Paris, França. (29 de julho de 2014) AP - Francois Mori
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Nos metrôs, nas calçadas, nos parques e jardins, mas por vezes até sob a mesa em um restaurante: os ratos e camundongos fazem parte do cotidiano de Paris, principalmente nos bairros mais frequentados pelo turismo de massa, como Montmarte, Notre-Dame ou Torre Eiffel. Onde há gente, há comida, ao ponto que os roedores não temem mais sair à luz do dia em busca dos restos de alimentos deixados pelos humanos nas lixeiras ou em plena rua. Aos milhares, eles trocaram os esgotos por tocas abertas nos jardins parisienses, onde ficam mais próximos de fontes de alimentação.

Os estudos sobre a população do animal são inconclusivos, mas a Academia Nacional de Medicina aponta que haveria entre 1,5 e 1,75 rato para cada humano residente na cidade, um índice semelhante ao encontrado em qualquer grande metrópole mundial, como Nova York ou Londres, ou até dentro da própria França, a exemplo de Marselha. Nos últimos anos, porém, vereadores parisienses da direita e subprefeitos de alguns distritos denunciam que Paris permitiu a proliferação dos roedores e que nunca houve tantos circulando, inclusive de dia, como hoje. Moradores chegam a organizar grupos voluntários para instalar ratoeiras nas saídas das tocas ou gelo seco, CO2 concentrado que asfixia os animais durante o sono.

Em uma reunião no começo de junho, o subprefeito do 17º distrito, Geoffroy Boulard, cobrou da prefeita socialista Anne Hidalgo “um plano mais ambicioso contra a proliferação dos ratos”. A secretária municipal de Saúde, a ecologista Anne Souyris, respondeu que “a questão da coabitação está colocada”.

“O principal desafio é limitar a reprodução dos ratos e a quantidade deles. Depois, o que devemos fazer quando há ratos em lugares específicos e que nos incomodam, como nas casas, nos comércios ou restaurantes. Mas nos espaços urbanos, como parques e jardins, nós avaliamos que não é muito grave”, disse Amandine Sanvisens, presidente a organização protetora Paris Animaux Zoopolis, que vai participar das discussões. “Devemos aceitar o fato de que há animais numa cidade: assim como as pombas, tem os ratos”, avalia.

Morte depois de quatro dias de sofrimento

As soluções de controle adotadas até agora incluem lixeiras fechadas – mas que só representam 10% do total – e ratoeiras químicas espalhadas pelos locais mais críticos. O veneno utilizado, um anticoagulante que provoca hemorragias internas e mata o animal em quatro dias, é criticado por organizações como Paris Animaux Zoopolis tanto pela crueldade, quanto pela ineficiência.

“Nós temos animais que podem incomodar os humanos e por causa disso, nós fazemos eles sofrerem e os matamos em massa. E quando mortes assim acontecem, a reação é que eles se reproduzem ainda mais”, comenta Sanvisens. “Temos solução para coabitarmos juntos para que, de um lado, a gente não fique incomodado e, de outro, eles não sofram. Nós não queremos que ninguém tenha que viver com os ratos, mas queremos que uma reflexão seja colocada sobre as políticas públicas atuais, porque elas não funcionam.”

A associação espera que a França utilize contraceptivos orais para os ratos, a exemplo dos que são usados para controlar as populações de pombas. Washington já experimenta um produto, cuja eficácia ainda não foi comprovada.

Risco sanitário seria limitado, alega prefeitura

Quanto aos riscos sanitários, a secretária municipal da Saúde argumentou que a presença visível dos roedores não representaria “um problema de saúde pública”. Souyris alegou que as contaminações por leptospirose, doença mortal transmitida pela mordida de ratos ou pelo contato com a urina contaminada, seriam limitadas e atingiriam sobretudo os coletores de lixo. Os profissionais, ressaltou, “podem tomar vacina” contra a infecção.

“Mesmo assim”, frisou a secretaria, “não devemos deixar os ratos passeando na cidade”, afinal quanto maior o número de animais, mais elevado é o risco de transmissão de um total de sete doenças que eles podem passar para os humanos – incluindo ainda salmonela, gastroenterite e febre hemorrágica.

Amandine Sanvisens, da ONGs francesa, afirma que a simples melhora da limpeza urbana e dos horários de passagens dos caminhões de lixo, antes do cair da noite, já seriam suficientes para reduzir a presença dos roedores nas ruas.

“No Ocidente, nós temos claramente um problema cultural com os ratos. Na história, guardamos a imagem de que eles nos transmitiram a peste etc. Em outras sociedades, porém, pode ser bem diferente”, observa a ativista. “Na Índia, alguns ratos são adorados, como no templo de Deshnok. E mesmo aqui, quando nós fazemos manifestações e distribuímos folhetos de sensibilização, constatamos que as pessoas não querem a presença de ratos, mas também preferiam que eles não tivessem que sofrer.

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