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O Mundo Agora

Política externa de terceiro mandato de Lula será diferente de anteriores

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A vitória de Lula marcará uma grande mudança na política externa brasileira. Durante o governo Bolsonaro, houve uma tentativa de reposicionar o Itamaraty dentro de uma lógica de inserção global pensada a partir dos pensamentos do guru bolsonarista Olavo de Carvalho, morto este ano. O ex-chanceler Ernesto Araújo não conseguiu executar um trabalho relevante e, com o tempo, acabou substituído pelo competente Carlos França. 

A partir de 2023, Lula não promoverá uma política externa nos mesmos moldes anteriores. Certamente o relacionamento com países com governos à esquerda será forte e relevante.
A partir de 2023, Lula não promoverá uma política externa nos mesmos moldes anteriores. Certamente o relacionamento com países com governos à esquerda será forte e relevante. © Rovena Rosa/Agência Brasil
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Thiago de Aragão, analista político

Durante seus primeiros dois governos, Lula deixou muito claro que a regência da política externa brasileira estava mais a cargo do Partido dos Trabalhadores do que do Executivo. A política externa "bicéfala" de Lula contava com Celso Amorim liderando a partir do Itamaraty e com Marco Aurélio Garcia, de dentro do Palácio, agindo como o "chanceler de fato" do governo Lula. 

Em 2004, era claro o posicionamento de Lula em ter o PT influenciando com tanta força a política externa nacional. Afinal, o objetivo central era manter o partido ocupado com outro tema e que não tivesse influência direta no Ministério da Fazenda. Isso gerou uma situação um pouco paradoxal, principalmente a partir dos olhos de estrangeiros: se por um lado havia pragmatismo a partir do Ministério da Fazenda, na política externa o posicionamento mais ideológico era mais detectável. 

A partir de 2023, Lula não promoverá uma política externa nos mesmos moldes anteriores. Certamente o relacionamento com países com governos à esquerda será forte e relevante. Na região, veremos um diálogo mais sólido com Argentina, Venezuela, Chile, Peru entre outros países.

Diferente do primeiro governo Lula, o BNDES não deverá ter o papel de linha auxiliar na política externa. Naquela época, o banco de fomento era uma peça instrumental na busca por influência e liderança na região. As controvérsias envolvendo empréstimos à Cuba, Venezuela e Bolívia devem pressionar o governo a manter o banco com um papel mais doméstico. 

Relações com os EUA e a China

O relacionamento com os EUA será melhor no âmbito presidencial, já que Lula e Joe Biden poderão iniciar do zero a relação. Importante ressaltar que o volume das relações Brasil-EUA é grande e contínuo, independentemente da postura entre presidentes. Geralmente, os principais acordos entre os dois países correm de uma forma tranquila nos níveis burocráticos. 

Com a China, certamente teremos uma relação mais amigável no âmbito público. O relacionamento entre o PT e o Partido Comunista Chinês é antigo, com frequentes intercâmbios. Isso facilitará o diálogo nesse nível e trará uma aura de boa vontade para as relações entre Brasil e China no âmbito presidencial.

A China mantém interesse em investir mais no Brasil e, principalmente, oferecer linhas de crédito para o governo federal, focando em projetos de infraestrutura. É de se esperar que, assim como aconteceu nos governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, o Brasil continuará recusando essas linhas de crédito, a fim de não gerar uma dependência financeira a partir da já existente dependência comercial. 

OCDE e Mercosul

Em relação a alguns objetivos macro da política externa brasileira, o governo de Lula não irá mudar 180 graus. O ingresso na OCDE deve seguir em frente, apesar de ter ganhado protagonismo durante o governo Bolsonaro.

O acordo entre Mercosul e União Europeia deverá ser ratificado pelos países membros do bloco europeu. A política ambiental, tão importante para a comunidade internacional, será um componente importante da narrativa de Lula, principalmente dentro do objetivo de melhorar as relações com os europeus.

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