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O Mundo Agora

Entenda por que a estratégia ‘Covid zero’ gera incertezas na economia chinesa e no futuro de Xi Jinping

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A relação entre a China e a Covid parece estar longe de acabar. Precipitadamente, o governo chinês proclamou vitória contra a doença em meados de 2021, enquanto outros países ainda travavam suas trágicas batalhas. Hoje, o mundo parece mais próximo da normalidade, com restrições sendo retiradas e a vida como conhecemos até 2019, voltando aos poucos. 

Moradores de Pequim sendo estados contra a Covid-19 em 25 de abril de 2022.
Moradores de Pequim sendo estados contra a Covid-19 em 25 de abril de 2022. AFP - JADE GAO
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Thiago de Aragão, de Washington

Na China, por outro lado, a situação anda complexa. Após dois meses de lockdown, Xangai finalmente teve medidas de restrições sanitárias retiradas e a vida começa a voltar ao normal na maior cidade chinesa. Isso não trouxe tranquilidade. A possibilidade de um lockdown em Pequim ainda segue viva, com focos de contaminação em dois importantes bairros da capital chinesa.

Se Xangai está sendo tratada como uma vitória do Partido Comunista Chinês (PCC) contra o vírus, os impactos do lockdown representam o mais duro golpe tomado pela China no ano de 2022. As vendas de varejo caíram 11% em relação ao ano anterior e a atividade industrial sofreu um baque. 

O lockdown de Xangai desencadeou uma série de acusações e constrangimentos dentro do PCC, fazendo com que Xi Jinping exerça ainda mais sua autoridade em relação aos representantes locais do partido. Seu número 2, Li Keqiang, que deverá se aposentar ao fim do ano, vem se colocando cada vez mais como um antagonista de Xi dentro do partido. Naturalmente, isso não é bradado aos quatro cantos, mas as críticas de Li Keqiang contra a política de 'Covid zero', incomodam Xi Jinping na medida que o Congresso do Partido se aproxima. 

Se por um lado a abertura de Xangai é um alívio, a possibilidade de fechamento de Pequim causa tremores. O impacto psicológico de 2 meses de confinamento total em Xangai afetou fortemente moradores de outras grandes cidades, que passaram a temer destinos semelhantes. As desavenças internas do PCC, acentuadas a partir do lockdown de Xangai, seriam ainda maiores com uma medida similar aplicada em Pequim. 

Preocupação com a economia

A política de 'Covid zero', sempre foi uma das bandeiras nacionais e internacionais de Xi Jinping. Essa política vem sendo aplicada há dois anos e 4 meses e os resultados são mistos. Se por um lado, Xi afirma que sem essa política, a Covid teria se alastrado pelo país de uma forma similar ao que foi vista na Europa, EUA e Brasil, por outro lado há críticas crescentes em relação à eficácia de medidas de confinamento total a partir de poucos casos. 

Se a Covid é um problema de curto prazo, o que preocupa a médio e longo prazos é a economia. O crescimento esperado pelo governo chins para esse ano gira em torno de 5,2% (maior que os 2,3% de 2020, mas menor que 2019, 2018 e 2017 em diante), apesar de analistas independentes registrarem um crescimento por volta de 4%, na melhor das hipóteses. A expansão da economia chinesa em 2022 será de apenas 2%, colocando a superpotência asiática atrás dos EUA pela primeira vez desde 1976, quando Deng Xiaoping estava liderando o país. 

Xi Jinping deverá ser reconduzido a um terceiro mandato no final deste ano. Não há nomes fortes o suficiente para disputar contra ele. Mesmo assim, o presidente terá em 2023 desafios complexos. A economia, que sempre foi o motor e a engrenagem da estabilidade social, estará patinando e precisará de medidas de abertura econômica para trazer de volta o crescimento. Resta ver se Xi estará disposto a descentralizar as decisões para agilizar a retomada. 

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