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O Mundo Agora

Covid-19: apesar de flexibilização, China irá demorar para voltar à normalidade

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Manifestações baseadas em conspirações e fantasias acabam se tornando folclóricas quando pacíficas e lamentáveis quando prejudicam o bem-estar da maioria, mas quando embasados na realidade, sensatez e senso de justiça, há vezes que protestos funcionam. Na China, as manifestações contra a política de “Covid Zero” no país acabaram por gerar alguma flexibilidade que, comparado ao que era, melhora muito a vida da maioria da população.

Moradores nas ruas de Pequim após a reabertura de um shopping center da capital, no dia 4 de dezembro de 2022, devido à flexibilização da política de Covid Zero" na China.
Moradores nas ruas de Pequim após a reabertura de um shopping center da capital, no dia 4 de dezembro de 2022, devido à flexibilização da política de Covid Zero" na China. AP - Andy Wong
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Thiago de Aragão, analista político

Passados três anos desde seu início, a Covid ainda é um problema grave na China. Milhões de idosos não estão vacinados e, caso peguem o vírus, representariam uma pressão desproporcional no sistema de saúde do país. Em Taiwan, por exemplo, a taxa de mortalidade se mantém na faixa dos 0.2% da população. Se esse mesmo percentual existisse na China continental, o número de mortes ficaria na casa dos milhões.

Sun Chunlan, o estrategista-chefe do Partido Comunista Chinês no combate à Covid (uma espécie de Dr. Fauci chinês), foi quem desenhou e convenceu Xi Jinping de que a política de “Covid Zero” era a única alternativa para impedir o colapso do sistema de saúde e impedir milhões de mortes. Assim, à medida que casos eram descobertos em determinadas regiões, o lockdown de um complexo residencial, bairro ou cidade, se tornava a alternativa escolhida pelo governo chinês. Isso levou a milhões de habitantes - mais de 140 milhões em determinados momentos - a estarem sob lockdown por semanas ou meses, dependendo da região.

Flexibilização decidida a portas fechadas

A flexibilização dessa política foi decidida a portas fechadas, após protestos em diversas cidades do país. O ponto de ebulição foi um incêndio na cidade de Urumqi. Por conta de um lockdown que focava na manutenção do trabalho, trabalhadores estavam trancados em uma fábrica do município e morreram em um incêndio, sem a possibilidade de sair do local e se salvarem.

Em seguida, os protestos contra as rígidas medidas restritivas se iniciaram em Urumqi, Shenzhen, Xangai e outras cidades, colocando uma pressão grande em cima do governo. A portas fechadas, Xi Jinping reconheceu que o atual formato do "Covid Zero", não era mais sustentável, dada a exaustão coletiva da sociedade.

Como sempre, quando há um protesto na China, a imprensa Ocidental corre para especular o início de uma versão chinesa da "Primavera Árabe", ou tentar identificar algum tipo de rebelião contra o Partido. Não é o caso. Apesar de protestos efusivos e corajosos em Xangai diretamente contra Xi Jinping e pedindo a renúncia do presidente, o foco principal dos protestos se baseia na "Covid Zero" e não na busca por democracia ou pelo fim do Partido Comunista Chinês.

Campanha de vacinação

Após ser reeleito para um terceiro mandato, Xi sabe que entrará na fase mais complexa de seu governo a partir do ano que vem. Se por um lado o afrouxamento da "Covid Zero" é bem-vindo, por outro, há uma necessidade gritante de uma ampla campanha de vacinação em idosos. Milhões não estão vacinados o suficiente para evitar a ômicron.

Olhando além do problema da Covid, Xi Jinping sabe que o crescimento econômico chinês é de suma importância para manter a ordem e a confiança da população no partido. As expectativas otimistas para 2023 giram em torno de uma taxa de 5.5%. No entanto, a flexibilização da "Covid Zero", sem uma campanha pesada de vacinação, poderá diminuir essa expectativa pela metade.

Na China, a imagem do país para o mundo e do mundo para a população chinesa é de grande importância para o Partido. Assim, até a transmissão da Copa do Mundo se tornou um problema. Para que o telespectador chinês não percebesse que o mundo já superou (em grande parte) a Covid, a imagem da plateia nos estádios está sendo vetada pela TV chinesa. Enquanto a preocupação maior for em cima da percepção das pessoas ao invés de combater estrategicamente o vírus com vacinas, a China irá demorar muito para voltar a sua normalidade.

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