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Linha Direta

Começa em Bruxelas megajulgamento que vai mostrar os bastidores do tráfico de cocaína na Europa

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Esta terça-feira (19) marca o segundo dia de julgamento de um megaprocesso por tráfico de drogas na Bélgica, que inclui 125 réus de 15 nacionalidades. Grande parte da droga é embarcada no Porto de Santos, no estado de São Paulo, no Brasil. Conhecido como processo Encro - por causa da decodificação dos sistemas Encrochat e Sky ECC, usados quase que exclusivamente por gangues de criminosos – o julgamento será o maior já realizado no país e durar durante meses.

Contêineres armazenados nas docas do Porto de Antuérpia, na Bélgica. Esta é uma das principais portas de entrada de drogas na Europa. Em 17 de janeiro de 2018. Imagem ilustrativa
Contêineres armazenados nas docas do Porto de Antuérpia, na Bélgica. Esta é uma das principais portas de entrada de drogas na Europa. Em 17 de janeiro de 2018. Imagem ilustrativa EMMANUEL DUNAND / AFP
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Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

Os primeiros réus ouvidos foram os supostos líderes do tráfico de cocaína em larga escala; entre eles, o albanês Eridan M.G., 50 anos, considerado o principal suspeito, que admitiu ter se envolvido no transporte de cocaína, mas afirmou que o fez para pagar dívidas e ganhar sua vida. “Fui chefe de uma organização criminosa, participei do tráfico de drogas. Joguei e perdi”, reconheceu; mas segundo ele, seu tráfico não atingiu a escala de milhões de euros alegada pelo Ministério Público Federal.

Além disso, de acordo com a Justiça belga, conversas na rede Sky ECC mostraram que o réu usava quatro pseudônimos e mantinha contato com criminosos mexicanos que controlavam o porto colombiano de Turbo e que podiam fornecer grandes quantidades de drogas.

Cocaína embarcada no Porto de Santos

O maior julgamento criminal da história do país que vai colocar 125 pessoas e quatro empresas no banco dos réus deve durar pelo menos cinco meses e deverá mostrar como são os bastidores do tráfico de cocaína na Europa.

Este megaprocesso é resultado de investigações que começaram em 2020, quando as polícias francesa e holandesa interceptaram mensagens da rede de comunicação EncroChat, supostamente usada por membros de gangues para planejar suas ações criminosas. Logo depois, a polícia belga descobriu a rede telefônica criptografada Sky ECC e os investigadores tiveram acesso a muitas informações adicionais. Desta maneira, em 2021, a Polícia Judiciária Federal de Bruxelas conseguiu desmantelar uma rede de organizações criminosas no tráfico de cocaína entre a América do Sul e a Europa, e de cannabis entre o norte da África e a Europa.

As drogas transportadas em contêineres vindos do porto de Santos, no Brasil, do Marrocos ou em jatos particulares teria sido reembalada em laboratórios belgas, antes de serem enviadas a vários países europeus. O Porto de Santos tem sido explorado clandestinamente por narcotraficantes que inserem toneladas de cocaína em contêineres que são embarcados em navios cargueiros para a África e Europa; a droga vem de três países produtores: Colômbia, Peru e Bolívia.

Narcotráfico faz violência explodir em Bruxelas

Em Bruxelas, a violência ligada ao tráfico de drogas explodiu. Atualmente, o acerto de contas entre traficantes pode acontecer mesmo nos bairros nobres da capital belga.

Há dez dias, cinco pessoas ficaram feridas em um tiroteio em uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Segundo as autoridades judiciais, muitas organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas têm uma base em Bruxelas, em particular as máfias albanesas. “Aqui na Bélgica os clãs albaneses com ligações italianas e francesas são responsáveis pela preparação da cocaína para consumo interno ou para exportação para o resto da Europa, enquanto os clãs marroquinos são mais focados na cannabis. Temos também um pouco de crack e heroína, mas em menor quantidade”, explica a comissária nacional para as drogas, Ine Van Wymersch.

A Bélgica se tornou um dos países europeus mais violentos por crimes com armas de fogo e esta inquietante espiral de violência está ligada ao narcotráfico. Na verdade, não é incomum que os traficantes acertem as contas com armas de guerra como fuzis Kalachnikov AK-47 ou M16 em plena luz do dia.

Para as gangues de traficantes, defender o território é fundamental. “O território vale muito dinheiro em Bruxelas. É realmente uma guerra entre grupos rivais para ocupar o máximo de terras possível, porque eles ganham muito dinheiro”, explica o diretor da Polícia Judiciária Federal de Bruxelas, Eric Jacobs.

Antuérpia, principal entrada da cocaína na Europa

A Antuérpia, cidade portuária do norte da Bélgica, é uma das principais portas de entrada de drogas na Europa. O seu porto, considerado o segundo maior do continente, só perde para o de Rotterdam, na Holanda, e oferece muitas vantagens aos traficantes; por ser imenso – do tamanho da cidade de Paris – é difícil de monitorar.

Além da localização central na Europa, há também o tamanho da Bélgica: em menos duas horas você está em outro país, onde a droga será consumida. O porto da Antuérpia é “uma rota histórica de transporte de frutas da América Latina para a Europa e estas frutas são recebidas em terminais refrigerados”, explica a porta-voz do Serviço de Finanças Públicas da Bélgica, Florence Angelici. São milhões de contêineres através do Oceano Atlântico todos os anos que são usados pelos narcotraficantes para esconder a cocaína que será consumida na Europa.

Para se ter uma ideia da dimensão gigantesca do tráfico, autoridades belgas acreditam que nada menos do que 1 mil toneladas de cocaína chegaram ao porto da Antuérpia no ano passado, apenas 110 toneladas foram apreendidas.

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